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Encontre o (a) Santo (a), Beato (a), Venerável ou Servo (a) de Deus

sábado, 29 de abril de 2017

Beata Emília Bicchieri, Virgem Dominicana (Ordem Terceira Regular).



Na bela basílica catedral de Santo Eusébio, entre os muitos santos e beatos cujos restos mortais ali sepultados, encontram-se os da Beata Emília Bicchieri, zelosamente guardados, personagem que deu início à Terceira Ordem Regular de São Domingos. A Ordem Terceira Dominicana Regular é composta por comunidades religiosas, vinculadas por força de votos à Regra da Ordem Terceira, sendo mais “suave” que a Regra da Ordem das religiosas dominicanas, permitindo às irmãs dedicarem-se a obras de caridade.
Emília nasceu em Vercelli, Itália, em 1238, quarta filha de sete irmãs, filha de Ghibellino Pietro Bicchieri e Patrícia Bicchieri, de família muito rica. Seus piedosos pais sempre tiveram cuidado de educar piamente sua numerosa prole.
A pequena Emília, simples e alegre, mostrou-se sempre, desde pequena, com inteligência bem acima da de sua idade. Ela odiava conversas vãs e seu maior prazer era retirar-se na solidão de seu quarto para conversar com Deus. Muitas vezes ouvia-se sua voz bela e musical pela casa, cantando com graça e devoção os Salmos.
Bem cedo perdeu sua mãe, porém, seu pai conduziu a criação dos filhos com muito amor e prudência, cativando o respeito, admiração e reverência deles. Seu grande amor que nutria pelo pai e, em contrapartida, do pai por ela, foi o maior obstáculo que teve que superar quando sentiu em seu coração o chamado de Deus.
A final, o pai cedeu às insistências de sua filha e decidiu, em 1255, construir, com expensas próprias, um novo mosteiro dominicano nos arredores de Vercelli, confiando-o a Santa Margarida.
Nesse mosteiro sua amada filha entrou, juntamente com outras jovens, para viver uma vida religiosa que tinha como regra a da Ordem Terceira de São Domingos. Desde 1273, passou a ser a priora do mosteiro, levando toda a comunidade a uma grande perfeição da vida cristã. Seu lema era: “Fazei tudo por Deus”.  Incutia no coração das irmãs uma grande gratidão pelos muitos benefícios que Deus lhes tinha dado.
Esquecida de sua pregressa vida abastada, viveu em profunda humildade, em espírito de pobreza, desapego e de alegre serviço às suas irmãs. Tinha profunda devoção à Eucaristia, à Paixão de Nosso Senhor e à Virgem Maria. Sua devoção ao Santíssimo Sacramento um dia foi recompensada pela aparição de seu anjo da guarda que  ministrou a sagrada comunhão. 
A oração e a íntima união com Deus animou toda a vida de Emília, que morreu santamente, em grande paz, em Vercelli, em 03 de maio de 1314.
Seu culto foi reconhecido pela Igreja, como bem-aventurada, pelo Papa Clemente XIV, em 19 de julho de 1769. Suas relíquias, inicialmente mantidas no mosteiro onde vivia, foram transferidas em 1811 para a catedral da cidade.


Fonte para consulta: site santiebeati.it). 


quarta-feira, 26 de abril de 2017

Beata Benedita Bianchi Porro, Virgem e Leiga. Modelo de paciência e conformidade na dor e na doença.

Benedetta (Benedita) Bianchi Porro veio à luz em Dovadola, na província de Forlí, em 8 de Agosto de 1936. Assim que nasce, após um parto difícil e sofrido, agravado por uma hemorragia, a mãe pediu logo o batismo, que lhe é concedido com água da fonte milagrosa de Lourdes.
 Com apenas três meses de idade, adoece da poliomielite (muito comum na época), que deixou a menina com a perna mais curta à direita. Crescendo, terá que levar um sapato ortopédico pesado. As crianças a chamam de "zoppetta" (referente ao seu modo de andar), mas, ela não se ofende: “eles dizem a verdade”, prenunciando desde pequena um espírito desapegado e simples.   
Em maio de 1944, na pequena Igreja da Anunciação, em Dovadola, fez sua Primeira Comunhão. A partir daquele dia, trará sempre consigo, muitas vezes na mão, o rosário que ganhou de presente. Um dia, já estudante universitária, após o perder e depois de encontrá-lo por acaso, demonstrou uma alegria imensa. “O que é tudo que tenho – respondendo a quem lhe perguntava o porquê de tanta alegria – em comparação com a minha coroa (o santo rosário)”?
O pai, que é engenheiro térmico, em 1951 levou a família em Sirmione, no lago Garda, para colocar a filha em uma escola secundarista muito bem conceituada. Voltando da escola, um dia escreveu em seu diário: “hoje, fui questionada sobre meu conhecimento do latim: às vezes eu não entendo o que o professor me pergunta. Mas, não me deixo abalar. Um dia, talvez, eu venha a não entender nada do que os outros dizem, mas, sempre devo estar atenta à voz de Deus em minha alma: este é o verdadeiro guia que devo seguir”.
Por algum tempo, Benedita teve que usar uma cinta em volta do corpo para evitar a deformação da coluna vertebral (devido à discrepância de tamanho dos membros inferiores). Além disso, apareceu nela uma diminuição da audição. Nada disso lhe abate o ânimo ou lhe retira a alegria interior. “Que coisa maravilhosa é a vida” – diz – e faz muitos planos para o futuro. “Eu gostaria de poder me tornar algo grande”...

Em outubro de 1953, mudou-se para Milão para frequentar a universidade. Matricula-se em física, para agradar o pai, mas, um mês depois, muda para a faculdade de medicina. Está convencida de que sua vocação é dedicar-se ao próximo, especialmente os mais necessitados, como médica. É muito boa nos estudos, porém, a doença progride inexoravelmente. “Nunca se ouviu falar de um médico surdo”, grita um dia, lançando o livro de anatomia no chão. Apesar desse momento, Benedita não desistiu, mantendo-se a duras penas no curso. “Parece-me – escreve ela um dia – estar em um pântano interminável e monótono, afundando-me nele lentamente”. 

Esperanças, sacrifícios, lutas interiores, um longo caminho da cruz de cirurgias, até que o diagnóstico definitivo foi dado: “neurofibromatose difusa” ou “doença de Recklinghausen”, uma doença rara e incurável que rouba progressivamente a visão, a audição, o paladar, o olfato e imobiliza o doente em uma cama. Benedita estava sozinha. Parecia que Deus a havia abandonado. São dias difíceis, iluminados apenas por sua fé e pela amizade fraterna de uma jovem: Nicoletta, que se torna sua “Cirineu” nessa “via crucis”.
Trancada em seu quarto, paralisada na cama, sua jovem vida se esvai em dias de luta interior e noite escura. A dor é seu pão de cada dia.


Benedita e sua grande amiga/irmã Nicoletta. 


Em maio de 1962, Benedita é levada a Lourdes, famoso Santuário Mariano na França. Uma longa viagem a ser empreendida. “Esse período de secura e aridez espero passa-lo com a ajuda da Virgem Santa, a mais doce das mães”. Cheia de confiança na Consoladora dos Aflitos, Benedita tem um sonho: “Quero me curar para ser freira. Fiz um voto”. No entanto, outros eram os desígnios de Deus sobre ela. Na segunda vez que vai para lá, no ano seguinte, o milagre de Lourdes será a descoberta de sua vocação: a cruz. “A partir da Cidade de Nossa Senhora – escreve ela a um amigo – sou capaz de voltar a lutar, com mais bondade, paciência e serenidade. Percebi, mais do que nunca, a riqueza do meu estado. Desejo nada mais do que viver ardentemente esse momento. Esse foi para mim o milagre de Lourdes deste ano”.
Dia após dia, Benedita se abre à ação da graça, em uma dolorosa jornada de fé e abandono que a purifica, fazendo morrer para si mesma e se tornando um dom para os outros. Muitos escreverão para ela ou a visitarão. Naquele quarto onde ela se consome como oferta a Deus, torna-se como que vítima no altar. Benedita escreve muitas cartas, responde ela mesma, sozinha, até quando ainda dá para fazê-lo, com grande dificuldade, com sua escrita cada vez mais incerta e instável.
Quando não consegue mais escrever, conta com a ajuda de sua mãe, através de quadro com um alfabeto convencional, sinalizando as letras que queria com os dedos de sua mão direita (única parte do corpo que ainda se movia) e com gestos de seu rosto.
O quarto dela se torna um lugar de vida e sua cama um altar, em torno do qual se forma um Cenáculo extraordinário de amor: moços e moças que saem de lá cheios da fé e de piedade aprendendo com Benedita a terem grande amor por Deus e pela vida.
A suprema lição de fé e de coragem dela, humilhada e insultada em sua carne, através da enfermidade, é o “mistério” de Benedita. “Primeiro na cadeira, agora na cama que é, praticamente, minha casa – escreve ela –, eu encontrei uma sabedoria muito maior que aquela dos homens. Descobri que Deus existe, que Ele é Amor, lealdade, alegria e certeza, até o fim dos tempos”.
O mundo de Benedita, seu mundo interior, fascina aqueles que a conhecem e que são cada vez mais numerosos. Seus pensamentos, “ditados” à sua mãe, são como pérolas de luz, refletindo Deus em sua alma, uma outra dimensão, intraduzível, que tem sabor de eternidade.
Fragmentos de interioridade que, entregue a seus textos já traduzidos em várias línguas, em todo o mundo, incendeiam os corações de muitos: padres, artistas, médicos, escritores, doentes, prisioneiros, etc., todos conquistados por sua mensagem simples e comovente: entregar-se totalmente a Deus e apreciar a alegria que vem deste abandono.

Benedita, já bastante doente, poucos dias
antes de sua morte. 
Toda a vida de Benedita – nos diz o Pe. Divo Barsotti – parece mais ou menos conscientemente modelada na Virgem Maria, de pé, ao lado da Cruz. Devemos, portanto, olhar para seu relacionamento com Maria para sermos capazes de entender sua jornada única de fé e de santidade. Maria é a professora: sua escola está tanto no Magnificat quanto no Calvário. “A dor é uma oportunidade de estarmos com Maria ao pé da Cruz”, diz ela. “Aprendo muito com Nossa Senhora. Ela sabe o que é sofrer em silêncio. No momento da prova, recomendo-me à Mãe, que viveu seus sofrimentos com grande fortaleza. A primeira vez que fui à Lourdes pedi para curar. A segunda vez, para rezar pelos outros, porque, com dizia, “a caridade é viver no outro”. “Nossa Senhora me deu mais do que eu lhe pedi”. Ela de fato reconhece que a coisa mais importante em sua vida foi sua cura interior. Ela transfigurou sua experiência dolorosa ao ponto de tornar-se imagem viva do Crucificado: “A verdadeira alegria passa através da Cruz. Eu gosto de dizer aos que sofrem e aos doentes que, se formos humildes e dóceis, o Senhor fará em nós e por nós grandes coisas”!
Finalmente, o momento do encontro com o Senhor chegou. Na manhã de 23 de janeiro de 1964, rosas brancas, fora de época, surgem no jardim de sua casa. “Quem sabe – diz Benedita – não seja um doce sinal do Céu”? Dois meses antes, tinha sonhado entrar em um cemitério da Romagna e lá encontrou um túmulo aberto com uma linda rosa branca dentro que emitia uma luz ofuscante.
Benedita estava morrendo e uma rosa floresceu naquele dia, fora do tempo, em seu jardim. Ela havia dito: “logo, logo, eu serei nada mais do que um nome; mas, meu espírito continuará a viver aqui, entre aqueles que sofrem”.


(texto de Maria di Lorenzo, traduzido por mim do italiano)



Visita e orações do Sr. Arcebispo ao túmulo da Venerável Benedita Bianchi Porro, por ocasião
do 50º aniversário de sua morte. 



Visita dos fiéis ao túmulo onde repousam os restos mortais de Benedita Bianchi Porro. 











segunda-feira, 17 de abril de 2017

Beata Sancha de Portugal, Virgem, Princesa e Monja (memória em 11 de abril).


A Beata Sancha (sobre nuvens) aparece
para suas duas irmãs, Beata Teresa e Beata
Mafalda. A Beata aponta para o Céu,
verdadeira Pátria dos eleitos. 
A princesa Sancha, ou Sancha Sanches, era filha de D. Sancho I de Portugal e de sua esposa, a rainha Dulce de Barcelona. Seus avós paternos foram Mafalda de Saboia, filha do Conde Amadeu III, e Afonso I Henriques, primeiro rei de Portugal. Era também irmã das Beatas Teresa, rainha de Castela e Leão (festejada em 2 de maio) e Mafalda, abadessa de Arouca (festejada em 17 de junho).
Sancha nasceu em Coimbra em 1180. Foi educada, como suas irmãs, na piedade e austeridade dos bons tempos.
Quando seu pai D. Sancho I faleceu, ela devia receber, segundo as disposições testamentárias, o castelo de Alenquer e dispor de todos os recursos que deste dependiam, podendo mesmo utilizar o título de rainha.
Esta disposição de D. Sancho I foi causa de lutas entre Sancha e seu irmão Afonso II, que tinha sucedido a se pai no trono de Portugal, o qual desejava centralizar em si todo o poder. Para evitar que o patrimônio deixasse de pertencer à coroa portuguesa na sequência de um futuro casamento de sua irmã, o que criaria um problema para a soberania de Portugal, revogou o testamento, despojando Sancha e suas irmãs dos bens nele dispostos.
Sancha, que não tinha qualquer ideia de se casar, porque desejava consagra-se unicamente a Deus, acabou por deixar a seu irmão o total domínio da herança que recebera de seu pai.
Como o testamento provia também terras e castelos para suas irmãs Teresa e Mafalda, formou-se então um partido de nobres afetos pelas infantas, liderado pelo Infante Pedro, que se exilou em Leão, sob a proteção de Teresa, então rainha consorte de Leão, que após tomar alguns locais transmontanos acabou por ser derrotado.
Com a morte de Afonso II e a subida ao trono de seu filho Sancho II, o problema foi resolvido, concedendo este os castelos herdados a suas tias, nomeando seus alcaides entre os nomes que estas propusessem, pedindo-lhes apenas que renunciassem ao título de rainhas (1223).
Animada pelo mais alto espírito de fé e zelo do serviço de Deus, logo que assegurou a posse da vila de Alenquer, o seu primeiro cuidado foi fundar nas proximidades, na serra de Montejunto, um convento de Dominicanos e outro de Franciscanos, na mesma vila, tudo pela sua devoção e especial proteção que dispensava às ordens mendicantes.
Com igual zelo e devoção edificou também a Igreja de Redondo. Para si ergueu o Convento de Celas, em Coimbra, onde tomou o hábito de Cister, para levar, sob aquela regra, uma vida de oração e austeridade até à morte, em 13 de março de 1229. O seu corpo foi transladado para Lorvão, onde sua irmã Teresa era abadessa.
A 13 de dezembro de 1705, através da bula “Sollicitudo Pastoralis Offici”, o Papa Clemente XI beatificou-a ao mesmo tempo que sua irmã Teresa.

O Martirológio Romano, bem como o calendário cisterciense, comemora a Beata no dia 11 de abril. Ela é nomeada indistintamente como santa ou como beata, embora só tenha sido formalmente beatificada.


Martirológio Romano: Em Coimbra, cidade de Portugal, Beata Sancha, virgem, filha do rei Sancho 1, que fundou o Mosteiro de Celas de monjas cistercienses, e nele abraçou a vida regular. (+ 1229).


(Fonte: Blog "Heroínas da Cristandade", com permissão) 

quinta-feira, 13 de abril de 2017

INSTITUIÇÃO DA EUCARISTIA, conforme as visões da Venerável Madre Maria de Ágreda, virgem concepcionista.




Creio que muitos devem conhecer a Venerável Serva de Deus Madre Maria de Ágreda, virgem da Ordem da Imaculada Conceição. Esta grande mística e, com certeza, grande "santa no Céu", colocou suas visões e revelações sobre as vidas de Maria e de Jesus em seu maravilhoso livro: "Mística Cidade de Deus", de leitura obrigatória a todos os filhos e devotos de Maria, se desejam conhecer detalhes sobre sua santíssima vida e pessoa. Hoje, quinta-feira da Semana Santa, trago aos leitores do blog o impressionante relato da Instituição da Eucaristia, que ocorreu na Santa Ceia, no Cenáculo, na véspera da Paixão do Senhor. São palavras de "fogo". Leiam com muita calma, saboreando cada palavra. 



Instituição da Eucaristia.

Havendo decorrido o que tenho dito Cristo, nosso Senhor, tomou em suas veneráveis mãos o pão que estava no prato. Intencionalmente, pediu ao Altíssimo que, naquele momento e depois na santa Igreja, estivesse real e verdadeiramente presente na hóstia, em virtude das palavras que ia pronunciar. Em seguida, elevou os olhos ao céu, com semblante de tanta majestade, que produziu aos anjos, aos apóstolos e à mesma Virgem Mãe, novo temor reverencial.

Pronunciou as palavras da consagração do pão, transformando-o, por transubstanciação, em seu verdadeiro corpo Depois tomou o cálice e consagrou o vinho em seu verdadeiro sangue.

No momento em que Cristo terminou de pronunciar as palavras, disse o eterno Pai: Este é meu Filho muito amado em quem tenho minha complacência e a terei até ao fim do mundo; e Ele ficará com os homens, todo o tempo que durar seu desterro. O mesmo foi confirmado pela pessoa do Espírito Santo.



A humanidade santíssima de Cristo, na pessoa do Verbo, fez profunda reverência à Divindade no Sacramento de seu corpo e sangue.

Em seu retiro, a Virgem Mãe prostrou-se em terra e adorou seu Filho sacramentado, com incomparável reverência. O mesmo fizeram seus anjos custódios, e todos os anjos do céu. Depois deles, o adoraram Enoque e Elias respectivamente, por si e em nome dos antigos Patriarcas e Profetas das leis naturais e escrita.


Primeiras adorações da Eucaristia.

Os apóstolos e discípulos, exceto o traidor Judas, crendo o grande mistério, cheios de fé o adoraram com profunda humildade e veneração, cada qual segundo a própria disposição.

Nosso grande Sacerdote Jesus Cristo, ergueu nas mãos seu próprio corpo e sangue consagrados, para ser adorado por todos os que assistiam esta primeira missa.

A esta elevação, receberam grande ilustração, sua Mãe puríssima, São João, Enoque e Elias (* a Venerável cita também a presença de dois santos patriarcas do Antigo Testamento: Enoque e Elias, que vieram do limbo, no qual estavam em corpo e alma, para assistirem à Santa Ceia e receberem, também eles, a Eucaristia). Conheceram, por especial modo, como nas espécies de pão estava Cristo inteiro, vivo e verdadeiro, pela inseparável união de sua alma santíssima com seu corpo e sangue; que estava presente a Divindade, e na pessoa do Verbo a do Pai e a do Espírito Santo; que, por estas uniões e inseparáveis concomitâncias encontravam-se na Eucaristia as três Pessoas, com a perfeita humanidade de Cristo, senhor nosso.

A divina Senhora conheceu tudo com mais profundeza, e os outros videntes, no grau de que eram capazes.

Conheceram também a eficácia das palavras da consagração e seu divino poder. Pronunciadas, com a intenção de Cristo, por qualquer sacerdote presente ou futuro, converteriam a substância do pão em seu corpo e a do vinho em seu sangue, permanecendo os acidentes sem sujeito e com novo modo de subsistir, sem desaparecer. Tudo isto, com certeza tão infalível, que antes faltará o céu e a terra do que a eficácia desta forma de consagrar, devidamente pronunciada pelo ministro e sacerdote de Cristo.


A presença de Cristo na Eucaristia.

Nossa divina Rainha conheceu, por especial visão, como se encontrava o sagrado corpo de Cristo nosso Senhor oculto sob os acidentes do pão e do vinho, sem alterar esses acidentes, nem estes ao corpo, porque nem o corpo pode ser sujeito deles, nem eles podem ser forma do corpo.

Os acidentes permanecem com a mesma extensão e qualidades, antes e depois da consagração, ocupando o mesmo lugar que a hóstia. O corpo sagrado está de modo indivisível, inteiro, sem confusão entre suas partes. Está todo em toda a hóstia, e todo em qualquer parte dela, sem que a hóstia o amplie ou o reduza, nem o corpo faça o mesmo à hóstia. A extensão, porém, do corpo não tem relação com a extensão das espécies acidentais, nem a extensão destas com as do corpo santíssimo. Corpo e espécies têm diferentes modos de existência, e o corpo penetra a quantidade dos acidentes sem alterá-los.

Naturalmente falando, pediria diferente lugar e espaço, a cabeça, as mãos, o peito e o mais. Todavia, pelo poder divino, o corpo consagrado se põe, com sua extensão, num mesmo lugar. Não se sujeita ao espaço que naturalmente ocupa, é independente dessas leis naturais, pois sem elas poder ser corpo quantitativo. Também não fica num só lugar e numa só hóstia, mas em muitas ao mesmo tempo, ainda que sejam inumeráveis as hóstias consagradas.


O milagre da transubstanciação.

Maria santíssima entendeu ainda que, embora o sagrado corpo não tivesse dependência natural dos acidentes, no modo como expliquei, contudo não se conservaria neles sacramentado, senão enquanto os acidentes de pão e vinho durassem sem se corromper. Assim o ordenou a vontade santíssima de Cristo, autor dessas maravilhas.

Esta determinação foi como que uma dependência, voluntária e moral, da existência milagrosa de seu corpo e sangue à existência incorrupta dos acidentes.

Quando eles se corrompem e destroem pelas causas naturais que os podem alterar - como acontece com o calor do estômago de quem recebe o Sacramento, ou por outras causas - então Deus cria de novo outra substância, no último instante em que as espécies estejam dispostas para receber essa transformação. Com esta nova substância, faltando já a existência do corpo sagrado, opera-se a nutrição do corpo que alimenta e se introduz a forma humana que é a alma.

Este prodígio de criar nova substância que assuma os acidentes alterados e corrompidos é consequente à determinação da vontade divina, de não permanecer o corpo sagrado com a corrupção dos acidentes. É consequente também à natureza: só pode aumentar com outra substância que se lhe acrescente, e os acidentes não podem continuar-se nesta substância.



Maria supre a ingratidão humana.

Todos estes, e outros milagres, a destra do Omnipotente reuniu neste augustíssimo sacramento da Eucaristia. A todos a Senhora do céu e da terra entendeu e penetrou profundamente.

São João, os outros apóstolos e os Pais da antiga lei que ali se encontravam, também compreenderam, segundo a própria capacidade.

Vendo que este benefício tão grande era para todos, a Mãe puríssima conheceu também a ingratidão que os mortais mostrariam por mistério tão inefável, instituído para seu bem. Desde esse momento, encarregou-se de compensar e suprir, com todas as suas forças, nossa dureza e ingratidão, dando Ela ao eterno Pai e a seu Filho santíssimo, as graças por maravilha tão rara a favor do gênero humano.

Esta atenção lhe durou toda a vida, e muitas vezes o fazia derramando lágrimas de sangue de seu ardentíssimo coração, para reparar nosso repreensível e grosseiro esquecimento.



Cristo comungando a Si mesmo.

Maior admiração me causa o que sucedeu ao mesmo Jesus, quando depois de elevar o santíssima Sacramento para ser adorado pelos discípulos, partiu-o com suas sagradas mãos e comungou-se a Si mesmo, antes de todos, como primeiro e sumo sacerdote.

Reconhecendo-se, enquanto homem, inferior à Divindade que recebia em seu mesmo corpo e sangue consagrados, humilhou-se, retraiu-se e comoveu-se na parte sensitiva, manifestando duas coisas; a primeira, a reverência com que se devia receber o seu sagrado corpo; segunda, a dor que sentia na previsão da temeridade e audácia com que muitos chegariam a receber e tratar este altíssimo e eminente Sacramento.

Os efeitos que a Comunhão produziu no corpo de Cristo, nosso bem, foram divinos e admiráveis. Por alguns momentos, n'Ele redundaram os dotes da glória da sua alma santíssima, como no Tabor. Esta maravilha, porém, foi vista só por sua Mãe puríssima, e um pouco por São João.

Este favor foi o último, de repouso e gozo, que a humanidade santíssima recebeu em sua parte inferior, até sua morte.

A Virgem Mãe teve também especial visão de como Cristo recebeu-se sacramentado, e como esteve em seu divino peito, o mesmo que se recebia. Esta visão produziu grandioso efeitos em nossa Rainha e Senhora.



Permanência eucarística da Virgem.

Ao comungar-se, Cristo fez um cântico de louvor ao eterno Pai, oferecendo-se sacramentado pela salvação humana. Separou uma partícula do pão consagrado e a entregou ao arcanjo São Gabriel, para que a levasse a Maria santíssima.

Este favor deixou os santos anjos como que satisfeitos e consolados, de que a dignidade sacerdotal, tão excelente, tocasse aos homens e não a eles. Só por levar nas mãos, em forma humana, o corpo sacramentado do seu verdadeiro Deus e Senhor, causou grande e novo gozo a todos eles.

A grande Senhora e Rainha esperava, entre muitas lágrimas, o favor da sagrada Comunhão, quando chegou São Gabriel acompanhado de inúmeros anjos. Recebeu-a da mão do príncipe celeste, sendo a primeira a comungar, depois de seu Filho santíssimo, imitando-o na humildade, reverência e santo temor.

O santíssimo Sacramento ficou depositado no peito de Maria santíssima sobre o coração, legítimo sacrário e tabernáculo do Altíssimo. Ali permaneceu todo o tempo desde aquela noite até depois da ressurreição, quando São Pedro consagrou na primeira missa, como direi adiante.

O Senhor todo-poderoso operou este prodígio, tanto para consolo da grande Rainha, como para cumprir, antecipadamente, a promessa que depois faria à sua Igreja, de estar com os homens até ao fim dos tempos (Mt 28, 20).

No prazo que mediou entre sua morte e a consagração de seu corpo e sangue, sua humanidade santíssima não poderia estar na Igreja, por outro modo. Permaneceu este verdadeiro maná depositado em Maria santíssima, arca viva, juntamente com toda a lei evangélica, conforme estava figurado na arca de Moisés (Heb 9, 4).

Durante esse tempo, não se consumiram nem alteraram as espécies sacramentais no peito desta Senhora e Rainha do céu, que agradeceu ao eterno Pai e a seu Filho santíssimo com novos cânticos, imitando as ações de graças que o Verbo divino fizera.



Judas e a comunhão.

Durante a comunhão dos apóstolos, aconteceu outro oculto milagre. O pérfido e traidor Judas, vendo que seu divino Mestre ia dar a comunhão aos apóstolos, não tendo fé, determinou não a receber. Se pudesse, esconderia o sagrado corpo para mostrá-lo aos pontífices e fariseus, vituperando o Mestre que dizia ser aquele pão o seu corpo. Isto poderia lhes servir de acusação contra Jesus. Caso não pudesse fazer isso, tencionava algum outro ultraje ao divino Sacramento.

A Senhora e Rainha do céu, por visão claríssima, via tudo o que se passava: a disposição interior e exterior dos apóstolos ao receberem a sagrada Comunhão, seus efeitos e afetos, e também os execráveis planos do obstinado Judas. Inflamou-se toda no zelo da glória de seu Senhor, como Filha, Esposa e Mãe. Conhecendo que era sua vontade que, naquela ocasião, usasse seu poder de Mãe e Rainha, mandou seus anjos que, sucessivamente, tirassem da boca de Judas o pão e o vinho consagrados, e o tornassem a colocar no prato e no cálice. Naquela ocasião, incumbia-lhe defender a honra de seu Filho santíssimo, impedindo que Judas o profanasse com a ignomínia que maquinava.

O anjos obedeceram, e quando o péssimo Judas ia comungar, tiraram-lhe da boca, uma após a outra, as espécies sacramentais. Purificando-as do contato daquele imundíssimo lugar, colocaram-nas ocultamente entre as demais, e assim o Senhor encobriu ainda a honra de seu inimigo e obstinado apóstolo. Estas espécies foram depois recebidas pelos outros que comungaram depois de Judas, pela ordem de antiguidade, pois ele não foi nem o primeiro nem o último que comungou, e o cato dos santos anjos foi instantâneo.

Deu nosso Salvador graças ao eterno Pai, e com isto terminou os mistérios das ceias legal e sacramental, principiando os de sua paixão que descreverei nos capítulos seguintes.

A Rainha dos céus continuava atenta a todos, admirando-se, louvando e glorificando ao altíssimo Senhor.



DOUTRINA

O tesouro da Eucaristia.

Ó, minha filha! Se os que professam a santa fé católica abrissem os corações, pesados e endurecidos, para receberem a verdadeira compreensão do sagrado mistério e dom da Eucaristia! Ó, se desenvencilhados e abstraídos dos afetos terrenos e controlando suas paixões, aplicassem a fé viva para entender, na divina luz, a felicidade de ter consigo o Deus eterno sacramentado, podendo-o receber e participar dos frutos deste divino maná celeste! Se, dignamente, conhecessem esta grande dádiva! Se estimassem este tesouro! Se saboreassem sua doçura! Se com ela participassem da virtude oculta de seu Deus omnipotente! Depois disso, nada lhes restaria para desejar, nem temer em seu desterro!


Nos felizes tempos da lei da graça, não se devem lamentar os mortais de que as paixões e fragilidades os afligem, pois neste pão celeste têm à mão a saúde e a fortaleza. Nem se queixem das tentações e perseguições do demónio, pois com o bom uso deste inefável Sacramento o vencerão gloriosamente, se para isto dignamente o frequentam.


Não atender a este mistério e não se valer de sua virtude infinita para todas as necessidades e trabalhos, é culpa dos fiéis, pois para seu remédio o ordenou meu Filho santíssimo. Em verdade te digo, caríssima, que Lúcifer e seus demónios temem de tal modo a Eucaristia, que aproximar-se de sua presença lhes causa maiores tormentos do que estar no inferno.


Muito embora entrem nos templos para tentar as almas, tem que se violentar e sofrer cruéis penas a troco de derrubar uma alma, e incitá-la a cometer um pecado, ainda mais nos lugares sagrados e na presença da Eucaristia. O ódio que nutrem contra Deus e as almas, os compele a se exporem ao tormento de se aproximar de Cristo, meu Filho, sacramentado.


Poder da Eucaristia.

Quando é levado em procissão pelas ruas, ordinariamente fogem a toda a pressa. Não se atreveriam a se aproximar dos acompanhantes, se não fora a esperança adquirida por longa experiência, de que vencerão alguns, fazendo-os perder a reverência pelo Senhor. Por isto, trabalham muito em tentar nos templos. Sabem quanta injúria se faz ao Senhor ali sacramentado, a espera que os homens lhe correspondam o amor que tão generosamente lhes demonstra.


Daqui entenderás o poder que adquire sobre os demônios, quem dignamente recebe este sagrado pão dos anjos. Se os homens o frequentassem com devoção e pureza, procurando conservar-se nestas disposições, de uma a outra comunhão, seriam temidos pelos demônios. Muito poucos, porém, têm este zelo, enquanto o inimigo fica alerta, espreitando e trabalhando para que não se esqueçam, se esfriem e distraiam, e não se valham contra eles de arma tão poderosa.


Grava esta doutrina em teu coração. Sem mereceres, ordenou o Altíssimo, por meio de obediência, que cada dia participes deste sagrado Sacramento, recebendo-o. Esforça-te por permanecer no estado em que te pões para uma comunhão, até a outra. É vontade do Senhor e minha, que traves com esta espada as guerras do Altíssimo, em nome da santa Igreja. Combate seus inimigos invisíveis que, atualmente, afligem e entristecem tanto à Senhora das nações, sem haver quem a console, nem atentamente o considere. Chora por esta causa e parta-se o teu coração de dor.


O onipotente e justo Juiz acha-se indignado contra os católicos que irritam sua justiça, com pecados tão frequentes e desmedidos, apesar da santa fé que professam. Não há quem considere, pese e tema tão grande dano, nem recorra ao remédio que poderiam solicitar, com o bom uso do divino sacramento da Eucaristia, chegando-se a ele de coração contrito, humilhado e protegido por minha intercessão.


Recompensa do amor à Eucaristia.

Nos filhos da Igreja esta culpa é gravíssima, mas é ainda mais repreensível nos maus e indignos sacerdotes. A irreverência com que eles tratam o santíssimo Sacramento no altar, dá ocasião a diminuir os demais católicos a estima que lhe devem. Se o povo visse os sacerdotes se aproximarem dos divinos mistérios com temor e tremor reverencial, seriam levados a tratar e receber com igual devoção a seu Deus sacramentado. Os que assim fazem, resplandecem no céu como o sol entre as estrelas. Os que trataram e receberam meu Filho santíssimo com toda reverência, gozarão especial luz e resplendor de glória, participação da mesma glória de sua Humanidade santíssima. O mesmo não terão os que não frequentaram com devoção a sagrada Eucaristia. Além disto, serão vistos nos corpos gloriosos sinais ou divisas no peito, em testemunho de haverem sido dignos tabernáculos do santíssimo Sacramento.


Isto lhes servirá de grande gozo acidental, de júbilo e louvor para os anjos, e de admiração para todos. Receberão ainda outro prêmio acidental: verão e compreenderão, com especial inteligência, o modo como meu Filho santíssimo está na Eucaristia, e todos os milagres nela encerrados. Será tão grande este gozo, que só ele bastaria para alegrá-los eternamente, se não houvesse outro no céu. Quanto à glória essencial dos que, com a devida pureza e devoção, receberam a Eucaristia, igualará, e em muitos excederá, a alguns mártires que não a receberam. 



Humildade na recepção da Eucaristia.

Quero também, minha filha que, de minha boca, ouças a apreciação que de Mim fazia quando, na vida mortal, ia receber meu Filho e Senhor sacramentado. Para melhor o entenderes, renova em tua memória tudo o que compreendeste sobre os dons, graças, obras e merecimentos de minha vida, conforme tenho te mostrado para o escreveres. Fui preservada em minha concepção, da culpa original, e naquele instante tive conhecimento e visão da divindade, conforme disseste muitas vezes. Recebi maior ciência do que todos os santos; no amor ultrapassei os supremos serafins; jamais cometi culpa atual; sempre exercitei heroicamente todas as virtudes, e a menor delas foi superior à suprema dos maiores santos, no cume de sua santidade.


O alvo de todas as minhas obras foi altíssimo; os hábitos e dons sem medida ou falha; imitei meu Filho santíssimo com suma perfeição; trabalhei fielmente; sofri corajosamente e cooperei nas obras do Redentor, na medida em que me tocava; jamais cessei de amar e de merecer aumentos de graça e glória, em grau eminentíssimo.


Julguei, no entanto, que todos estes méritos ter-me-iam sido pagos dignamente, só com o receber uma única vez seu sagrado corpo na Eucaristia, e ainda não me julgava digna de tão alto favor. Considera, agora, minha filha, o que tu e os demais filhos de Adão deveis pensar, quando se aproximam para receber este admirável Sacramento. Se, para o maior dos santos seria prêmio superabundante uma só comunhão, que devem fazer e sentir os sacerdotes e os fiéis que a frequentam? Abre tu os olhos nas densas trevas e cegueira dos homens, e levanta-os para a divina luz, para conhecer estes mistérios.



Julga tuas obras insignificantes, teus méritos limitados, teus trabalhos levíssimos, e teu agradecimento muito insuficiente, para tão raro benefício, como possuir a santa Igreja, Cristo, meu Filho santíssimo sacramentado, desejoso de que todos o recebam para enriquecê-los. Se não tens digna retribuição para lhe oferecer por este bem e os outros que recebes, pelo menos te humilha e apega-te com o pó e com toda a sinceridade do coração, confessa-te indigna dele. Enaltece ao Altíssimo, bendize-o e louva-o, estando sempre preparada para recebê-lo com fervorosos afetos, disposta a sofrer muitos martírios, para obter tão grande bem.

quinta-feira, 6 de abril de 2017

Beato Maria-Eugênio do Menino Jesus, presbítero carmelita descalço e fundador do Instituto Nossa Senhora da Vida.


“Contemplativo e ativo; temperamento de chefe e pobre homem; extraordinário em certas graças e ordinário no cotidiano; determinado a caminhar e paciente; impregnado de vida sobrenatural e atento aos mínimos detalhes da vida material (desde o corte da vinha até a construção de edifícios importantes); pai espiritual e filho de Deus; forte e fraco; exigente e cheio de bondade paterna; inspirador, às vezes, de temor e atraente por seus fortes carismas; ávido de solidão e apóstolo percorrendo o mundo; escritor prolixo e fundador profético; batalhador e calmo; camponês e teólogo; mortificado e livre de tudo; pregador incansável e ávido de oração; sofrendo e se entusiasmando sempre; místico e apreciador do rir, herdeiro da grande Tradição católica e aberto ao mundo moderno”.

(Guy Gaucher)

FAMÍLIA

Nasceu em 02 de dezembro de 1894 no Gua, cidadezinha situada na região de Aveyron no sul da França e foi batizado no dia 13 de dezembro do mesmo ano. Frei Maria Eugênio do Menino Jesus, no século, Henrique Grialou, era o terceiro de uma família de 05 irmãos. Seu pai, Augusto Grialou, trabalhava numa mina de carvão e sua mãe, Maria, em um pequeno restaurante que ela mesma havia aberto em sua casa e que ela irá abandonar em seguida para melhor cuidar dos seus filhos. Muito cristãos e com poucos recursos, foram Augusto e Maria que construíram com as próprias mãos, a casa da família onde todos viviam numa atmosfera de pobreza, ternura e fé católica.

Em agosto de 1904, atingido por uma pneumonia, Augusto morre deixando os filhos: Mário, o mais velho com 15 anos, Ângela com 11 anos, Henrique com 10 anos, Fernanda com três anos e Berta ainda bebê com apenas um ano. O próprio Henrique será o padrinho de batismo desta última.

Sem o marido, Maria vai trabalhar dobrado para sustentar a família. Muitas vezes, como lavadeira de roupas, ela deverá quebrar o gelo do reservatório de água que o frio congelara, antes de começar o trabalho ao ar livre como se fazia na época.



CHAMADO AO SACERDÓCIO

Ainda jovem, o menino Henrique sente o chamado para o sacerdócio e vai tomar as iniciativas necessárias para levar a termo o “sim” que ele dará a Deus antes de seus 11 anos.


Ciente da vocação de Henrique, o padre da sua paróquia quer que ele estude no seminário de Graves, mas as condições financeiras da família não lhe permitem. Henrique, que tem apenas 11 anos, vai aproveitar a visita de um sacerdote da Congregação do Espírito Santo que passa pela região para aceitar o convite de fazer seus estudos fora da França, pois os religiosos tinham sido expulsos pela República Francesa.

Em 1905, ele tomará sozinho o trem para Susa na Itália e aí ficará cerca de três anos sem poder rever a família. No entanto, ele perceberá que esta congregação não corresponde à sua vocação e ele voltará então, à sua cidade natal.

Em 1908, Henrique descobre o livro da vida de uma carmelita que se tornará para ele, uma grande amiga e que o acompanhará para sempre: a Irmã Teresinha do Menino Jesus, ainda em processo de beatificação .


No dia 2 de outubro de 1911, graças à sua mãe Maria que, muito batalhadora, decide pagar os seus estudos, ele entrará para o seminário de Rodez, não muito longe do Gua e começará uma etapa de discernimento buscando a vontade de Deus para a sua vida.

Henrique será tido como um seminarista exemplar, cheio de ardor espiritual mas também muito generoso e preocupado com os outros.

Reconhecendo a importância deste período de formação ele dirá:

“Durante o seminário é preciso reservar força e coragem; acender em nossos corações uma brasa de amor que nada possa apagar”[1].



PRIMEIRA GUERRA

Em 1913, Henrique deverá interromper seus estudos de teologia para se preparar para partir para a guerra como cabo de infantaria, no dia 3 de agosto de 1914.

Poucos dias depois, ele será atingido por uma bala no rosto que não lhe causará graves problemas. Ele atribui a sua sobrevivência nesta e em todas as outras situações de perigo à proteção da Irmã Teresinha do Menino Jesus:

A Irmã Teresa afasta as balas!”

Ele se oferecerá para voltar para a frente de combate e substituir um soldado, pai de quatro filhos.





Corajoso, ele será nomeado tenente e conquistará a admiração de seus soldados. Ele vigiará sobre as condições alimentares de cada um e criará atividades extras para ocupá-los no tempo livre e evitar que eles se entreguem a atitudes imorais bastante comuns naquelas condições de guerra.

Depois de 04 anos, ele voltará da guerra condecorado por sua coragem e intrepidez.


SEMINÁRIO

Em outubro de 1919, Henrique Grialou pôde finalmente retomar os estudos no seminário de Rodez. Ele que já conhecia muito bem a Irmã Teresinha do Menino Jesus, vai aí aprofundar a sua amizade com o Carmelo através das leituras de São João da Cruz e de Santa Teresa de Jesus.

Em seu retiro para o subdiaconato, ele se sentirá extremamente tocado pela leitura de uma pequena biografia de São João da Cruz e decidirá de mediato a entrar para a Ordem do Carmelo respondendo ao chamado de uma entrega absoluta que já habitava o seu coração.

Depois da decisão tomada, será preciso enfrentar duas provações principais que ameaçavam a realização dos projetos de Deus na vocação de Henrique: uma forte resistência do seu diretor espiritual, o Padre Belmon que não queria ouvir falar em Carmelo para ele; e a grande oposição de sua mãe que ameaçava de se suicidar caso o seu filho se fechasse em uma congregação de clausura. Ela imaginava que se Henrique fosse padre diocesano, ela poderia participar mais de perto da sua vida mas, se ele entrasse para o Carmelo, ela seria privada definitivamente desta proximidade.

No dia 04 de fevereiro de 1922 ele será ordenado sacerdote e apesar das grandes contradições, experimenta uma profunda alegria:

“Eu sou Padre! Padre por toda a eternidade! Eu repito essas palavras hoje sem me cansar experimentando a cada vez, uma alegria nova… E amanhã, (dia em que presidirá sua primeira missa), à minha voz, tu virás, eu te segurarei em minhas mãos e te darei…Jesus, tu serás meu amanhã e todos os dias da minha vida. E a ti, oh Virgem Maria, eu devo tudo, pois tu és minha mãe e enquanto eu for padre eu quero continuar sendo teu filho”[2].

Pela sua paciência e obediência, ele obteve a permissão do diretor espiritual para entrar na Ordem do Carmelo. Quanto à sua mãe, procurava consolá-la e fortalecê-la através de cartas muito carinhosas e espirituais, mas só depois de muito tempo, com a ajuda de Berta, sua irmã mais nova, dona Maria recobrou a confiança.


O CARMELO

No dia 24 de fevereiro de 1922, Frei Maria Eugênio, entra para o Carmelo de Avon.

O dia de sua chegada será marcado por uma reflexão profunda sobre as palavras de Jesus a Nicodemos: “Em verdade vos digo, ninguém pode ver o Reino de Deus se não nascer de novo”[3]. Ele as tomará para si e dirá: “Essas palavras são luminosas para mim hoje. Eu preciso renascer completamente em uma vida nova[4]”.

Como religioso carmelita, ele recebe o nome de Frei Maria Eugênio do Menino Jesus, fato que será para ele, uma prova de que mais que uma amiga, Santa Teresinha agora é sua irmã.


Sacerdote, homem maduro, ex-tenente de guerra, ele tem 28 anos e começa a sua primeira etapa de formação no Carmelo.

Ele viverá o seu noviciado completamente entregue à vida de oração e através dela, ele aprofundará a sua amizade com Deus segundo os ensinamentos dos santos do Carmelo.

“A oração é de uma certa maneira, o sol e o centro de todas as atividades do dia. Todas as noites, temos a impressão de ter feito somente isso de importante[5]”.


Adepto à penitência e à mortificação, ele colocará sua saúde em risco e será obrigado por seus superiores a abandonar tamanha austeridade. Ele confessará mais tarde, ter chegado ao extremo de suas forças. Foi com a descoberta da pequena via da irmã Teresinha do Menino Jesus, que o Frei Maria Eugênio compreende que “não se deve matar as forças da natureza – como dizia o seu mestre de noviço – mas, purificá-las a serviço do amor”.

Este período onde ele se alimentará particularmente da doutrina dos santos do Carmelo, coincidirá com três momentos importantes para a Ordem e para a Igreja: a beatificação da irmã Teresinha do Menino Jesus (29 abril 1923) e sua canonização (17 março 1925); e o doutorado de São João da Cruz (24 agosto 1926).

Entre 1924 e 1928 ele vai morar no convento de Lille (capital do Norte da França) e já com maturidade e experiência suficientes, ele fará muitas conferências sobre os santos do Carmelo em vários conventos, igrejas e monastérios colocando a serviço de Deus o seu dom de pregador. Aí, ele estabelecerá muitos contatos com filósofos, intelectuais e até industriais da região.

Em 1925, ele será nomeado diretor da revista “Carmelo” onde ele mesmo escreverá alguns artigos dignos da admiração dos mais entendidos. Ele utilizará, com sucesso, a divulgação desta revista nos Carmelos da França para favorecer a união entre os carmelos feminino e masculino que viviam uma espécie de separação desde o século XVII na França.

No dia 11 de março de 1926, ele fará sua profissão solene acompanhado por Berta que, no dia seguinte, entrará para a Ordem Terceira do Carmelo recebendo o nome de “Maria Eugênio”.

Para Frei Maria Eugênio, a doutrina do Carmelo é um “tesouro” e não deve se limitar aos religiosos. Ele tem sede de divulgá-la ao mundo para que todas as pessoas possam conhecer o Deus de amor que está vivo, presente em cada pessoa pela graça do batismo e com quem se pode estabelecer um contato de amizade de maneira muito simples, particularmente através da oração.

No dia 14 agosto de 1928 ele é nomeado superior de um seminário menor dos carmelitas, o Petit Castelet, situado em pleno campo, perto da pequena cidade de Tarascon. Ele aceitará a nomeação com dor, mas, também com espírito de fé e grande confiança nos desígnios de Deus.

Com efeito, em 1929, ele receberá a visita de 03 moças, professoras e responsáveis de uma escola em Marselha que desejam entregar suas vidas a Deus e receber a ciência da oração carmelitana.

Frei Maria Eugênio verá nesta visita, uma resposta às suas intuições interiores.

Ele espera com paciência o momento oportuno de colocar em prática seus projetos e atende ao pedido de estabelecer em Marselha, cursos de oração para um público de filósofos e professores da Universidade de Aix-Marseille apaixonados pela espiritualidade do Carmelo.


A FUNDAÇÃO DO INSTITUTO NOSSA SENHORA DA VIDA

Em 1931, uma senhora de sobrenome Lemaire, oferece ao Carmelo, um terreno localizado em meio às colinas e á floresta do vale de Venasque, cidadezinha do território de Vaucluse, evangelizada por São Sifrein no século VI.

Com a doação do terreno, a senhora Lemaire doará também, o santuário de Nossa Senhora da Vida aí presente também desde o século VI aonde muitos peregrinos vinham realizar as suas devoções à Virgem Maria consagrando os seus filhos a ela, ou pedindo por eles a cura em situação grave de saúde.




Certo dia, as 03 professoras que haviam visitado o padre no Petit Castelet procuraram-no para realizar uma atitude de dom de si mesmas mais concreta: “Nós vos oferecemos tudo o que temos. Diga-nos o que devemos fazer , e nós o faremos[6]”.

A providência mostrava assim que a intuição do Frei Maria Eugênio correspondia à vontade de Deus e o Instituto Nossa Senhora da Vida começava a dar seus primeiros passos com a aprovação da Igreja através do arcebispo de Avignon.

Fundado em 1932, sem muitos recursos materiais nem regras precisas, a única certeza do fundador era de fazer a vontade de Deus. As regras e constituições virão com o passar do tempo e a experiência dos primeiros anos.

As três pioneiras serão: Germaine Romieu, Joana Grousset e Maria Pila que será o braço direito do frei Maria Eugênio e co-fundadora do Instituto.

As três vão começar por abandonar o trabalho durante um ano e retirar-se em Nossa Senhora da Vida para um período de formação e recolhimento. Elas o farão, cada uma em um ano diferente, permitindo que a escola em Marselha continue a funcionar.

Assim, o Instituto começa a se modelar segundo os desejos do padre Maria Eugênio de formar “apóstolos contemplativos”, ou seja, homens e mulheres que, abastecidos pelo Espirito Santo através da oração cotidiana, testemunham no seu trabalho e em todos os lugares, a existência de Deus e o Seu amor por todos os homens.




Foto do Beato com os primeiros membros e colaboradores da fundação do Instituto.





Beato Maria-Eugênio e Maria Pila, sua grande colaboradora,
verdadeiro braço direito, na fundação do Instituto.





AS MUITAS FUNÇÕES NO CARMELO: TRABALHANDO PELA IGREJA

Apesar da sua fundação (o Instituto Nossa Senhora da Vida), Frei Maria Eugênio não abandonará suas atividades na Ordem do Carmelo, mas, ao contrário, ele passará toda a sua vida servindo-a não obstante todas as dificuldades. Isso exigirá dele, trabalho dobrado, pois ele deverá atender às muitas solicitações dos Carmelos da França e no exterior e também, dar atenção e uma formação sólida aos membros do seu Instituto. Em 1932 ele será prior do Noviciado de Agen e confessor das carmelitas de Avignon e de Carpentras, duas cidades próximas de Venasque.

Este ministério, o acompanhará até o fim da sua vida, o que o permitirá adquirir uma vasta experiência como diretor espiritual. Herdeiro da sabedoria da santa Madre Teresa de Jesus, ele tinha facilidade para conduzir as almas, o que fará uma carmelita (irmã Maria do Salvador) acompanhada por ele durante 40 anos dizer que: “ele tinha: um julgamento esclarecido por seus profundos conhecimentos psicológicos”.
(Un maître Spirituel. Le Père Marie Eugène de l’Enfant Jésus)

Ainda jovem ele será conhecido como o “alma de fogo”[7] tal era o seu entusiasmo pelas coisas de Deus; mas também será tido como um homem muito concreto, com os pés no chão, capaz de discutir sobre as necessidades materiais dos Carmelos e dos religiosos.

Com um forte sotaque de Aveyron, ele será por vezes desprezado pelos intelectuais da época. No entanto, Frei Maria Eugênio os surpreenderá com a sua simplicidade e inteligência mostradas em suas conferências que, aliás, eram cheias de ardor e com uma pitada de bom humor bem dosada para divertir o público. Ele gostava de rir e de contar histórias para ajudar na compreensão dos assuntos espirituais e para isso, fazia referência a objetos ou aos elementos da natureza:

“A fé é uma antena, ela toca Deus que reage mas nós não sentimos nada. A fé é obscura. Nós temos vocação de coruja.” (Regue M. R Padre Maria Eugênio do Menino Jesus. Mestre Espiritual para o nosso tempo )

No ano de 1936 ele será nomeado prior do Convento de Estudos de Monte-Carlo e também dará aulas de Direito Canônico e de História da Filosofia.

Em 1937, grande alegria para o Frei Maria Eugênio: depois de cinco anos de fundação, a Igreja reconhece oficialmente o Instituto Nossa Senhora da Vida como Fraternidade Secular da Ordem Terceira de Nossa Senhora do Monte Carmelo e de Santa Teresa.

No dia 17 de abril de 1937, aos 43 anos, Frei Maria Eugênio do Menino Jesus será nomeado Definidor Geral da Ordem e ele manterá esta função até o ano de 1955.

Este período foi marcado por muitos acontecimentos importantes.

Em novembro de 1937 morre a sua mãe Maria Grialou.

Em 1939, Berta Grialou, antes muito indecisa, resolve entrar para o Instituto Nossa Senhora da Vida. Irmã do fundador, os dois manterão uma grande discrição a este respeito para não provocar ciúmes aos outros membros da comunidade.

Neste mesmo ano, a II Guerra Mundial intervirá novamente na vida do Frei Maria Eugênio.

Tenente durante a I Guerra, ele agora é convocado como capitão.

Suas funções como Definidor deverão esperá-lo até o ano de 1940 quando ele será liberado da guerra.

Suas principais preocupações agora são, mais uma vez, os soldados tratados por ele com exigência e paternidade. Um exemplo concreto é o “Lar do Soldado”, espaço criado pelo Frei onde eles podiam assistir às peças de teatro, filmes, ler bons livros e também encontrar uma boa comida. Um deles dirá: “Para mim Grialou é o Bom Deus”[8].

Liberado da guerra ele pode retomar suas atividades no Carmelo mas, tudo não está resolvido; a guerra não terminou e quase não há trens para ir a Roma. Obrigado a ficar na França, Frei Maria Eugênio não perderá tempo. Aproveitará para visitar os Carmelos não destruídos, confortando os religiosos e religiosas e somente no ano de 1941, ele pregará em cerca de 21 retiros.

Em 1945 a guerra termina e em 1946 ele retornará a Roma.

Março de 1947: o Instituto Notre Dame de Vie será agregado a Ordem do Carmelo. Futuramente, Frei Maria Eugênio dirá:

“Para separar o Instituto Nossa Senhora da Vida do espírito do Carmelo, seria preciso queimar a sua Regra”[9].

A experiência do Frei (viagens, conferências, conversações e estudos) lhe ajudará a entender que, independente da nacionalidade ou da cultura, todas as pessoas têm sede de Deus. Assim, apesar de todas as suas responsabilidades e do cansaço devido às viagens, ele publicará a 1ᵃ parte do livro “Eu Quero Ver a Deus” em 1949 e acrescentará a 2ᵃ parte “Eu sou Filha da Igreja” em 1951. As duas partes formarão uma só resposta ao desejo do homem de buscar o seu Criador caminhando progressivamente até chegar a um “mundo novo”[10] onde se encontra a perfeição do amor.

Em 1951 o Papa Pio XII quer que as carmelitas consagrem uma hora por dia para o catecismo, pois ele acredita que, com a sua boa formação, elas poderiam ajudar os sacerdotes indo ao encontro dos catecúmenos.

Definidor da Ordem, carmelita fiel até as entranhas, Frei Maria Eugênio reage. A vida contemplativa do Carmelo está ameaçada. Ele não deseja contrariar o Santo Padre; “se fosse preciso escolher entre o Carmelo e a Igreja, eu escolheria a Igreja” [11], disse ele certa vez; mas, quer ajudar o Papa no discernimento desta decisão importantíssima para o Carmelo e a Igreja. Ele tratará da questão com sofrimento e submissão e finalmente, o Carmelo conservará a clausura.

Em 1954, morre o Vigário Geral do Carmelo e é Frei Maria Eugênio então I Definidor da Ordem quem irá substituí-lo.

Será em uma de suas viagens como Vigário Geral que ele visitará as Filipinas e que Nossa Senhora da Vida começará a se difundir pelo mundo por aí começando. O Instituto se instalará em seguida, na Alemanha e no México chegando progressivamente ao número de mais de 20 países até os dias atuais.

Em 1955, o Capítulo Geral da Ordem não reelegerá Frei Maria Eugênio como Vigário Geral provavelmente por causa da sua personalidade exigente e sua fidelidade ao espírito do Carmelo. Assim, ele voltará ao Petit Castelet na França e, como um simples religioso, ele participará das recreações com os outros, ajudará nos serviços de limpeza do monastério, será leitor durante as refeições, etc.… Ritmo de vida a qual ele se adaptará facilmente, mas que durará apenas seis meses pois ele será eleito prior.

Homem espiritual e pragmático, ele se preocupa até mesmo com a preparação dos retiros realizados no Petit Castelet. Para ele, existe uma estratégia de sucesso: dormir e comer bem, garantem um êxito de 75%.

Em 1957 ele será nomeado Provincial dos carmelitas de Avignon-Aquitaine.

No dia 2 de janeiro de 1958, mais um momento de sofrimento para o Frei Maria Eugênio, causado pela morte de sua irmã Berta, vítima de uma crise cardíaca. Ele mesmo testemunhará a seu respeito: “Eu ensinei e ela realizou” e falando de seus próprios sentimentos:

“A paternidade espiritual, assim como a maternidade espiritual, encontra a sua fecundidade nas feridas do coração…A fecundidade jorra dessas feridas”[12].

Em 1961 ele conseguirá uma autorização para morar em Nossa Senhora da Vida.


ÚLTIMOS ANOS

Em 1965, uma pneumonia grave o fará pensar que o fim de seus dias se aproxima e ele chamará toda a comunidade de Nossa Senhora da Vida para revelar-lhe alguns segredos profundos do seu coração e deixar-lhe o seu testamento espiritual:

 “Vocês perceberam provavelmente que quando eu falo do Espírito Santo, eu me inflamo muito facilmente. Eu O chamo meu Amigo e creio ter razões para isto…Eu quero pedir para vocês o Espírito Santo. Este é o testamento que eu vos deixo! Que Ele desça sobre vocês e que vocês possam dizer o mais rápido possível que o Espírito Santo é vosso amigo, vossa luz e vosso mestre. Esta é a oração que eu vou continuar a fazer nesta terra enquanto o Bom Deus me deixar aqui e que eu continuarei certamente durante a eternidade”[13].

Esta pneumonia não tirará sua vida nem o impedirá de trabalhar pela Igreja durante o tempo que lhe resta e apesar do cansaço, enquanto Provincial, ele continuará a visitar os Carmelos, a fazer conferências, ademais, ele continuará a acompanhar de perto o grupo e Nossa Senhora da Vida que agora está bem estruturado com suas três ramificações, sendo duas para leigos (homens e mulheres) consagrados e a terceira para sacerdotes diocesanos. Todos comprometidos com uma vida de oração intensa e a serem testemunhos de Deus para todos, guardando o duplo espírito de “ação e contemplação bem unidas” como o dizia o fundador.


Em 1967 atingido por um câncer de próstata que ele chamará de “um pequeno acontecimento [14]”, Frei Maria Eugênio deverá deixar suas atividades definitivamente, mas continuará a responder a algumas cartas e a concelebrar as missas.

Neste período, ele contará ter passado por vários combates contra o demônio. No entanto, a sua amizade com a Santíssima Trindade é cada vez mais forte:

“Ontem durante os exames eu rezei todo o tempo em cima da mesa. Perguntaram-me se eu tinha dores…Claro que sim, na coluna vertebral, em todo o corpo…Mas isso não importa. Eu estava com a Santíssima Trindade”[15].

Ele passará o Tríduo Pascal em grande agonia e no dia 27 de março (segunda-feira de Páscoa) de 1967 aos 73 anos, Frei Maria Eugênio entra na vida eterna.

Misteriosa “coincidência”, as segundas-feiras de Páscoa eram festejadas no Instituto como o dia de Nossa Senhora da Vida. Data escolhida pelo próprio Frei.



EXTENSÃO

Seria impossível descrever todas as obras realizadas pelo Frei Maria Eugênio e aquelas criadas depois da sua morte, extensão do seu amor pela Igreja e pelas almas. As citadas aqui são as obras principais ou aquelas que contribuem ao conhecimento da personalidade do Frei Maria Eugênio.

Sem dúvida, o Instituto Nossa Senhora da Vida será a sua maior obra e a “mãe” de uma série de outras obras que contarão com o trabalho e oração dos seus membros.

É interessante citar a escola “Chênes” pertencente à cidade de Carpentras, fruto de uma preocupação do Frei pelo nível social das jovens daquela época (1943), que lhe parecia inferior ao dos rapazes. Frei Maria Eugênio queria dar uma formação a essas moças do meio rural para capacitá-las ao trabalho e às exigências impostas às mães de família na época.

Atualmente, a escola continua o seu trabalho, abrangendo também a formação de rapazes.

No domínio da educação, certo número de escolas na França e no mundo será estabelecido, oferecendo além do ensino habitual desde o primário até o colégio, uma formação cristã sólida, sobretudo através das preparações para a primeira comunhão e para a crisma.

Outra obra importante e atualmente em crescimento deve ser mencionada:

Preocupado com a formação e santificação dos padres, Frei Maria Eugênio falava em “escola de teologia mística” [16]. Realização que ele verá do céu através da criação do Studium de Nossa Senhora da Vida, instituto de formação teológica e espiritual agregado à Faculdade de Teologia do Teresianum (Roma), o Studium propõe um ensinamento teológico universitário e inseparavelmente uma formação enraizada na vida espiritual.

PROCESSO DE BEATIFICAÇÃO/CANONIZAÇÃO

Aberto no dia 07 abril 1985, o processo de canonização do Frei Maria Eugênio caminha lentamente e enfrenta as dificuldades comuns encontradas nesses trabalhos tão complexos e exigentes. No dia 19 de dezembro de 2011 o Santo Padre Bento XVI assinou o decreto que reconhece as virtudes heroicas do servo de Deus, passando a ser chamado de Venerável Maria-Eugênio do Menino Jesus.
Aprovado o milagre para sua beatificação, o Venerável Servo de Deus, por decreto do Papa Francisco, foi solenemente proclamado BEATO em cerimônia presidida pelo Arcebispo de Avignon, França, no dia 19 de novembro de 2017.


CONCLUSÃO

Terminemos esta pequena biografia do Frei Maria Eugênio deixando além da história, um retrato completo da sua personalidade marcada por muitas oposições e indo ao encontro do que ele mesmo dizia: “O mundo espiritual é cheio de aparentes contradições.” (Guy Gaucher ).



BIBLIOGRAFIA

[1] GAUCHER G. La vie du Père Marie Eugène de l’Enfant Jésus, Paris: Cerf Editions du Carmel, 2011. 368p.
[2] GAUCHER G. La vie du Père Marie Eugène de l’Enfant Jésus, Paris: Cerf Editions du Carmel, 2011. 368p.
[3] Jn 3.1-8
[4] GAUCHER G. La vie du Père Marie Eugène de l’Enfant Jésus, Paris: Cerf Editions du Carmel, 2011. 368p.
[5] Ibid
[6] ESCALLIER C. Marie Pila, Une puissance d’amour non-asservie. Editions du Carmel. 1996. 191p.
[7] Revue du Carmel. Un maître Spirituel. Editions du Carmel. 1988. N°51. 360p.
[8] GAUCHER G. La vie du Père Marie Eugène de l’Enfant Jésus, Paris:Cerf Editions du Carmel, 2011. 368p.
[9] Ibid
[10] Marie Eugène de l’Enfant Jésus. Je veux voir Dieu. Editions du Carmel, 1998. 1150p.
[11] HUBER M.-Th. Les sommets de l’amour, Éd. Fayard, Le Sarment, Paris, 1991, 168 p.
[12] REGUE R. Padre Maria Eugênio do Menino Jesus. Mestre Espiritual para o nosso tempo: Edições Carmelo. 140p.
[13] GAUCHER G. La vie du Père Marie Eugène de l’Enfant Jésus, Paris:Cerf Editions du Carmel, 2011. 368p.
[14] Ibid
[15] Ibid

[16] Lettre 20- Cause Canonisation