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Encontre o (a) Santo (a), Beato (a), Venerável ou Servo (a) de Deus

terça-feira, 31 de janeiro de 2017

SANTA JACINTA MARESCOTTI, Virgem, Terceira Franciscana Regular, grande penitente e mística.



     Clarice de Marescotti era filha de Marcantonio Marescotti e Otávia Orsini, Condessa de Vignanello, localidade próxima de Viterbo, Itália, onde nasceu provavelmente no dia 16 de março de 1585.
     De seus pais recebeu profunda formação religiosa. Entretanto, atingindo a adolescência, Clarice, nobre, bela, tornou-se vaidosa e mundana, buscando apenas divertir-se. Sua preocupação passou a ser vestidos, adornos, entretenimentos e um casamento digno de sua classe social.
     Seu pai se preocupava muito com a salvação da filha. Resolveu mandá-la para o convento onde já estava sua irmã mais velha, que lá era um exemplo de virtude. Clarice foi de má vontade, mas como terceira franciscana, pois alimentava o desejo de sair dele o mais rápido possível para voltar à vida de antes. Tanto insistiu que o pai acabou cedendo.
     Mas, fora, ela não encontrou o que esperava: nenhum casamento apareceu e Clarice viu ainda sua irmã mais nova, Hortência, casar-se com o marquês romano Paulo Capizucci e ela ficar para trás.
     Por insistência da família ela retornou àquele mesmo convento das religiosas da Ordem Terceira Franciscana regular, desta vez como freira, tomando o nome de Jacinta.
     Mas, julgando ela que as celas das freiras eram muito pequenas e pobres, mandou construir uma especial para si, de acordo com sua posição social. Sua cela parecia um bazar pelos luxuosos adornos. Aquilo poderia ficar bem num palácio, destoava do ambiente do convento. Sua piedade é tíbia; a mortificação prescrita, um tédio; até recebe as admoestações com desprezo. Por dez anos levou no convento uma vida mundana.
     Quando completou 30 anos, chegou a hora de Deus e surgiu potente a nobre e católica linhagem que levava dentro de si. Uma grave doença a faz refletir sobre o fogo do Purgatório e do Inferno; tremeu de terror e clamou pelo confessor.
     O Pe. Antônio Biochetti, virtuoso sacerdote, foi atender a doente. Mas, entrando naquele quarto luxuoso recusou-se atender a confissão da freira, dizendo que o Paraíso não era feito para os soberbos. Chorando perguntou-lhe: "Então não há mais salvação para mim?". "Sim — respondeu o religioso — contanto que deixe esses vãos adornos, essas vestimentas suntuosas, e se torne humilde, piedosa, esqueça o mundo e pense só nas coisas do Céu".
     Na manhã seguinte, após ter trocado sua roupa de seda por um pobre hábito, Jacinta fez sua confissão geral com um verdadeiro arrependimento. Depois, no refeitório, aplicou-se forte disciplina diante das irmãs e pediu-lhes perdão pelos maus exemplos que havia dado.
     Nova enfermidade fez com que a ruptura com a vida antiga fosse total. Entregou tudo o que possuía para a superiora e revestiu-se com a mortalha de uma freira que acabava de morrer. Fez o propósito de romper com tudo aquilo que lhe lembrava a antiga vida. Desde então passou a ser chamada de Jacinta de Santa Maria e não mais de Marescotti.
     Trocou sua cama por um feixe de lenha, tendo uma pedra como travesseiro; mortificava-se dia e noite, tomando tão ásperas disciplinas, que o solo de sua cela ficava manchado de sangue. Às sextas-feiras, em memória da sede que Nosso Senhor sofreu na Paixão, colocava um punhado de sal na boca. Sua alimentação passou a ser pão e água. Durante a Quaresma e o Advento, vivia de verduras e raízes apenas cozidas na água.
     Considerando-se como a pior pecadora, escolheu para patronos santos que tinham ofendido a Deus antes de se converterem, como Santo Agostinho, Santa Maria Egipcíaca e Santa Margarida de Cortona. Era devota do Arcanjo São Miguel, amava a contemplação da Paixão de Jesus Cristo, a Missa a levava às lágrimas, as imagens da Virgem Santíssima eram seu refúgio.
     Procurava toda ocasião para se humilhar. Às vezes ia ao refeitório com uma corda ao pescoço, ajoelhava-se diante das freiras, beijava-lhes os pés pedindo perdão pelos maus exemplos passados.
     Ela escreveu a uma religiosa: "Há 14 anos que eu mudei de vida. Durante esse tempo eu rezei algumas vezes quarenta horas seguidas, assisti todos os dias a várias Missas, e me encontro ainda longe da perfeição. Quando poderei servir meu Deus como Ele merece? Reze por mim, minha amiga, para que o Senhor me dê ao menos a esperança".
     Embora se considerasse a mulher mais pecadora, a nomeiam subpriora e mestra de noviças. E a fama de suas virtudes propaga-se por toda a região. Deus recompensou sua fiel serva com dons extraordinários como o de profecia, milagres, conhecer os corações, ser instrumento de conversões e frequentes êxtases.
     A conversão de Francisco Pacini, célebre por seus desmandos, tornou-se famosa. Ouvindo falar dele, a Santa fez jejuns e orações por sua conversão. Convencido por um amigo convertido por Jacinta, Pacini vai ao convento falar com ela. No parlatório, diante daquela pobre freira, começou a tremer e à medida que ela falava, ele foi se transformando, caiu de joelhos e prometeu confessar-se.
     No domingo seguinte, o da Paixão, com os pés descalços e uma corda no pescoço, Pacini, no meio da Igreja pediu perdão a todos por seus crimes e escândalos. Mais tarde revestiu o hábito de peregrino e consagrou sua vida a Deus.
     Jacinta reformou muitos conventos com cartas escritas às superioras relaxadas, admoestando-as dos castigos que as ameaçavam. Por sugestão sua a Duquesa de Farnese e de Savella fundou dois mosteiros de clarissas, um em Farnese, outro em Roma.
     Ela se preocupava com as almas que se extraviavam no pecado e para sua recuperação fundou duas confrarias: a Companhia dos Sacconi, para atendimento material dos enfermos e para ajudá-los a morrer bem; e a Congregação dos Oblatos de Maria para incentivar a piedade, fazer obras de caridade e fomentar o apostolado dos leigos.
     Como não tinha voto de clausura, Jacinta ia visitar os pobres, levando-lhes sempre o auxílio espiritual, além do material. Em seu grande apreço pela nobreza dava assistência especialmente aos nobres empobrecidos e envergonhados.
     Santa Jacinta de Marescotti entregou sua bela alma a Deus em 30 de janeiro de 1640. Foi canonizada em 1807 pelo Papa Pio VII. É festejada no dia de seu nascimento para o Céu.


Fontes: Les Petits Bollandistes, Vies des Saints, d’après le Père Giry, Paris, Bloud et Barral, Libraires-Éditeurs, 1882, tomo II, pp. 348 a 356 ; Manuel de Castro, O.F.M., Santa Jacinta de Marescotti, in Santoral Franciscano.











Santa Jacinta Marescotti (corpo incorrupto)

Beato Maria-Eugênio do Menino Jesus, presbítero carmelita descalço e fundador do Instituto Nossa Senhora da Vida.




“Contemplativo e ativo; temperamento de chefe e pobre homem; extraordinário em certas graças e ordinário no cotidiano; determinado a caminhar e paciente; impregnado de vida sobrenatural e atento aos mínimos detalhes da vida material (desde o corte da vinha até a construção de edifícios importantes); pai espiritual e filho de Deus; forte e fraco; exigente e cheio de bondade paterna; inspirador, às vezes, de temor e atraente por seus fortes carismas; ávido de solidão e apóstolo percorrendo o mundo; escritor prolixo e fundador profético; batalhador e calmo; camponês e teólogo; mortificado e livre de tudo; pregador incansável e ávido de oração; sofrendo e se entusiasmando sempre; místico e apreciador do rir, herdeiro da grande Tradição católica e aberto ao mundo moderno”.

(Guy Gaucher)

FAMÍLIA

Frei Maria-Eugênio (criança)Nasceu em 02 de dezembro de 1894 no Gua, cidadezinha situada na região de Aveyron no sul da França e foi batizado no dia 13 de dezembro do mesmo ano. Frei Maria Eugênio do Menino Jesus, no século, Henrique Grialou, era o terceiro de uma família de 05 irmãos. Seu pai, Augusto Grialou, trabalhava numa mina de carvão e sua mãe, Maria, em um pequeno restaurante que ela mesma havia aberto em sua casa e que ela irá abandonar em seguida para melhor cuidar dos seus filhos. Muito cristãos e com poucos recursos, foram Augusto e Maria que construíram com as próprias mãos, a casa da família onde todos viviam numa atmosfera de pobreza, ternura e fé católica.

Em agosto de 1904, atingido por uma pneumonia, Augusto morre deixando os filhos: Mário, o mais velho com 15 anos, Ângela com 11 anos, Henrique com 10 anos, Fernanda com três anos e Berta ainda bebê com apenas um ano. O próprio Henrique será o padrinho de batismo desta última.

Sem o marido, Maria vai trabalhar dobrado para sustentar a família. Muitas vezes, como lavadeira de roupas, ela deverá quebrar o gelo do reservatório de água que o frio congelara, antes de começar o trabalho ao ar livre como se fazia na época.



CHAMADO AO SACERDÓCIO

Ainda jovem, o menino Henrique sente o chamado para o sacerdócio e vai tomar as iniciativas necessárias para levar a termo o “sim” que ele dará a Deus antes de seus 11 anos.

Ciente da vocação de Henrique, o padre da sua paróquia quer que ele estude no seminário de Graves, mas as condições financeiras da família não lhe permitem. Henrique, que tem apenas 11 anos, vai aproveitar a visita de um sacerdote da Congregação do Espírito Santo que passa pela região para aceitar o convite de fazer seus estudos fora da França, pois os religiosos tinham sido expulsos pela República Francesa.

Em 1905, ele tomará sozinho o trem para Susa na Itália e aí ficará cerca de três anos sem poder rever a família. No entanto, ele perceberá que esta congregação não corresponde à sua vocação e ele voltará então, à sua cidade natal.

Em 1908, Henrique descobre o livro da vida de uma carmelita que se tornará para ele, uma grande amiga e que o acompanhará para sempre: a Irmã Teresinha do Menino Jesus, ainda em processo de beatificação .

No dia 2 de outubro de 1911, graças à sua mãe Maria que, muito batalhadora, decide pagar os seus estudos, ele entrará para o seminário de Rodez, não muito longe do Gua e começará uma etapa de discernimento buscando a vontade de Deus para a sua vida.

Henrique será tido como um seminarista exemplar, cheio de ardor espiritual mas também muito generoso e preocupado com os outros.

Reconhecendo a importância deste período de formação ele dirá:

“Durante o seminário é preciso reservar força e coragem; acender em nossos corações uma brasa de amor que nada possa apagar”[1].


Frei Maria-Eugênio na guerra
O Beato no centro da foto, quando lutou na
I Guerra Mundial.


PRIMEIRA GUERRA

Em 1913, Henrique deverá interromper seus estudos de teologia para se preparar para partir para a guerra como cabo de infantaria, no dia 3 de agosto de 1914.

Muitos foram os relatos de militares 
na I Guerra a respeito de uma 
"freira carmelita" que os protegia 
e até mesmo os curava de 
seus ferimentos causados pelas batalhas. 






Poucos dias depois, ele será atingido por uma bala no rosto que não lhe causará graves problemas. Ele atribui a sua sobrevivência nesta e em todas as outras situações de perigo à proteção da Irmã Teresinha do Menino Jesus:


“A Irmã Teresa afasta as balas”

Ele se oferecerá para voltar para a frente de combate e substituir um soldado, pai de quatro filhos.

Corajoso, ele será nomeado tenente e conquistará a admiração de seus soldados. Ele vigiará sobre as condições alimentares de cada um e criará atividades extras para ocupá-los no tempo livre e evitar que eles se entreguem a atitudes imorais bastante comuns naquelas condições de guerra.

Depois de 04 anos, ele voltará da guerra condecorado por sua coragem e intrepidez.


SEMINÁRIO

Em outubro de 1919, Henrique Grialou pôde finalmente retomar os estudos no seminário de Rodez. Ele que já conhecia muito bem a Irmã Teresinha do Menino Jesus, vai aí aprofundar a sua amizade com o Carmelo através das leituras de São João da Cruz e de Santa Teresa de Jesus.

Em seu retiro para o subdiaconato, ele se sentirá extremamente tocado pela leitura de uma pequena biografia de São João da Cruz e decidirá de mediato a entrar para a Ordem do Carmelo respondendo ao chamado de uma entrega absoluta que já habitava o seu coração.

Depois da decisão tomada, será preciso enfrentar duas provações principais que ameaçavam a realização dos projetos de Deus na vocação de Henrique: uma forte resistência do seu diretor espiritual, o Padre Belmon que não queria ouvir falar em Carmelo para ele; e a grande oposição de sua mãe que ameaçava de se suicidar caso o seu filho se fechasse em uma congregação de clausura. Ela imaginava que se Henrique fosse padre diocesano, ela poderia participar mais de perto da sua vida mas, se ele entrasse para o Carmelo, ela seria privada definitivamente desta proximidade.

No dia 04 de fevereiro de 1922 ele será ordenado sacerdote e apesar das grandes contradições, experimenta uma profunda alegria:

“Eu sou Padre! Padre por toda a eternidade! Eu repito essas palavras hoje sem me cansar experimentando a cada vez, uma alegria nova… E amanhã, (dia em que presidirá sua primeira missa), à minha voz, tu virás, eu te segurarei em minhas mãos e te darei…Jesus, tu serás meu amanhã e todos os dias da minha vida. E a ti, oh Virgem Maria, eu devo tudo, pois tu és minha mãe e enquanto eu for padre eu quero continuar sendo teu filho”[2].

Pela sua paciência e obediência, ele obteve a permissão do diretor espiritual para entrar na Ordem do Carmelo. Quanto à sua mãe, procurava consolá-la e fortalecê-la através de cartas muito carinhosas e espirituais, mas só depois de muito tempo, com a ajuda de Berta, sua irmã mais nova, dona Maria recobrou a confiança.


O CARMELO

No dia 24 de fevereiro de 1922, Frei Maria Eugênio, entra para o Carmelo de Avon.

O dia de sua chegada será marcado por uma reflexão profunda sobre as palavras de Jesus a Nicodemos: “Em verdade vos digo, ninguém pode ver o Reino de Deus se não nascer de novo”[3]. Ele as tomará para si e dirá: “Essas palavras são luminosas para mim hoje. Eu preciso renascer completamente em uma vida nova[4]”.


Frei Mari-Eugênio (carmelita)Como religioso carmelita, ele recebe o nome de Frei Maria Eugênio do Menino Jesus, fato que será para ele, uma prova de que mais que uma amiga, Santa Teresinha agora é sua irmã.

Sacerdote, homem maduro, ex-tenente de guerra, ele tem 28 anos e começa a sua primeira etapa de formação no Carmelo.

Ele viverá o seu noviciado completamente entregue à vida de oração e através dela, ele aprofundará a sua amizade com Deus segundo os ensinamentos dos santos do Carmelo.

“A oração é de uma certa maneira, o sol e o centro de todas as atividades do dia. Todas as noites, temos a impressão de ter feito somente isso de importante[5]”.

Adepto à penitência e à mortificação, ele colocará sua saúde em risco e será obrigado por seus superiores a abandonar tamanha austeridade. Ele confessará mais tarde, ter chegado ao extremo de suas forças. Foi com a descoberta da pequena via da irmã Teresinha do Menino Jesus, que o Frei Maria Eugênio compreende que “não se deve matar as forças da natureza – como dizia o seu mestre de noviço – mas, purificá-las a serviço do amor”.

Este período onde ele se alimentará particularmente da doutrina dos santos do Carmelo, coincidirá com três momentos importantes para a Ordem e para a Igreja: a beatificação da irmã Teresinha do Menino Jesus (29 abril 1923) e sua canonização (17 março 1925); e o doutorado de São João da Cruz (24 agosto 1926).

Entre 1924 e 1928 ele vai morar no convento de Lille (capital do Norte da França) e já com maturidade e experiência suficientes, ele fará muitas conferências sobre os santos do Carmelo em vários conventos, igrejas e monastérios colocando a serviço de Deus o seu dom de pregador. Aí, ele estabelecerá muitos contatos com filósofos, intelectuais e até industriais da região.

Em 1925, ele será nomeado diretor da revista “Carmelo” onde ele mesmo escreverá alguns artigos dignos da admiração dos mais entendidos. Ele utilizará, com sucesso, a divulgação desta revista nos Carmelos da França para favorecer a união entre os carmelos feminino e masculino que viviam uma espécie de separação desde o século XVII na França.

No dia 11 de março de 1926, ele fará sua profissão solene acompanhado por Berta que, no dia seguinte, entrará para a Ordem Terceira do Carmelo recebendo o nome de “Maria Eugênio”.

Para Frei Maria Eugênio, a doutrina do Carmelo é um “tesouro” e não deve se limitar aos religiosos. Ele tem sede de divulgá-la ao mundo para que todas as pessoas possam conhecer o Deus de amor que está vivo, presente em cada pessoa pela graça do batismo e com quem se pode estabelecer um contato de amizade de maneira muito simples, particularmente através da oração.

No dia 14 agosto de 1928 ele é nomeado superior de um seminário menor dos carmelitas, o Petit Castelet, situado em pleno campo, perto da pequena cidade de Tarascon. Ele aceitará a nomeação com dor, mas, também com espírito de fé e grande confiança nos desígnios de Deus.

Com efeito, em 1929, ele receberá a visita de 03 moças, professoras e responsáveis de uma escola em Marselha que desejam entregar suas vidas a Deus e receber a ciência da oração carmelitana.

Frei Maria Eugênio verá nesta visita, uma resposta às suas intuições interiores.

Ele espera com paciência o momento oportuno de colocar em prática seus projetos e atende ao pedido de estabelecer em Marselha, cursos de oração para um público de filósofos e professores da Universidade de Aix-Marseille apaixonados pela espiritualidade do Carmelo.



Imagem de Nossa Senhora da Vida
Nossa Senhora da Vida
A FUNDAÇÃO DE NOSSA SENHORA DA VIDA

Em 1931, uma senhora de sobrenome Lemaire, oferece ao Carmelo, um terreno localizado em meio às colinas e á floresta do vale de Venasque, cidadezinha do território de Vaucluse, evangelizada por São Sifrein no século VI.

Com a doação do terreno, a senhora Lemaire doará também, o santuário de Nossa Senhora da Vida aí presente também desde o século VI aonde muitos peregrinos vinham realizar as suas devoções à Virgem Maria consagrando os seus filhos a ela, ou pedindo por eles a cura em situação grave de saúde.

Certo dia, as 03 professoras que haviam visitado o padre no Petit Castelet procuraram-no para realizar uma atitude de dom de si mesmas mais concreta: “Nós vos oferecemos tudo o que temos. Diga-nos o que devemos fazer , e nós o faremos[6]”.

A providência mostrava assim que a intuição do Frei Maria Eugênio correspondia à vontade de Deus e o Instituto Nossa Senhora da Vida começava a dar seus primeiros passos com a aprovação da Igreja através do arcebispo de Avignon.

Fundado em 1932, sem muitos recursos materiais nem regras precisas, a única certeza do fundador era de fazer a vontade de Deus. As regras e constituições virão com o passar do tempo e a experiência dos primeiros anos.

As três pioneiras serão: Germaine Romieu, Joana Grousset e Maria Pila que será o braço direito do Frei Maria-Eugênio e cofundadora do Instituto.

Beato Maria-Eugênio e Maria Pila, sua fiel colaboradora
e co-fundadora do Instituto Nossa Senhora da Vida.


As três vão começar por abandonar o trabalho durante um ano e retirar-se em Nossa Senhora da Vida para um período de formação e recolhimento. Elas o farão, cada uma em um ano diferente, permitindo que a escola em Marselha continue a funcionar.

Assim, o Instituto começa a se modelar segundo os desejos do padre Maria Eugênio de formar “apóstolos contemplativos”, ou seja, homens e mulheres que, abastecidos pelo Espirito Santo através da oração cotidiana, testemunham no seu trabalho e em todos os lugares, a existência de Deus e o Seu amor por todos os homens.


AS MUITAS FUNÇÕES NO CARMELO: TRABALHANDO PELA IGREJA

Apesar da sua fundação (o Instituto Nossa Senhora da Vida), Frei Maria Eugênio não abandonará suas atividades na Ordem do Carmelo, mas, ao contrário, ele passará toda a sua vida servindo-a não obstante todas as dificuldades. Isso exigirá dele, trabalho dobrado, pois ele deverá atender às muitas solicitações dos Carmelos da França e no exterior e também, dar atenção e uma formação sólida aos membros do seu Instituto. Em 1932 ele será prior do Noviciado de Agen e confessor das carmelitas de Avignon e de Carpentras, duas cidades próximas de Venasque.

Este ministério, o acompanhará até o fim da sua vida, o que o permitirá adquirir uma vasta experiência como diretor espiritual. Herdeiro da sabedoria da santa Madre Teresa de Jesus, ele tinha facilidade para conduzir as almas, o que fará uma carmelita (irmã Maria do Salvador) acompanhada por ele durante 40 anos dizer que: “ele tinha: um julgamento esclarecido por seus profundos conhecimentos psicológicos”.
(Un maître Spirituel. Le Père Marie Eugène de l’Enfant Jésus)

Ainda jovem ele será conhecido como o “alma de fogo”[7] tal era o seu entusiasmo pelas coisas de Deus; mas também será tido como um homem muito concreto, com os pés no chão, capaz de discutir sobre as necessidades materiais dos Carmelos e dos religiosos.

Com um forte sotaque de Aveyron, ele será por vezes desprezado pelos intelectuais da época. No entanto, Frei Maria Eugênio os surpreenderá com a sua simplicidade e inteligência mostradas em suas conferências que, aliás, eram cheias de ardor e com uma pitada de bom humor bem dosada para divertir o público. Ele gostava de rir e de contar histórias para ajudar na compreensão dos assuntos espirituais e para isso, fazia referência a objetos ou aos elementos da natureza:


“A fé é uma antena, ela toca Deus que reage mas nós não sentimos nada. A fé é obscura. Nós temos vocação de coruja.” (Regue M. R Padre Maria Eugênio do Menino Jesus. Mestre Espiritual para o nosso tempo )

No ano de 1936 ele será nomeado prior do Convento de Estudos de Monte-Carlo e também dará aulas de Direito Canônico e de História da Filosofia.

Em 1937, grande alegria para o Frei Maria Eugênio: depois de cinco anos de fundação, a Igreja reconhece oficialmente o Instituto Nossa Senhora da Vida como Fraternidade Secular da Ordem Terceira de Nossa Senhora do Monte Carmelo e de Santa Teresa.

No dia 17 de abril de 1937, aos 43 anos, Frei Maria Eugênio do Menino Jesus será nomeado Definidor Geral da Ordem e ele manterá esta função até o ano de 1955.

Este período foi marcado por muitos acontecimentos importantes.

Em novembro de 1937 morre a sua mãe Maria Grialou.

Em 1939, Berta Grialou, antes muito indecisa, resolve entrar para o Instituto Nossa Senhora da Vida. Irmã do fundador, os dois manterão uma grande discrição a este respeito para não provocar ciúmes aos outros membros da comunidade.

Neste mesmo ano, a II Guerra Mundial intervirá novamente na vida do Frei Maria Eugênio.

Tenente durante a I Guerra, ele agora é convocado como capitão.

Suas funções como Definidor deverão esperá-lo até o ano de 1940 quando ele será liberado da guerra.

Suas principais preocupações agora são, mais uma vez, os soldados tratados por ele com exigência e paternidade. Um exemplo concreto é o “Lar do Soldado”, espaço criado pelo Frei onde eles podiam assistir às peças de teatro, filmes, ler bons livros e também encontrar uma boa comida. Um deles dirá: “Para mim Grialou é o Bom Deus”[8].

Liberado da guerra ele pode retomar suas atividades no Carmelo mas, tudo não está resolvido; a guerra não terminou e quase não há trens para ir a Roma. Obrigado a ficar na França, Frei Maria Eugênio não perderá tempo. Aproveitará para visitar os Carmelos não destruídos, confortando os religiosos e religiosas e somente no ano de 1941, ele pregará em cerca de 21 retiros.

Em 1945 a guerra termina e em 1946 ele retornará a Roma.

Março de 1947: o Instituto Notre Dame de Vie será agregado a Ordem do Carmelo. Futuramente, Frei Maria Eugênio dirá:

“Para separar o Instituto Nossa Senhora da Vida do espírito do Carmelo, seria preciso queimar a sua Regra”[9].

A experiência do Frei (viagens, conferências, conversações e estudos) lhe ajudará a entender que, independente da nacionalidade ou da cultura, todas as pessoas têm sede de Deus. Assim, apesar de todas as suas responsabilidades e do cansaço devido às viagens, ele publicará a 1ᵃ parte do livro “Eu Quero Ver a Deus” em 1949 e acrescentará a 2ᵃ parte “Eu sou Filha da Igreja” em 1951. As duas partes formarão uma só resposta ao desejo do homem de buscar o seu Criador caminhando progressivamente até chegar a um “mundo novo”[10] onde se encontra a perfeição do amor.

Em 1951 o Papa Pio XII quer que as carmelitas consagrem uma hora por dia para o catecismo, pois ele acredita que, com a sua boa formação, elas poderiam ajudar os sacerdotes indo ao encontro dos catecúmenos.

Definidor da Ordem, carmelita fiel até as entranhas, Frei Maria Eugênio reage. A vida contemplativa do Carmelo está ameaçada. Ele não deseja contrariar o Santo Padre; “se fosse preciso escolher entre o Carmelo e a Igreja, eu escolheria a Igreja” [11], disse ele certa vez; mas, quer ajudar o Papa no discernimento desta decisão importantíssima para o Carmelo e a Igreja. Ele tratará da questão com sofrimento e submissão e finalmente, o Carmelo conservará a clausura.

Em 1954, morre o Vigário Geral do Carmelo e é Frei Maria Eugênio então I Definidor da Ordem quem irá substituí-lo.

Será em uma de suas viagens como Vigário Geral que ele visitará as Filipinas e que Nossa Senhora da Vida começará a se difundir pelo mundo por aí começando. O Instituto se instalará em seguida, na Alemanha e no México chegando progressivamente ao número de mais de 20 países até os dias atuais.

Em 1955, o Capítulo Geral da Ordem não reelegerá Frei Maria Eugênio como Vigário Geral provavelmente por causa da sua personalidade exigente e sua fidelidade ao espírito do Carmelo. Assim, ele voltará ao Petit Castelet na França e, como um simples religioso, ele participará das recreações com os outros, ajudará nos serviços de limpeza do monastério, será leitor durante as refeições, etc.… Ritmo de vida a qual ele se adaptará facilmente, mas que durará apenas seis meses pois ele será eleito prior.

Homem espiritual e pragmático, ele se preocupa até mesmo com a preparação dos retiros realizados no Petit Castelet. Para ele, existe uma estratégia de sucesso: dormir e comer bem, garantem um êxito de 75%.

Em 1957 ele será nomeado Provincial dos carmelitas de Avignon-Aquitaine.

No dia 2 de janeiro de 1958, mais um momento de sofrimento para o Frei Maria Eugênio, causado pela morte de sua irmã Berta, vítima de uma crise cardíaca. Ele mesmo testemunhará a seu respeito: “Eu ensinei e ela realizou” e falando de seus próprios sentimentos:

“A paternidade espiritual, assim como a maternidade espiritual, encontra a sua fecundidade nas feridas do coração…A fecundidade jorra dessas feridas”[12].

Em 1961 ele conseguirá uma autorização para morar em Nossa Senhora da Vida.


ÚLTIMOS ANOS

Em 1965, uma pneumonia grave o fará pensar que o fim de seus dias se aproxima e ele chamará toda a comunidade de Nossa Senhora da Vida para revelar-lhe alguns segredos profundos do seu coração e deixar-lhe o seu testamento espiritual:

 “Vocês perceberam provavelmente que quando eu falo do Espírito Santo, eu me inflamo muito facilmente. Eu O chamo meu Amigo e creio ter razões para isto…Eu quero pedir para vocês o Espírito Santo. Este é o testamento que eu vos deixo! Que Ele desça sobre vocês e que vocês possam dizer o mais rápido possível que o Espírito Santo é vosso amigo, vossa luz e vosso mestre. Esta é a oração que eu vou continuar a fazer nesta terra enquanto o Bom Deus me deixar aqui e que eu continuarei certamente durante a eternidade”[13].

Esta pneumonia não tirará sua vida nem o impedirá de trabalhar pela Igreja durante o tempo que lhe resta e apesar do cansaço, enquanto Provincial, ele continuará a visitar os Carmelos, a fazer conferências, ademais, ele continuará a acompanhar de perto o grupo e Nossa Senhora da Vida que agora está bem estruturado com suas três ramificações, sendo duas para leigos (homens e mulheres) consagrados e a terceira para sacerdotes diocesanos. Todos comprometidos com uma vida de oração intensa e a serem testemunhos de Deus para todos, guardando o duplo espírito de “ação e contemplação bem unidas” como o dizia o fundador.

Em 1967 atingido por um câncer de próstata que ele chamará de “um pequeno acontecimento [14]”, Frei Maria Eugênio deverá deixar suas atividades definitivamente, mas continuará a responder a algumas cartas e a concelebrar as missas.

Neste período, ele contará ter passado por vários combates contra o demônio. No entanto, a sua amizade com a Santíssima Trindade é cada vez mais forte:

“Ontem durante os exames eu rezei todo o tempo em cima da mesa. Perguntaram-me se eu tinha dores…Claro que sim, na coluna vertebral, em todo o corpo…Mas isso não importa. Eu estava com a Santíssima Trindade”[15].

Ele passará o Tríduo Pascal em grande agonia e no dia 27 de março (segunda-feira de Páscoa) de 1967 aos 73 anos, Frei Maria Eugênio entra na vida eterna.

Misteriosa “coincidência”, as segundas-feiras de Páscoa eram festejadas no Instituto como o dia de Nossa Senhora da Vida. Data escolhida pelo próprio Frei.



EXTENSÃO

Seria impossível descrever todas as obras realizadas pelo Frei Maria Eugênio e aquelas criadas depois da sua morte, extensão do seu amor pela Igreja e pelas almas. As citadas aqui são as obras principais ou aquelas que contribuem ao conhecimento da personalidade do Frei Maria Eugênio.

Sem dúvida, o Instituto Nossa Senhora da Vida será a sua maior obra e a “mãe” de uma série de outras obras que contarão com o trabalho e oração dos seus membros.

É interessante citar a escola “Chênes” pertencente à cidade de Carpentras, fruto de uma preocupação do Frei pelo nível social das jovens daquela época (1943), que lhe parecia inferior ao dos rapazes. Frei Maria Eugênio queria dar uma formação a essas moças do meio rural para capacitá-las ao trabalho e às exigências impostas às mães de família na época.

Atualmente, a escola continua o seu trabalho, abrangendo também a formação de rapazes.

No domínio da educação, certo número de escolas na França e no mundo será estabelecido, oferecendo além do ensino habitual desde o primário até o colégio, uma formação cristã sólida, sobretudo através das preparações para a primeira comunhão e para a crisma.

Outra obra importante e atualmente em crescimento deve ser mencionada:

Preocupado com a formação e santificação dos padres, Frei Maria Eugênio falava em “escola de teologia mística” [16]. Realização que ele verá do céu através da criação do Studium de Nossa Senhora da Vida, instituto de formação teológica e espiritual agregado à Faculdade de Teologia do Teresianum (Roma), o Studium propõe um ensinamento teológico universitário e inseparavelmente uma formação enraizada na vida espiritual.


PROCESSO DE BEATIFICAÇÃO/CANONIZAÇÃO

Aberto no dia 07 abril 1985, o processo de canonização do Frei Maria Eugênio caminha lentamente e enfrenta as dificuldades comuns encontradas nesses trabalhos tão complexos e exigentes. No dia 19 de dezembro de 2011 o Santo Padre Bento XVI assinou o decreto que reconhece as virtudes heroicas do servo de Deus, passando a ser chamado de Venerável Maria-Eugênio do Menino Jesus.
Aprovado o milagre para sua beatificação, o Venerável Servo de Deus, por decreto do Papa Francisco, foi solenemente proclamado BEATO em cerimônia presidida pelo Arcebispo de Avignon, França, no dia 19 de novembro de 2017.


CONCLUSÃO

Terminemos esta pequena biografia do Frei Maria Eugênio deixando além da história, um retrato completo da sua personalidade marcada por muitas oposições e indo ao encontro do que ele mesmo dizia: “O mundo espiritual é cheio de aparentes contradições.” (Mgr Guy Gaucher ).

BIBLIOGRAFIA

[1] GAUCHER G. La vie du Père Marie Eugène de l’Enfant Jésus, Paris: Cerf Editions du Carmel, 2011. 368p.
[2] GAUCHER G. La vie du Père Marie Eugène de l’Enfant Jésus, Paris: Cerf Editions du Carmel, 2011. 368p.
[3] Jn 3.1-8
[4] GAUCHER G. La vie du Père Marie Eugène de l’Enfant Jésus, Paris: Cerf Editions du Carmel, 2011. 368p.
[5] Ibid
[6] ESCALLIER C. Marie Pila, Une puissance d’amour non-asservie. Editions du Carmel. 1996. 191p.
[7] Revue du Carmel. Un maître Spirituel. Editions du Carmel. 1988. N°51. 360p.
[8] GAUCHER G. La vie du Père Marie Eugène de l’Enfant Jésus, Paris:Cerf Editions du Carmel, 2011. 368p.
[9] Ibid
[10] Marie Eugène de l’Enfant Jésus. Je veux voir Dieu. Editions du Carmel, 1998. 1150p.
[11] HUBER M.-Th. Les sommets de l’amour, Éd. Fayard, Le Sarment, Paris, 1991, 168 p.
[12] REGUE R. Padre Maria Eugênio do Menino Jesus. Mestre Espiritual para o nosso tempo: Edições Carmelo. 140p.
[13] GAUCHER G. La vie du Père Marie Eugène de l’Enfant Jésus, Paris:Cerf Editions du Carmel, 2011. 368p.
[14] Ibid
[15] Ibid

[16] Lettre 20- Cause Canonisation



Fonte: site do Instituto Nossa Senhora da Vida. 

domingo, 29 de janeiro de 2017

Beato Honorato de Biala Kozminski, presbítero capuchinho (1829-1916). Fundador de várias Congregações religiosas. Beatificado por São João Paulo II no dia 16 de outubro de 1988.



O capuchinho polonês Frei Honorato de Biala, no batismo Vencesalu Kozminki, fundador de 17 congregações religiosas ainda atuantes, e mais oito, ou talvez dez que foram extintas, nasceu em Biala Podlaska (Polônia) aos 16 de outubro de 1829. Estevão e Laexandrina Kalh foram seus pais. Frei Honorato faleceu aos 16 de dezembro de 1916 em Nowe-Miasto.

Da família recebeu educação profundamente cristã, e após a escola básica, em sua cidade, fez os estudos ginasiais em Plock. Em 1844 inscreveu-se na Escola Superior de Belas Artes em Varsóvia, onde, influenciado por ideologias iluministas e pelo ambiente ateu, perdeu a fé. Em 1846, suspeito de pertencer a uma organização política duvidosa, foi encarcerado em Varsóvia pela polícia do Czar, onde contraiu tifo e viveu sob o terror da condenação à pena de morte até 27 de março de 1847, quando, contra toda esperança, foi libertado. Contudo, aos 15 de agosto de 1846, festa da Assunção, retornou a fé. Aos 21 de dezembro de 1948, após ter lutado contra ele mesmo em deixar sua mãe queridíssima enferma, entrou no noviciado dos capuchinhos de Luabartow.

Apenas ordenado presbítero, dia 27 de dezembro de 1852, foi feito professor de sacra eloqüência e de teologia dos clérigos capuchinhos, penitenciário dos hereges convertidos, conselheiro na Província, por um ano superior no convento de Varsóvia e, nos anos 1895 a 1916, comissário geral dos capuchinhos colocados sob a dominação russa. Distinguiu-se, de maneira especial, como pregador e iluminado diretor de espíritos, desde seu tempo de jovem sacerdote, quando, nos anos de 1853-1864, estava empenhado em pregações nas diversas igrejas de Varsóvia. Responsável pelos membros da Ordem Franciscana Secular, não se limitou a promover a vida devocional, mas os quis empenhados numa fervorosa atividade caritativa e social.

Nesse tempo conheceu Sofia Truszkowska, da qual foi seu diretor espiritual. Não foi apenas alguém responsável de formar e manter grupos de homens e mulheres dedicados a rezar o rosário, mas os estimulou à atividade caritativa. Após a insurreição contra os russos, em janeiro de 1863, terminada desastrosamente, tendo sido condenadas à extinção todas as ordens religiosas pelo governo, Frei Honorato foi confinado primeiro no convento de Zakroczym, onde permaneceu até 1892, e depois no de Nowe-Miasto. Ele procurou salvar a fé católica e o espírito patriótico de seu povo contra as perseguições czaristas que queriam separar a igreja polonesa da igreja de Roma para inseri-la na instrumentalizada igreja ortodoxa.

Os meios, por ele escolhidos para realização de seu projeto, foram: a devoção Mariana e a Ordem Franciscana Secular que, com a autorização do Ministro Geral dos capuchinhos, submeteu a uma reformulação radical. Uma vez que a lei civil impedia de fazer apostolado e de receber noviços (assim as congregações religiosas iriam morrendo aos poucos), e quem desejasse ser religioso deveria buscar o exílio em outros países, fr. Honorato proibia de deixar o país a quem lhe pedisse conselho, e orientava a viver os conselhos evangélicos na Ordem Franciscana Secular, assim como se encontravam na vida civil, sem hábito, sem convento, disfarçadamente.

Enquanto isso, Frei Honorato estudava o Evangelho, do qual não só alimentava o espírito, mas, buscava também formas de vida religiosa. Tomou como modelo a Sagrada Família de Nazaré. O seu referencial básico, neste modelo, era a vida escondida (aos freis fora vetado a saída do convento) e ele procurou passar esse ideal aos que o procuravam e viviam no mundo. Com termos precisos, prescreveu esse projeto de vida em todas as constituições e nos diretórios dos institutos de vida consagrada que ele ia fundando para viverem no mundo. Para ele, a vida escondida não é exigência contingente imposta pelas particulares contingências sócio-políticas em que vivia a Polônia, naquele momento, mas sim um postulado do Evangelho. Por isso, escreveu: Nestas congregações é observada a vida escondida aos olhos do mundo. Esse modo de viver a vida religiosa não é sugerida somente por motivos de prudência ou de necessidade, mas pelo empenho de imitar a vida escondida da Virgem. Esta forma, que não está sujeitada às vicissitudes das circunstâncias externas sociais e políticas, é voluntariamente escolhida por cada um porque ela é amável em si mesma, porque permite maior glória de Deus, mais fácil progresso espiritual e mais segura salvação.

No confessionário de Zakroczim nasceram numerosos institutos ou congregações, cada uma delas, buscando atingir aspectos particulares da vida: os intelectuais, os jovens, os operários de construção e mercados, operárias das fábricas, às domésticas, as crianças, os doentes, os artesãos, os agricultores, e os lugares e atividades com as quais se podia ajudar ao próximo e influir numa vasta rede de pessoas, como as pensões e restaurantes, as livrarias e bibliotecas, as escolas, as salas de costura e as lojas de compras.

Pela irradiação do apostolado dos seus religiosos, quis que cada congregação fosse formada por três tipos diversos de membros: o primeiro, formado por religiosos que, vivendo em comum, tinham a tarefa de acolher e dirigir os outros; o segundo, constituído por religiosos com votos temporários que viviam junto às próprias famílias ou em pequenos grupos, chamados os “unidos” e as “unidas”, sendo este o elemento mais dinâmico de cada congregação por ele fundada, que tinham maior possibilidade de influir sobre os demais com o apostolado ativo e com o exemplo; o terceiro grupo acolhia pessoas da OFS particularmente empenhados na colaboração apostólica.

Todos estes religiosos viviam em trajes civis, e seu modo de vida foi confirmado pela Santa Sé com o decreto Ecclesia catholica, de 21 de junho de 1889. Seja por circunstâncias históricas particulares, seja pela intuição dos sinais dos tempos que um apóstolo dos tempos modernos teve, uma dezena de institutos seculares encontraram na Igreja espaço, de direito e de fato, dos quais Frei Honorato foi o pioneiro. Mas a experiência teve duração breve, porque, por causa das recriminações e denúncias contra esta novidade na vida religiosa, fora das tradicionais formas canônicas, em 1907 foram impostas restrições que eliminaram os “unidos” e as “unidas”. O velho fundador não deixou de defender a forma de vida e de apostolado religioso que, imposta pelas circunstâncias histórico-ambientais particulares, tinham produzido muitos frutos.


Quando, em 1905, não estava mais em condições de receber pessoas no seu confessionário por motivo de surdez, Frei Honorato aplicou-se ao estudo, dedicando- se a intensa atividade epistolar com seus filhos espirituais. As cartas manuscritas – quase 4.000 – foram conservadas em Varsóvia, no arquivo da vice-postulação, onde formam 21 volumes. No mesmo arquivo estão guardados numerosos discursos seus  e vasta quantidade de obras, em grande parte manuscritas, que ele vinha escrevendo desde sua juventude. Estas se referem à ascese, à mariologia, à hagiografia, à história, à homilética, à regra da OFS e às constituições das diversas congregações, traduções para o polonês etc. Digna de menção, autêntica enciclopédia mariana, é a obra intitulada: “Quem é Maria?”, organizada em 52 tomos e 76 volumes, dos quais somente o primeiro foi publicado em diversas edições. Interessante, ainda, para o conhecimento da vida espiritual e do empenho apostólico de Frei Honorato, é o seu Diário Espiritual no qual lemos: “Desde o meu primeiro momento no ingresso da Ordem, sempre busquei isso: fazer conhecer aos homens o amor de Deus”.

Das quase cem obras escritas por Frei Honorato, 41 ainda permanecem inéditas. Frei Honorato morreu em conceito de santidade aos 16 de dezembro de 1916, com 87 anos de idade. Sepultado na cripta do convento de Nowe-Miasto, de onde, aos 10 de dezembro de 1975, após o “reconhecimento”, foi transladado para a igreja superior. Finalmente, aos 16 de outubro de 1988, o papa João Paulo II o proclamou bem-aventurado.




Fonte: “Santos Franciscanos para cada dia”, Ed. Porziuncola.