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Encontre o (a) Santo (a), Beato (a), Venerável ou Servo (a) de Deus

sexta-feira, 30 de setembro de 2016

SANTOS POPULARES: "Bento do Portão", conhecido no bairro Santo Amaro, São Paulo.



Antônio Bento tornou-se figura de devoção em Santo Amaro. Bento do Portão como se tornou conhecido, viveu em boa parte de sua existência em Santo Amaro espalhando bondade, com labor da vida diária, ora carregando lenha, fonte de energia local e da cidade como um todo, ora sendo o “agueiro” recolhido das minas d’água da Iguatinga, recebendo as benesses populares desta labuta, tendo como “morada” o portão do Cemitério de Santo Amaro ou acomodava-se diante da ombreira e verga das grandes portas das residências dos domicílios de onde usufruísse de seu sustento... Mais um santo popular, que talvez nunca seja beatificado ou canonizado, visto que o Brasil, infelizmente, é a terra do “esquecimento” de seus santos. Se tivesse vivido na Itália, por exemplo, muito possivelmente já seria um Servo de Deus ou até mesmo um Venerável... Quem sabe?


Antônio Bento, mais conhecido como Bento do Portão, nasceu na Bahia no dia 29 de janeiro de 1875. Segundo relatos de moradores mais antigos, Bento veio a pé do estado baiano até chegar em Santo Amaro (antiga cidade que depois passou a ser considerada bairro na capital paulista).

Inicialmente, foi acolhido pela fazendeira Isabel Schimidt que lhe trazia café com pão para se alimentar de manhã e no decorrer do dia quando tinha fome, ele sentava nos degraus das casas enquanto aguardava por um prato de comida, por isso, passou a ser conhecido como Bento do Portão.

Muitos o consideravam um mendigo e chegavam a maltrata-lo, cuspiam e diziam que era feiticeiro, mas na verdade era uma pessoa muito simples e bondosa que sempre retribuía quando recebia alimentos ou roupas. Era comum vê-lo trazendo latas d´água ou feixe de lenhas que eram deixadas nas portas das casas em agradecimento de quem o ajudava.

Era muito procurado por ser curandeiro (* vide nota abaixo). Recebia o que a pessoa pudesse pagar, às vezes com cigarro de palhas ou simplesmente ganhava balas. A noite dormia em um pequeno quarto de cortiço, onde tinha um matadouro e que hoje é o endereço do Shopping Boa Vista.

No dia 29 de junho de 1917, com 42 anos, Bento falece próximo à entrada principal do cemitério de Santo Amaro e a causa da sua morte é desconhecida. Seu corpo foi encontrado pela mesma Isabel Schmidt que vinha todas as manhãs e foi através dela que a administração do cemitério cedeu um espaço, para que, ele fosse sepultado em um lugar tranquilo.

Passado três anos de sua morte, uma senhora que já o conhecia por ser "curandeiro", foi diagnosticada com diabete e necessitando amputar as pernas, recorreu a Bento em oração pedindo ajuda, quando retornou ao hospital para seguir com a amputação, foi informada pelos médicos que não teria necessidade, sendo este considerado um dos primeiros relatos de cura realizado por Bento do Portão.

Outro relato diz que, após sete anos enterrado, ao ser feita à exumação de seu corpo, este se encontrava intacto, sem nenhum sinal de decomposição. Logo começou a propagação e seu túmulo seria um local de peregrinação com cada vez mais devotos agradecendo as graças alcançadas e Bento do Portão tornou-se uma figura de devoção, um santo não reconhecido pela Igreja Católica, mas popularizado pelos diversos milagres atribuídos a ele desde então.



Em 2002, ganhou uma lapide de um senhor português e a administração do cemitério negociou com os familiares dos sepultados para ceder um espaço onde seria construído um memorial para Bento. Todos materiais utilizados: telhas, ferros, cimentos, pedras... foram doados por devotos e a inauguração ocorreu no dia 8 de Julho de 2002, e durante a cerimônia dezenas de pessoas, além de autoridades locais e famílias tradicionais santamarenses compareceram para prestar homenagem em sua memória. Além da sepultura o lugar tem uma cobertura e velário destacado em meio à paisagem do cemitério, no ambiente interno as paredes são compostas por centenas de placas agradecendo pelas graças alcançadas.

Segundo os administradores, estima-se que cerca de 700 pessoas  (*) visitem o mausoléu mensalmente. Todas as segundas-feiras, sempre ao meio dia, seus devotos costumam fazer orações e levam rosas ou flores do campo para enfeitar o túmulo, e depois aproveitam a água dos vasos considerada “benta” para beber e banhar-se com ela.


(*) Notas: 
1. Chamamos aqui no Nordeste os “curandeiros populares” de “rezadores” ou “benzedores”, sendo mais comum tal prática por parte de mulheres do povo ou líderes comunitárias, as “rezadeiras” ou “benzedeiras”. A “reza” é um costume antigo. Não tem nada a ver com umbanda ou candomblé. As “rezas” são orações simples que impetram a cura, especialmente, de crianças doentes, cujas mães creem terem sido vítimas do “quebrante”, “mal olhado” ou “olho gordo”. A Igreja não apoia essa prática, porém, também não a condena, visto que é tradição ou costume popular.
2. Lamentavelmente, ocorreu a intrusão de pessoas não diria "maldosas", mas, ignorantes e mal orientadas, na devoção ao Bento do Portão: fanáticos que seguem um cidadão que se diz "profeta" ou "iluminado" que assumiu praticamente a "liderança" da devoção popular praticando cultos à margem da Igreja Católica. Há, inclusive, certa intrusão de indivíduos praticantes de cultos de origem africana. Uma grande pena! Infelizmente, no Brasil isso é muito comum. O que certos padres católicos muitas vezes não aproveitam ou valorizam, outros vem e tomam o espaço, como é o caso do uso de certos ritos e sacramentais originalmente católicos que são "aproveitados" por algumas igrejas pseudo-evangélicas como é o caso da Universal: uso de água, óleo ou fogo "abençoados", por exemplo... 


quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Serva de Deus Maria Antônia, Virgem, Mística e Alma Vítima. Experimentou convivência constante e visível com seu Anjo da Guarda.



O padre jesuíta João Batista Reus, venerável Servo de Deus misticamente agraciado, originário da arquidiocese de Bamberg (Baviera), que por muitos anos residiu em São Leopoldo, RS, falecido em odor de santidade naquela cidade em 1947, confirmou a vida mística e santa da Irmã Maria Antônia (Cecy Cony). Assim a descreve na apresentação do livro Devo Narrar Minha Vida:
   
 “Obrigada pela obediência, escreveu ela as reminiscências da sua vida, sem reflexão, com certa repugnância e pedindo auxílios especiais a Nosso Senhor. Mal terminava algum dos seis cadernos de que se compõe o manuscrito, entregava-o logo às Superioras e não perguntava mais por ele. Morreu antes de concluir a sua autobiografia, que só abrange seus primeiros 21 anos de vida, e pôde apresentar-se na presença do Senhor com a beleza deslumbrante da inocência batismal.

O Servo de Deus Pe. Reus foi
diretor espiritual de Cecy Cony
Cecy era inteligente e de formação esmerada. Os atestados do colégio davam-lhe quase sempre o 1º ou o 2º lugar. No magistério foi professora habilíssima, como atestam suas superioras. Humilde, extremamente sincera e inocente, nunca na sua vida proferiu uma mentira nem ofendeu a Nosso Senhor ‘por querer’. Esta declaração dá-nos a chave para julgarmos com justiça de certas fragilidades exteriores que lhe notaram algumas pessoas. Era incapaz de inventar fatos místicos. Nem por leitura nem por qualquer outro meio ordinário pôde conhecer os fenômenos dessa natureza que descreve com tanta nitidez.

Ao saber, quase no fim de seus dias, que havia almas que nunca experimentavam a presença sensível de Nosso Senhor por ocasião da Sagrada Comunhão, perguntou assustada: ‘Nem na primeira Santa Comunhão’?  A resposta negativa fê-la chorar amargamente. E exclamou: ‘Estas almas, nesta vida, nunca chegaram a conhecer Nosso Senhor’”.
São Leopoldo, Colégio Cristo Rei, 8 de dezembro de 1946.
Pe. J. Batista Reus, S.J.

     Cecy Cony nasceu no dia 4 de abril de 1900, em Santa Vitória do Palmar, RS. Era filha do Cap. João Ludgero de Aguiar Cony e de Antônia Soares Cony.

     Profundamente religiosa desde tenra infância, como ela mesma relata, “desde esse dia de fevereiro ou março de 1905, o “Novo Amigo” acompanhou-me sempre, sempre, por toda a parte, e comigo fazia guarda a Papai do Céu, ao pé da grande cômoda. Aos seis anos soube que ele era o Santo Anjo da Guarda. Compreendia-o perfeitamente; falava-me, mas eu jamais ouvia sua santa voz”. Cecy conviveu com o seu Anjo da Guarda por cerca de 30 anos.

     Em fins de 1905 ou meados de 1906, o Capitão Cony foi transferido para a guarnição de Jaguarão e a família mudou-se para aquela cidade, onde Cecy passou a frequentar o Colégio Imaculada Conceição.

     Em 17 de outubro de 1906, em sua Primeira Comunhão, fez o juramento de fidelidade: “Bom e querido Jesus, eu juro para o Senhor que não quero nunca fazer um só pecado”. A partir daquela ocasião, sempre sentia a presença sensível de Jesus na alma ao comungar.

     Sua devoção a Maria Santíssima também foi precoce: “Depois da Ave Maria, a segunda oraçãozinha que aprendi com Madre Rafaela, foi: Lembrai-Vos que Vos pertenço, terna Mãe, Senhora Nossa! Ah! Guardai-me e defendei-me como propriedade Vossa. Sempre rezei esta oraçãozinha de manhã e de noite, até entrar para o convento. Aprendera também a fazer sacrificiozinhos a Nossa Senhora. E alegria imensa senti quando Madre Rafaela nos ensinou a rezar o Santo Rosário”.


     O caso do Divino Espírito Santo: Jaguarão, município próximo à fronteira Brasil/Uruguai, tinha uma secular devoção ao Divino Espírito Santo. Todos os anos a Bandeira do Divino saia a angariar donativos para a grande solenidade. A família de Cecy não deixava de colaborar e ela mesma dava sua pequenina contribuição.

     Por volta de 1911, uma chocante notícia pôs em polvorosa todos os habitantes de Jaguarão. No quartel do Exército, localizado no centro da cidade, o coronel comandante mandou um sargento avisar que a procissão devia seguir adiante, pois lá não entraria o estandarte do Espírito Santo. Esse fato causou uma forte impressão em Cecy. "Como esse coronel pode ser tão ruim assim? Os pobres soldados ficaram privados da oportunidade de receber a bênção do Espírito Santo e dar uma modesta contribuição para a festa. Mas, muito pior do que isso, foi o insulto a Deus!" Acabrunhada com tais pensamentos, e não conseguindo adormecer à noite, ela ficou imaginando um meio de reparar tão grave ofensa.

     Inspirada por seu Anjo da Guarda, no dia seguinte saiu às ruas pedindo aos soldados e demais militares moedas e falando da sua tristeza pelo fato do coronel não ter permitido que o estandarte do Espírito Santo entrasse no quartel. Cecy também colabora com o dinheiro que tinha para comprar um sapato novo. Na cidade, ninguém soube desta participação de Cecy.

     Em 8 de dezembro de 1914, Cecy tornou-se Filha de Maria. Em 1920, começaram suas decisões e indecisões sobre o estado a tomar. Foi só em 1925 que Cecy conheceu claramente a Santíssima Vontade de Deus a respeito de sua vocação. Com a energia de sua inquebrantável vontade, embora sangrando o coração, despediu-se dos pais e seguiu o chamado do Esposo divino: em junho de 1926, entrou como postulante na Congregação das Irmãs Franciscanas em São Leopoldo, onde se esforçou por adaptar-se ao espírito de São Francisco, o que não lhe custou, porém mais difícil era viver uma vida tão diferente da que levara até ali no seio da família.

     A morte do pai, tão amado, em 18 de janeiro de 1927, foi um duro golpe que abateu suas forças físicas; Cecy teve de deixar seu querido convento.

     De volta ao convento, em 17 de fevereiro de 1928 recebeu o véu branco de noviça. No dia 14 de fevereiro de 1930, Irmã Antônia proferiu os votos temporários, ocasião em que Nosso Senhor novamente aludiu a sofrimentos futuros.

     Irmã Antônia consagrou-se irrevogavelmente ao Divino Esposo pelos votos perpétuos de pobreza, castidade e obediência no dia 24 de fevereiro de 1933. Com inteira dedicação e espírito de sacrifício, retomou sua atividade como professora no Colégio São José, em São Leopoldo. Compreendia admiravelmente as suas alunas, e estas, por sua vez, cercavam de carinhosa veneração a bondosa educadora.

     Sofrimentos místicos, indizivelmente dolorosos, no corpo e na alma, assediaram-na impiedosamente. Um dos mais dolorosos padecimentos era o peso de todos os pecados do mundo, sentindo ela estes pecados na sua alma como se os tivesse cometido ela mesma. O inferno a incitava a dizer: “não quero mais sofrer!” Mas a jaculatória: “Meu Jesus, eu Vos amo ainda!” foi sua prece eficaz em favor das almas periclitantes, seu grito de vitória contra os assaltos infernais.

     Os sofrimentos de Irmã Antônia valiam ora como reparação pelas perseguições feitas à Santa Igreja, ora como expiação pelos ultrajes que Jesus Eucarístico sofre perenemente; contribuíram para a salvação das crianças e dos soldados, para a santificação do clero e dos religiosos.

     Na noite do dia 24 de abril de 1939, Irmã Antônia morre serenamente, mas envolta em grande padecimento. No dia seguinte foi sepultada no cemitério conventual das franciscanas de São Leopoldo. Alunas atiram flores sobre o sarcófago; suas carinhosas cartas com pedidos e recomendações foram colocadas junto ao seu corpo.

     Finalmente, a palavra do filósofo e conhecido conferencista Frei Pacífico, OFM Cap que leu a autobiografia: “É pela boca dos 'inocentes, das crianças' que Jesus revela aos homens os tesouros de seu infinito amor. Eu gostei imenso das páginas da feliz criança, encheram minha alma do desejo de recorrer mais seguido ao meu Anjo da Guarda” (excerto). 

Sua autobiografia: “Devo Narrar Minha Vida”, Memórias da infância de uma religiosa Franciscana da Penitência e da Caridade Cristã da Casa-Mãe de São Leopoldo, RS, Editadas pelo P. J. Batista Reus, S.J. , antigo professor de Ascética e Mística.

Imprimatur: Por comissão especial do Exmo. e Revmo. Sr. D. Pedro da Cunha, antigo bispo de Petrópolis, com a data de 15/4/1953.


Fonte: blog Heroínas da Cristandade

sábado, 17 de setembro de 2016

SANTO AGOSTINHO DE HIPONA: autor de uma das mais belas orações já escritas...




Santo Agostinho, bispo de Hipona, doutor da Igreja, é bem conhecido. Sua autobiografia: "Confissões", já foi lida por milhares, quiçá, milhões de almas e muitos santos tiveram Santo Agostinho como mestre de espiritualidade. 

E é exatamente para homenageá-lo que trago aos leitores deste blog uma das mais belas orações já escritas por santos: o "tarde te amei", de Santo Agostinho. 

Convido a todos que não somente leiam essa oração, mas, que a rezem com devoção, que orem com ela ao Senhor misericordioso que tão pouco amamos e, tantas vezes, fomos e somos ingratos... 



1. Tarde Te amei, ó Beleza tão antiga e tão nova… Tarde Te amei! Trinta anos estive longe de Deus. Mas, durante esse tempo, algo se movia dentro do meu coração… Eu era inquieto, alguém que buscava a felicidade, buscava algo que não achava… Mas Tu Te compadeceste de mim e tudo mudou, porque Tu me deixaste conhecer-Te. Entrei no meu íntimo sob a Tua Guia e consegui, porque Tu Te fizeste meu auxílio.

 2. Tu estavas dentro de mim e eu fora… “Os homens saem para fazer passeios, a fim de admirar o alto dos montes, o ruído incessante dos mares, o belo e ininterrupto curso dos rios, os majestosos movimentos dos astros. E, no entanto, passam ao largo de si mesmos. Não se arriscam na aventura de um passeio interior”. Durante os anos de minha juventude, pus meu coração em coisas exteriores que só faziam me afastar cada vez mais d’Aquele a Quem meu coração, sem saber, desejava… Eis que estavas dentro e eu fora! Seguravam-me longe de Ti as coisas que não existiriam senão em Ti. Estavas comigo e não eu Contigo…

 3. Mas Tu me chamaste, clamaste por mim e Teu grito rompeu a minha surdez… “Fizeste-me entrar em mim mesmo… Para não olhar para dentro de mim, eu tinha me escondido. Mas Tu me arrancaste do meu esconderijo e me puseste diante de mim mesmo, a fim de que eu enxergasse o indigno que era, o quão deformado, manchado e sujo eu estava”. Em meio à luta, recorri a meu grande amigo Alípio e lhe disse: “Os ignorantes nos arrebatam o céu e nós, com toda a nossa ciência, nos debatemos em nossa carne”. Assim me encontrava, chorando desconsolado, enquanto perguntava a mim mesmo quando deixaria de dizer “Amanhã, amanhã”… Foi então que escutei uma voz que vinha da casa vizinha… Uma voz que dizia: “Pega e lê. Pega e lê!”.

 4. Brilhaste, resplandeceste sobre mim e afugentaste a minha cegueira. Então corri à Bíblia, abri-a e li o primeiro capítulo sobre o qual caiu o meu olhar. Pertencia à carta de São Paulo aos Romanos e dizia assim: “Não em orgias e bebedeiras, nem na devassidão e libertinagem, nem nas rixas e ciúmes. Mas revesti-vos do Senhor Jesus Cristo” (Rm 13,13s). Aquelas Palavras ressoaram dentro de mim. Pareciam escritas por uma pessoa que me conhecia, que sabia da minha vida.

 5. Exalaste Teu Perfume e respirei. Agora suspiro por Ti, anseio por Ti! Deus… de Quem separar-se é morrer, de Quem aproximar-se é ressuscitar, com Quem habitar é viver. Deus… de Quem fugir é cair, a Quem voltar é levantar-se, em Quem apoiar-se é estar seguro. Deus… a Quem esquecer é perecer, a Quem buscar é renascer, a Quem conhecer é possuir. Foi assim que descobri a Deus e me dei conta de que, no fundo, era a Ele, mesmo sem saber, a Quem buscava ardentemente o meu coração.

 6. Provei-Te, e, agora, tenho fome e sede de Ti. Tocaste-me, e agora ardo por Tua Paz. “Deus começa a habitar em ti quando tu começas a amá-Lo”. Vi dentro de mim a Luz Imutável, Forte e Brilhante! Quem conhece a Verdade conhece esta Luz. Ó Eterna Verdade! Verdadeira Caridade! Tu és o meu Deus! Por Ti suspiro dia e noite desde que Te conheci. E mostraste-me então Quem eras. E irradiaste sobre mim a Tua Força dando-me o Teu Amor!

 7. E agora, Senhor, só amo a Ti! Só sigo a Ti! Só busco a Ti! Só ardo por Ti!…

 8. Tarde te amei! Tarde Te amei, ó Beleza tão antiga e tão nova! Tarde demais eu Te amei! Eis que estavas dentro, e eu, fora – e fora Te buscava, e me lançava, disforme e nada belo, perante a beleza de tudo e de todos que criaste. Estavas comigo, e eu não estava Contigo… Seguravam-me longe de Ti as coisas que não existiriam senão em Ti. Chamaste, clamaste por mim e rompeste a minha surdez. Brilhaste, resplandeceste, e a Tua Luz afugentou minha cegueira. Exalaste o Teu Perfume e, respirando-o, suspirei por Ti, Te desejei. Eu Te provei, Te saboreei e, agora, tenho fome e sede de Ti. Tocaste-me e agora ardo em desejos por Tua Paz!

 Santo Agostinho, Confissões 10, 27-29

sexta-feira, 16 de setembro de 2016

SANTA EUFRÁSIA DO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS ELUVATHINGAL, Virgem e Religiosa.

Nasceu no dia 7 de outubro de 1877 na aldeia de Kattoor (Índia), na paróquia de Edathuruthy, que formava parte do então vicariato de Trichur (posteriormente passou a ser diocese e foi dividida) e que atualmente pertence à diocese de Irinjalakuda. Era filha de Antony e Kunjethy de Eluvathingal Cherpukara, uma rica família católica do rito siro-malabar. Foi batizada com o nome de Rosa.

     Desde pequena, por influência de sua mãe, mulher muito piedosa, começou a exercitar-se nas virtudes. Na idade de nove anos consagrou a Deus sua virgindade. Contra a vontade de seu pai, na idade de doze anos ingressou no internato das religiosas da Congregação da Mãe do Carmelo de Koonammavu.

     Depois da reorganização dos vicariatos apostólicos realizada no ano 1896, no dia 9 de maio de 1897 as religiosas e as aspirantes do vicariato de Trichur se trasladaram de Koonammavu para Ambazhakkad.

     No dia seguinte, Rosa recebeu o véu e se tornou postulante com o nome de Eufrásia do Sagrado Coração de Jesus. Em 10 de janeiro de 1898 tomou o hábito na Congregação da Mãe do Carmelo, o primeiro instituto feminino surgido na Igreja siro-malabar, que fora fundado em 13 de fevereiro de 1866 em Koonammavu, no Estado de Kerala, por São Ciríaco Elias Chavara e o padre Leopoldo Beccaro, da Ordem dos Carmelitas Descalços, então delegado carmelita em Kerala, como terceira ordem dos Carmelitas Descalços. Desde 1967 é de direito pontifício.



     Em 24 de maio de 1900, por ocasião da fundação do convento de Santa Maria em Ollur (a 5 k da cidade de Trichur), Irmã Eufrásia emitiu os votos perpétuos. Nesse convento viveu durante 48 anos.

     Em 1904 foi nomeada mestra de noviças, ocupando este cargo até ser nomeada superiora em 1913.

     Por causa de seu profundo espírito de oração chamavam-na de “madre orante”. Alcançou uma profunda união com Nosso Senhor, especialmente na Sagrada Eucaristia. As Irmãs carmelitas a chamavam “sacrário móvel”. Passava longas horas diante do sacrário na capela do convento, esquecida de si mesma e de tudo que a rodeava.

     Em uma carta a seu diretor espiritual expressa a sede que sentia de adorar, amar e consolar Cristo na Eucaristia: “Como aqui a maior riqueza, a Santa Missa, não se celebra a miúdo, experimento uma grande dor interior e sinto um grande desejo de suprir essa ausência. Tenho uma grande fome e uma grande sede de fazer algo a respeito” (3 de julho de 1902).


     Ela foi uma grande apóstola da Eucaristia; se esforçava por fazer com que todos amassem, adorassem e consolassem a Jesus no Santíssimo Sacramento. Também tinha uma devoção especial por Cristo Crucificado. Beijava com frequência o crucifixo e falava interiormente com ele, apertando-o contra o peito. O sofrimento, a paixão e a dor de Cristo provocavam uma grande dor em seu coração.

     Professava uma filial devoção à Virgem Maria, que considerava como sua verdadeira mãe. Era especialmente devota do santo rosário; rezava os 15 mistérios meditando na vida de Nosso Senhor e de sua Mãe Santíssima.

     Levou uma vida muito simples e austera, realizando numerosos atos de penitência e mortificação. Comia uma só vez por dia, evitando a carne, o pescado, os ovos e o leite.

     Conjugava perfeitamente a ação e a contemplação em sua vida. Seu amor a Deus se manifestava na compaixão e no amor às pessoas que se dirigiam a ela para que as ajudasse em suas dificuldades econômicas ou problemas familiares, ou para pedir-lhe orações a fim de curar-se de uma enfermidade, obter um emprego ou superar um exame. Sabiam que ela intercederia junto a Mãe de Deus e que suas orações eram sempre escutadas. Era um modelo exemplar de caridade.



     Madre Eufrásia, que havia oferecido sua vida como sacrifício de amor a Deus, faleceu no dia 29 de agosto de 1952. Foi beatificada em 3 de dezembro de 2006 na igreja de Santo Antônio Forane, em Ollur, arquidiocese de Trichur, pelo Cardeal Varkey Vithayathil, arcebispo mor de Ernakulam-Angamaly dos siro-malabares.


     Foi canonizada em 23 de novembro de 2014.

quarta-feira, 14 de setembro de 2016

São Leofredo: o santo abade que deu uma "surra" (literalmente) no demônio.



São Leofredo (Leutfrido, Leufroi, ou Leufroy) foi um abade francês do século VIII canonizado pela Igreja Católica. Leofredo estudou na abadia de Condat e em Chartres. Ensinou em Evreux, França. Viveu como ermitão em Cailly e Ruão. Fundou a abadia da Santa Cruz de Saint-Qu'en por volta de 690. A abadia foi renomeada como Saint-Leufroy em honra do santo, seu fundador. São Leofredo morreu no ano 738 e sua festa se comemora em 21 de junho. De São Leofredo, escreve Ernest Hello na sua "Fisionomia dos Santos":


Nasceu na Áustria; de boa família, a qual deixou para ser sacerdote. Depois de muita luta, fundou a Abadia de Santa Cruz. Sofreu perseguições por seu espírito independente. Recebeu o dom dos milagres e da profecia. Era extremamente severo.

Como não tivesse cabelo, um dia, uma mulher, dele zombou. Disse-lhe o santo: Por que zombas de um defeito da natureza? Não tenha na tua cabeça mais cabelos do que eu tenho na testa; e o mesmo suceda a teus descendentes.

O zelo pelas coisas santas e dias santificados o consumia. Trabalhavam uns camponeses, no dia domingo. Levantou o santo os olhos ao Céu, dizendo: “Senhor, fique essa terra eternamente estéril. Nunca nela se veja nem grão, nem trigo”. E o campo encheu-se de cardos e espinhos.

São Leofredo tinha um zelo de misericórdia, mais de justiça mais ardente ainda. As cóleras de São Leofredo acendiam as chamas da Caridade. As suas imprecações, o poder de sua caridade, o seu amor aos pobres, o seu ódio à injustiça, são as linhas paralelas de sua vida.

Um de seus religiosos morrera; e, com ele, encontraram três moedas. Estava violando o voto de pobreza. Leofredo mandou enterrá-lo em terra profana. Depois, fez um retiro de 40 dias; rezando e chorando pela alma daquele que parecera rejeitar. E, após esses dias, o Senhor revelou-lhe que Sua misericórdia havia liberado a alma que Sua justiça condenara.

 

“Sua fúria contra o demônio era tremenda”.

Uma vez, estando em sua cela, um frade foi avisá-lo que o demônio estava aprontando na Igreja. Reconhecendo seu velho inimigo, o santo correu à capela e fez sinal da cruz sobre as portas e as janelas, como para vedar as saídas. E, avançando sobre ele bateu-lhe com furor.

O demônio quis fugir, mas as saídas estavam vedadas. O corpo que ele tomara para si, poderia ter se dissipado subitamente. Parece, porém, que ele não teve permissão para isso. Deus quis humilha-lo sob as pancadas de São Leofredo.




Muito pouca gente reage e luta contra o demônio com furor.

Ora, o demônio merece ser repelido com ódio. E quando ele se aproxima de nós, nós devemos ter um assanhamento de ódio maior do que nós temos com qualquer pessoa viva nesta terra.
Porque é o inimigo declarado de Deus, o inimigo declarado de nossa alma, que quer toda espécie de mal; e quando nos sentimos tentados, nós devemos ter contra ele um ódio militante, como São Miguel Arcanjo.
Há coisa melhor do que esse exemplo de São Leofredo? São Leofredo bateu no corpo, que era um boneco que o demônio usava. Naturalmente, aquelas pancadas, atormentavam mesmo o demônio. Como o atormenta a gente falar mal dele. Que humilhação!
Pode-se imaginar São Leofredo, já velho, de barba branca, cabelo branco, mas muito conservado ainda; de olhos castanhos. Mas forte e dando pancada com uma serenidade e um ódio únicos. E aquele "boneco" gemendo e estertorando até acabar de ser visto fugindo pela torre.
Valeria a pena, numa época futura, edificar uma capela consagrada a São Leofredo e à Santa Teresinha que também pôs em fuga os demônios. São Leofredo e Santa Teresinha do Menino Jesus formariam um conjunto perfeito.







terça-feira, 13 de setembro de 2016

Beato Engelberto Kolland, presbítero e mártir.

Religioso ainda jovem, Engelberto Kolland deu a vida por Cristo aos 33 anos. Nascera na Áustria a 21 de setembro de 1827, de pais pobres de bens materiais, mas ricos de virtudes cristãs. No verão, o pai ia para outras regiões de florestas e bosques, a fim de ganhar um pedaço de pão como lenhador. A mãe ia com ele, e os filhos ficavam a cargo da professora, senhora Brugger, que se esmerou em os instruir e educar como fervorosos cristãos.
Engelberto Kolland, embora por temperamento fosse uma criança viva e irrequieta, nos tempos de oração ficava calmo e sossegado, numa atitude tão devota que parecia um santo. Numa visita pastoral que o arcebispo de Salzburgo fez à paróquia, o pequeno Engelberto despertou-lhe a atenção: vislumbrando nele indícios de vocação, admitiu-o gratuitamente ao seminário diocesano, na esperança de ele chegar a ser um ótimo sacerdote. Porém, ao cabo de quatro anos teve de ser despedido por irrequieto. Ao voltar para casa, durante um ano trabalhou com o pai, mas não tardou a retomar os estudos, por sentir no seu íntimo uma voz misteriosa a chamá-lo ao serviço de Deus.
Um belo dia encontrou-se na rua com um grupo de jovens franciscanos. Observou-os com atenção, e ficou tão impressionado com a sua modéstia e recolhimento, que decidiu seguir a mesma vida. Disse-o aos seus colegas, e cumpriu a palavra. Passados poucos meses, tomou o hábito religioso na ordem dos frades menores.
A 13 de julho de 1851, em Bolzano, subia pela primeira vez ao altar de Deus para imolar a vítima divina. Agradecido ao Senhor por essa graça, prometeu partir para a Cústodia da Terra Santa, mas só uns anos mais tarde pôde realizar esse sonho. Entretanto trabalhou como coadjutor na paróquia franciscana de Bolzano, e dedicou-se ao estudo de diversas línguas: alemão, latim, inglês, italiano, francês e árabe, sob a direção dum antigo missionário da Terra Santa.
Em 1855 chegou à pátria de Jesus e foi nomeado coadjutor do Beato Carmelo na paróquia latina de Damasco, onde se empenhou com zelo apostólico até soar a hora do sacrifício supremo. A sua serenidade seráfica fez com que todos os estimassem e lhe chamassem “Abuna Melac”, que significa “Padre Anjo”.

Quando se deu a irrupção do Drusos, Engelberto encontrava-se em casa duma senhora greco-católica. Foi rapidamente localizado e reconhecido pelos muçulmanos, que o intimaram a renunciar à fé cristã e fazer-se seguidor de Maomé. A resposta foi um rotundo “não”. Antes de ser assassinado ainda perguntou ao verdugo: “Amigo, que mal te fiz eu, para me matares?”. A resposta era de esperar: “O único motivo da tua morte é seres cristão”. Foi assassinado com repetidos golpes de acha (arma que se parece com um machado) na cabeça.

sexta-feira, 9 de setembro de 2016

Beata Felipa Mareri, Virgem. A primeira clarissa venerada com culto público.

    

Beata Felipa Mareri, primeira clarissa
beatificada. 
      A primeira Clarissa a ser honrada com culto público não foi Santa Clara, mas a Beata Felipa Mareri, morta em 1236, quando Santa Clara ainda vivia em São Damião de Assis.

     Felipa nasceu no final do século XII, cerca do ano 1195, da nobre família dos Mareri, no castelo de sua propriedade situado em San Pietro de Molito, hoje Borgo San Pietro, província de Rieti.
     O fundador da baronia da família Mareri foi Felipe, que teve pelo menos quatro filhos: Tomás, Gentil, Felipa e outra filha cujo nome se desconhece. O maior incremento da fama e fortuna da família se deveu a Tomás, que foi um alto funcionário do imperador Frederico II.
     Felipa começou já na infância a dar mostras de virtude pouco comum e de aptidão excepcional para os estudos. Era-lhe familiar a língua latina o que ajudou-a nas leituras das Escrituras.
     Orientada para a vida de perfeição por São Francisco de Assis nos anos 1221-1225, quando o Santo, peregrinando pelo vale de Rieti, se hospedava na casa de seus pais, Felipa tomou ainda jovem a decisão de consagrar-se a Deus, e se manteve com tal firmeza em seu propósito, que não conseguiram dobrar sua vontade nem as pressões dos parentes, nem as ameaças de seu irmão Tomás, nem as ofertas e pedidos de seus pretendentes.
     Diante da atitude de seus familiares, Felipa, como anos antes Santa Clara de Assis, cortou por si própria o cabelo, vestiu hábito pobre e, junto com sua irmã e algumas companheiras, se refugiou em uma gruta nas montanhas próximas de seu castelo, desde então chamada «Gruta de Santa Felipa».
     Ela a adaptou com austeridades para seus fins e ali permaneceu até que seus irmãos Tomás e Gentil subiram ao monte para solicitar-lhe o perdão e ofereceram às servas de Deus uma igreja dedicada a São Pedro e, com uma ata notarial datada de 18 de setembro de 1228, lhe deram o castelo de sua propriedade em San Pietro de Molito e a antiga igreja beneditina anexa.
     Para ali se trasladaram Felipa e suas seguidoras, e em seguida começaram a organizar sua vida claustral seguindo a forma de vida e as normas que São Francisco havia dado a Santa Clara e a suas irmãs do mosteiro de São Damião em Assis.
     São Francisco indicou um de seus primeiros companheiros, o Beato Rogério de Todi, para dirigir espiritualmente a Beata e as Clarissas do mosteiro por ela fundado. Para tanto, Rogério se trasladou para o vale de Rieti, e ali permaneceu cumprindo sua missão até a morte da Beata em 1236.

Antiga gravura da Beata Felipa em afresco. 



     O Beato Rogério de Todi (Úmbria), por seu equilíbrio, associado ao mais fervoroso zelo missionário, fora enviado por São Francisco à Espanha para implantar ali a Ordem Franciscana. Erigiu conventos, acolheu religiosos que soube formar no espírito seráfico e os organizou como Província religiosa. Terminada sua missão, regressou à Itália.
Com os sábios conselhos do Beato Rogério, homem de grande fervor e não menor prudência, a comunidade de Felipa Mareri, se firmou exemplarmente na Regra da Ordem Segunda. Felipa se ligou com afetuosa devoção ao franciscano de Todi, sob cuja direção a comunidade por ela querida progredia na perfeição.
     O mosteiro logo se converteu em uma escola de santidade. A ocupação principal da comunidade monástica era o culto e o louvor de Deus, a vida litúrgica, a leitura e o estudo da Sagrada Escritura, a oração e a contemplação. Porém, ao mesmo tempo, o trabalho era tido em grande consideração, como também o atendimento dos pobres e o apostolado.
     No mosteiro eram preparados remédios que eram distribuídos gratuitamente aos doentes pobres. O fervor da caridade nas palavras e nas obras, bem como o estilo de vida daquelas Clarissas, com Felipa à frente e todas seguindo o Santo de Assis, fizeram reviver a vida evangélica no vale de Rieti, como antes havia acontecido no vale de Espoleto.
     Quando a Felipa sentiu-se próxima da morte, pediu a presença do Beato Rogério. Ela morreu no seu mosteiro no dia 16 de fevereiro de 1236. Nas orações fúnebres o Beato Rogério a invocou como se faz aos santos.
     O Beato Rogério de Todi sobreviveu pouco a sua filha espiritual: faleceu em 1237 e Bento XIV aprovou o seu culto em 24 de abril de 1751.
     Logo o túmulo de Felipa se converteu em meta de peregrinações e as graças e os favores extraordinários alcançados de Deus pela intercessão da Beata se multiplicaram.
     Em 1706 foi feito um reconhecimento de seus restos mortais e se constatou que seu coração permanecia incorrupto e é ainda hoje conservado em um relicário de prata.
O Papa Inocêncio IV deu o título de “santa” a Felipa em uma bula de 1247, mas foi o Pio VII quem, em 30 de abril de 1806, confirmou seu culto imemorial e aprovou a missa e o ofício em sua honra.
     Em 1940, o antigo Borgo San Pietro e o mosteiro de Clarissas fundado pela Beata Felipa ficaram submersos sob as águas de um novo lago artificial, às margens do qual foi reconstruído tanto o mosteiro como o povoado. 



A capela do século XIII, onde eram venerados os restos mortais da Beata, foi restaurada na nova igreja com as mesmas pedras medievais, e foi decorada com os afrescos que a adornavam no antigo mosteiro. O coração da Beata é venerado ali em um relicário.


(Fonte: blog Heroínas da Cristandade) 

quarta-feira, 7 de setembro de 2016

Conselhos contra o demônio e suas tentações pelo Santo Cura d'Ars, SÃO JOÃO MARIA VIANNEY.


São João Maria Vianney, o Santo Cura de Ars,  nasceu na França no ano 1786. Foi um grande pregador, fazia muitas mortificações; foi um homem de oração e caridade, totalmente dedicado e empenhado em salvar as almas de seus paroquianos. 
Tinha um dom especial para a confissão. Por isso, vinham pessoas de diferentes lugares para confessar-se com ele e escutar seus santos conselhos. Devido a seu frutífero trabalho pastoral foi nomeado padroeiro dos sacerdotes. Também combateu contra o maligno em várias ocasiões, inclusive em algumas não só espiritualmente.
Em uma delas, enquanto se preparava para celebrar a Missa, um homem lhe disse que seu dormitório estava pegando fogo. Qual foi sua resposta? “O 'Resmungão' está furioso. Quando não consegue pegar o pássaro, ele queima a sua gaiola”. Entregou a chave para aqueles que iam ajudar a apagar o fogo. Sabia que Satanás queria impedir a Missa e não o permitiu.
Deus premiou sua perseverança diante das provações com um poder extraordinário que lhe permitia expulsar demônios das pessoas possuídas.
Sua confiança em Deus e fé inabalável nos dão várias lições que podem também nos ajudar em nossas lutas do dia-a-dia em nossa caminhada nesta terra. Sim, o mal existe; mas, Deus pode mais… “Quem como Deus?”.


 


Orientações e conselhos do Santo:

1. Não imagine que exista um lugar na terra onde possamos escapar da luta contra o demônio, se tivermos a graça de Deus, que nunca nos é negada, podemos sempre triunfar.

2. Como o bom soldado não tem medo do combate, assim o bom cristão não deve ter medo da tentação. Todos os soldados são bons no acampamento, mas é no campo de batalha que se vê a diferença entre corajosos e covardes.

3. O demônio tenta somente as almas que querem sair do pecado e aquelas que estão em estado de graça. As outras já lhe pertencem, não precisa tentá-las.

4. Uma santa se queixou a Jesus depois da tentação, perguntando a Ele: “onde você estava, meu Jesus adorável, durante esta horrível tempestade?” Ao que Ele lhe respondeu: “Eu estava bem no meio do seu coração, encantado em vê-la lutar”.

5. Um cristão deve sempre estar pronto para o combate. Como em tempo de guerra, tem sempre sentinelas aqui e ali para ver se o inimigo se aproxima. Da mesma maneira, devemos estar atentos para ver se o inimigo não está nos preparando armadilhas e, se ele está vindo para nos pegar de surpresa…

6. Três coisas são absolutamente necessárias contra a tentação: a oração, para nos esclarecer; os sacramentos, para nos fortalecer; e a vigilância para nos preservar…

7. Com nossos instintos a luta é raramente de igual: ou nossos instintos nos governam ou nós governamos nossos instintos. Como é triste se deixar levar pelos instintos! Um cristão é um nobre; ele deve, como um grande senhor, mandar em seus vassalos.

8. Nosso anjo da guarda está sempre ao nosso lado, com a pena na mão, para escrever nossas vitórias. Precisamos dizer todas as manhãs: “Vamos, minh’alma, trabalhemos para ganhar o céu”.

9. O demônio deixa bem tranquilo os maus cristãos; ninguém se preocupa com eles, mas contra aqueles que fazem o bem ele suscita mil calúnias, mil ofensas.

10. O sinal da cruz é temido pelo demônio porque é pela cruz que escapamos dele. É preciso fazer o sinal da cruz com muito respeito. Começamos pela cabeça: é o principal, a criação, o Pai; depois o coração: o amor, a vida, a redenção, o Filho; por fim, os ombros: a força, o Espírito Santo. Tudo nos lembra a cruz. Nós mesmos somos feitos em forma de cruz.



Fonte: http://cleofas.com.br/10-ensinamentos-de-s-joao-vianney-para-a-luta-contra-o-mal/

terça-feira, 6 de setembro de 2016

Beato Felipe Sifhong, Leigo, catequista e pai de familia, e seus companheiros, protomártires tailandeses.




Os sete beatos mártires Tailandeses. 
O Cristianismo foi introduzido na Tailândia em 1881. A Sociedade das Missões Estrangeiras de Paris era ativa naquele país, bem como outras Congregações missionárias ou caritativas. Em 1940, o país contava com um milhão de católicos reunidos em pequenas comunidades, além da presença de comunidades cristãs protestantes. A Tailândia era um país essencialmente budista, com algumas minorias hinduístas.
A partir de 1940, os missionários franceses tiveram que deixar o país por causa da II Guerra Mundial. O pluralismo religioso era então considerado uma ameaça à unidade nacional. O vilarejo de Songkhon às margens do rio Mekong, na fronteira com o Laos, foi o palco do martírio de sete moradores católicos daquela região: Philippe Siphong, as religiosas Agnes Fhila e Lúcia Khambang, e os leigos Ágata Fhutta, Cecília Butsi, Viviane Khamfhai e Maria Fhon.
Felipe Sifhong nasceu na província de Nakhon Fhanom em 30 de setembro de 1907, numa família católica, e foi batizado no mesmo dia do seu nascimento. Aluno da escola paroquial de Non Seng, Felipe tornou-se mais tarde professor primário, em 1926, no vilarejo de Songkhon. Ali ele se casou, cinco anos mais tarde, com Maria Thong, e tiveram cinco filhos. Além de professor, Felipe era também catequista e homem de confiança dos missionários, que lhe confiavam a administração do posto missionário quando precisavam se ausentar. Ele era o chefe da comunidade cristã local.
Em agosto de 1940, um grupo de policiais tailandeses chegou em barcos nesse vilarejo isolado, constatando que os habitantes daquele lugar professavam uma religião estrangeira. Em novembro, o Padre Figuet foi expulso do país. Os habitantes locais se confiaram à proteção do catequista Felipe Sifhong e das Irmãs Agnes Fhila e Lúcia Khambang, a fim de permanecerem firmes na Fé.
Em meados de dezembro, Felipe recebeu uma carta contendo uma mensagem falsa, escrita por policiais, ordenando-lhe que comparecesse à subprefeitura. Felipe pressentiu o perigo. No início da noite do dia 15 daquele mês, dois policiais levaram-no preso para que fosse interrogado. Felipe foi fuzilado naquela noite, depois de fazer o sinal da Cruz. A mesma sorte estava reservada às duas religiosas. O Cristianismo era, então, considerado uma das práticas anti-nacionais. As autoridades tailandesas tiveram o cuidado de esconder os túmulos dos mártires a fim de que as almas dos falecidos não viessem “atormentar os vivos”. Em 1959, seus restos mortais foram solenemente enterrados em Songkhon.

       Os sete tailandeses foram beatificados em 1989 pelo Papa João Paulo II. São celebrados no dia 26 de dezembro.

SÃO SIMÃO ESTILITA, Eremita e Taumaturgo. Vida, obras e milagres desse santo "estranho", cuja vida é apenas admirável, não imitável.








“Deus é admirável em seus Santos”! Alguns, inclusive, por causa de costumes e práticas extraordinários, são mais objetos de admiração do que propriamente de imitação. Esse é o caso de São Simão Estilita, eremita e grande asceta, mais conhecido pelos cristãos da Igreja Ortodoxa bem como pelos Católicos de Rito Oriental. 


Simeão Estilita, o Antigo (Sis, c. 389 - Telnessin, 459) foi um asceta cristão sírio, que viveu no cimo de uma coluna de pedra. É considerado santo quer pela Igreja Católica Romana, quer pela Igreja Ortodoxa.

 Na Igreja Católica o seu dia corresponde ao 05 de Janeiro, enquanto que na Igreja Ortodoxa é celebrado a 01 de Setembro. É chamado de "Antigo" para distingui-lo de outro Simeão Estilita que viveu no século VI. Simeão nasceu no norte da Síria, perto da moderna Alepo, tendo começado a sua vida como pastor.

Em 403 a.C. ingressou como monge em Teleda, tendo adoptado práticas de austeridade extremas que geraram critícas e o afastamento da comunidade.  Mudou-se então para Telnessin por volta do ano 412.

Viveu como eremita numa cela e depois passou a viver no topo de uma coluna preso por uma corrente (daí seu apelido  estilita, que vem da palavra grega “stylos”, coluna). Foi adotando cada vez colunas mais elevadas, tendo a última onde viveria durante trinta anos (entre 429-459) dezessete metros de altura.  O que era necessário à sobrevivência era levado através de uma escada. O local onde se erguia a coluna tornou-se alvo de peregrinação de doentes e de pessoas que procuravam aconselhamento espiritual.

Simão Estilita (Séc. V) tornou-se famoso por ter passado 37 anos da sua vida no topo de um pilar. Daí pregava sermões e escrevia epístolas que eram veneradas em todo o Império Bizantino.

A fama de Simão Estilita, que já em vida era considerado um Santo, ficou a dever-se à autoridade moral que lhe advinha da renúncia ao mundano e da sua dedicação total à meditação.

Simão, apesar do exíguo espaço a que se confinou, não viveu isolado. Os seus fiéis seguidores iam visitá-lo diariamente e Simão exercia daí a sua influência a favor das causas que considerava justas.

No local do pilar onde Simão viveu construiu-se mais tarde uma Basílica designada Qal at Simân (O Palácio de Simão). A ruínas desta Basílica ainda hoje são local de peregrinação.

A vida de São Simeão foi escrita por três autores, não somente contemporâneos, senão também testemunhas oculares da maior parte dos fatos.  São eles: o bispo Teodoreto, que compôs o seu trabalho dezesseis anos antes da morte de Simeão; Antônio, discípulo do santo, e o sacerdote Cosmas, seu amigo, que governava uma paróquia das cercanias, e que, em nome de tal paróquia, lhe escreveu uma carta que ainda possuímos.


Vida, obras e milagres
Nascera Simeão numa localidade da Cilícia, chamada Sisan, na fronteira da Síria e, desde a idade de treze anos, guardou ovelhas pertencentes ao pai.

Um dia em que o rebanho não podia sair em virtude da neve, foi à igreja com os pais e lá ouviu ler o Evangelho que diz: “Bem-aventurados os que choram, ai dos que riem; Bem-aventurados os que têm puro coração”.

Perguntou a um ancião como se podia adquirir tal felicidade. O outro lhe disse que era pelo jejum, pela prece, humildade, pobreza, paciência, e lhe aconselhou a vida monástica como sendo a mais elevada filosofia.

Tendo recebido no coração essa semente da palavra divina, Simeão entra numa igreja de mártires, prostra-se no chão, roga Àquele que quer a salvação de todos os homens, que o conduza ao caminho da perfeição.

Tendo permanecido longamente em tal postura, sobrevém-lhe um suave sono durante o qual tem uma visão que ele soía narrar assim:

Parecia-me estar cavando um alicerce, e que alguém me dizia que cavasse mais. Desejando repousar, não podia, porque ele me ordenava que continuasse a cavar. Assim procedeu quatro vezes.  Finalmente, disse-me que o alicerce era bastante profundo, e que eu podia, sem temor, erguer uma construção da forma e da altura que me aprouvesse.”

A predição, observa Teodoreto, foi verificada pelo fato, pois os fatos superam a natureza humana. Depois dessa advertência interior, entrou Simeão num mosteiro vizinho, e lá ficou dois anos.  Mas o desejo de uma vida mais perfeita o fez passar a outro, governado por um santo varão chamado Heliodoro, que para ele entrara com a idade de três anos, transcorrendo sessenta e dois sem sair.

O mosteiro contava oitenta monges. Simeão demorou-se dez anos e a todos ultrapassou em austeridade, pois, enquanto os outros comiam um dia sim, um dia não, ele só comia uma vez por semana.  Os superiores o repreendiam, como se se tratasse de uma irregularidade, mas não conseguiram persuadi-lo, nem diminuir-lhe o ardor pela penitência.

 Um dia, pegando uma corda trançada de folhas de palmeira e, por conseguinte, duríssima, com ela cingiu o corpo desde os rins até os ombros, de tal modo que ela lhe entrou na carne.

Levou-a sob o hábito bastante tempo para que todo o corpo se transformasse em úlcera. Perceberam-no finalmente pelo cheiro e pelo sangue que dela escorria. Tiraram-lha com muito esforço; a roupa estava colada à carne pelo sangue; para arrancá-la, foi mister umedecê-la durante três dias; quanto à corda, houve necessidade das incisões dos médicos.

A operação lhe causou dores tão vivas que o julgaram morto durante algum tempo. Quando sarou, disseram-lhe os superiores que se fosse, de medo que o seu exemplo se tornasse prejudicial a homens mais fracos que pretendessem imitá-lo. Retirou-se para o deserto da montanha, e desceu a uma cisterna seca, onde continuou a louvar a Deus.

Ao cabo de cinco dias, os superiores, repreendidos por visões, arrependeram-se de o haver repelido, e mandaram procurá-lo. Encontraram-no e retiram-no da cisterna com uma corda. Algum tempo depois, rumou ele para Telanissa, localidade situada aos pés de uma montanha perto de Antioquia.

Numa pequenina cabana, encerrou-se durante três anos.  Quis, então, imitar o jejum de Moisés e de Elias, e passar quarenta dias sem comer.

O abade Bassus, superior de um mosteiro vizinho, estava incumbido de inspecionar os sacerdotes do campo. Simeão rogou-lhe que tapasse a porta com barro, sem lhe deixar nada na cela.  Respondeu-lhe Bassus que matar-se não era uma virtude, e sim o maior dos crimes. “Meu pai, retrucou-lhe Simeão, deixai-me, então, dez pães e uma jarra de água; se tiver necessidade de alimento, tê-lo-ei à mão”.

Assim se fez. Ao cabo de quarenta dias, voltou Bassus, tirou o barro com o qual estava fechada a porta e, entretanto, viu todos os pães intactos, a jarra ainda cheia de água e Simeão prostrado, sem voz, sem movimento, sem respiração.

Pedindo uma esponja, o superior umedeceu-lhe os lábios, e lhe ministrou os divinos mistérios.  Fortalecido, Simeão levantou-se e tomou algum alimento, isto é, alface, chicória e semelhantes verduras, que mastigou e engoliu, pouco a pouco. Bassus, arrebatado, regressou ao seu mosteiro, que contava mais de duzentos monges, e lhes narrou a maravilha.

Desde então, continuou o nosso santo a jejuar dessa maneira todos os anos, quarenta dias seguidos, e já havia transcorrido vinte e oito anos em tal modo, quando Teodoreto compôs o seu trabalho. Ficava de pé nos primeiros dias, em seguida sentava-se, continuando a orar, depois estendia-se, semimorto.

Depois de passar três anos na cela perto de Telanissa, subiu ao tôpo da montanha, e mandou fazer um cinto de muralhas sem teto, no qual se encerrou, com uma corrente de ferro, de vinte côvados de comprimento, preza por uma extremidade a uma grande pedra, e pela outra ao pé direito, a fim de, mesmo que o quisesse, não poder sair daquele espaço.

Lá, entretinha-se na meditação das coisas celestes. Melécio, então vigário de Antioquia, aconselhou-o a tirar a corrente, mostrando-lhe que a vontade bastava para manter o corpo parado com liames intelectuais. Rendeu-se Simeão e, mandando chamar um ferreiro, livrou-se da corrente.

Espalhou-se por toda parte a reputação de Simeão, e todos acorriam a ele, não somente da vizinhança senão também de lugares distantes vários dias de caminhada. Levavam-lhe paralíticos, rogavam-lhe que curasse enfermidades. Os que recebiam o que tinham solicitado voltavam com alegria, e publicavam os benefícios, o que atraía ainda maior número de pessoas.

Toda espécie de povos aparecia: ismaelitas, persas, armênios, iberos, homeritas e árabes dos mais longínquos.  Vinham das extremidades do Ocidente, da Itália, da Gália, da Espanha, da Grã-Bretanha. A reputação do santo estendia-se até os etíopes e os citas nômades.  Em Roma, era tão grande que os artesãos tinham posto pequeninas imagens do santo na entrada de todas as lojas, para atrair a sua proteção. Teodoreto afirma que assim ouviu dizer.

Sentia-se Simeão importunado pela incalculável multidão que se apinhava em volta dele para tocá-lo e tirar uma bênção das peles que o cobriam.
Parecia-lhe impertinente submeter-se a tão excessivas honras, e penoso ser constantemente daquela maneira instado.  Foi o que o levou a ficar de pé numa coluna, em grego style ou stylos, donde lhe veio o nome de Estilita.

No ano de 423, mandou fazer uma de seis côvados de altura, na qual viveu quatro anos.

Mandou erguer uma de doze côvados, depois outra, de vinte e dois. Ficou treze anos em ambas. Os últimos vinte e dois anos de vida, passou-os numa quarta coluna de quarenta côvados de altura.

 A coluna terminava com uma balaustrada, formando um pequeno recinto de três pés de diâmetro.

Foi lá que Simeão se mantinha de pé, noite e dia, inverno e verão, exposto aos ventos e à chuva, à neve e à geada.

Os monges do deserto mandaram perguntar-lhe que modo tão estranho de vida era aquele, ordenando-lhe que o abandonasse e seguisse o caminho trilhado pelos pais.

 Tinham dito ao enviado: “Se ele obedecer de boa vontade, deixai-o viver ao seu modo; ser resistir e se mostrar escravo da própria vontade, tirai-o da coluna à força.”

 O enviado expôs a Simeão a ordem dos Padres, e Simeão avançou imediatamente um dos pés para descer. O enviado disse-lhe que permanecesse lá e se animasse, visto que o seu estado vinha de Deus.

Os monges do Egito, escandalizados com tal novidade, mandaram dizer-lhe que estava excomungado. Melhor informados, porém, do seu mérito, de novo com ele se comunicaram.

Estranhava-se então, e ainda hoje se estranha um gênero tão extraordinário de vida. Pergunta-se qual a utilidade disso, e quais podem ser os objetivos da Providência.

O padre Cosme, em particular, nos dá a conhecer a especial vocação de Simeão. Por duas vezes lhe apareceu o profeta Elias num carro de fogo, e lhe recomendou fortemente duas coisas, o zelo pela Igreja e a defesa dos pobres.

Cuida, disse-lhe, de que ninguém despreze o sacerdócio, e que todos obedeçam aos ministros sagradas. Sobretudo, porém, cuida dos pobres; saibam os infelizes de toda espécie, os oprimidos, os órfãos e as viúvas que o teu auxílio jamais lhe faltará, e que serás sempre para eles pai e defensor. Cuida de jamais cederes às ameaças dos prefeitos e dos reis, ou de parecer ambicionar o favor dos ricos. Mas repreende com a mesma equidade, e em público, tanto o rico como o pobre. Sê, pois, firme, e está pronto a tudo sofrer. Arma-te de paciência e de doçura, a fim de que nunca possa coisa nenhuma arrancar-te ao dever”.

Depois dessa advertência celeste, Simeão decuplicou as austeridades.

 Durante nove anos, sofreu, entre outras coisas, de uma horrível úlcera no pé esquerdo.

 Todos, os sacerdotes, os bispos e o próprio imperador, por cartas, lhe rogavam descesse da coluna até que se curasse.

Lá ficou ele, embora a tal dor se unissem ainda várias outras; e quando, no fim da quaresma, que ele, como habitualmente, passou sem comer nem beber, julgavam encontrá-lo morto, viram-no milagrosamente curado; recebeu a comunhão pascal das mãos do bispo de Antioquia, Domnus, sobrinho e sucessor de João.

Em breve teve o santo a oportunidade de desempenhar o novo mister.

 Trezentos pobres obreiros de Antioquia foram ao pé da coluna queixar-se do prefeito da cidade. Devia a corporação deles, todos os anos, tingir de vermelho para a cidade de Antioquia, certo número de peles.

O prefeito, varão cruel, teve a triste ideia de exigir três vezes mais. Os obreiros, vendo-se arruinados por aquele imposto tirânico, sobretudo se se tornasse perpétuo, enviaram trezentos dos seus a Simeão o qual, comovido, mandou dizer ao prefeito que não oprimisse os infelizes, e se contentasse com o tributo comum. Riu-se o prefeito do santo, e ameaçou os obreiros de os fazer apodrecer no calabouço. Não teve tempo para isso.

 Ainda não tinha os trezentos legados saído do recinto de Simeão, quando alguém trouxe a notícia de que o prefeito, atacado de súbita hidropisia, rolava pelo chão torturado por espantosas dores; chegaram imediatamente cartas em que se rogava ao servidor de Deus que dele se apiedasse; finalmente, todos os sacerdotes do seu governo rumaram para o pé da coluna pedindo ao santo que lhe devolvesse a saúde.

Respondeu Simeão que era preciso deixar a questão a Deus; ao mesmo tempo, benzendo um pouco de água, disse: Se Deus prevê que esse homem, uma vez curado, se há de portar melhor, desde que o molhem com esta água, sentirá a graça de Jesus Cristo; mas se Deus prevê o contrário, eu vos predigo, o enfermo não verá absolutamente esta água.

 Um mensageiro, imediatamente enviado, envidou todos os esforços; mal, porém, entrou na casa, soube que o prefeito acabava de expirar no meio de espantosas convulsões. O exemplo espalhou um salutar terror entre os maus, e reanimou a esperança dos oprimidos .

Uma rainha de árabes tinha um ministro que tiranizava viúvas e órfãos, bem como o país inteiro.

Os habitantes enviaram legados a Simeão, que mandou dizer ao cruel ministro: Cuida de te corrigir dos crimes de que te acusam, para que, roubando o bem alheio, o teu não percas. Mas o homem, longe de aquiescer a tal censura, maltratou o enviado que lha transmitira.

O castigo não tardou. Nem ainda partira o legado, quando o ministro caiu como que petrificado, e morreu dizendo: Simeão, por favor, tende piedade de mim .

Entretanto, foram contar a Simeão que inúmeras pessoas se queixavam das suas advertências e das suas importunas intercessões nas causas de viúvas, órfãos e outros desventurados.

 Tratava-se de criaturas que, pouco temendo os juízos de Deus, oprimiam o povo. Resolveu ele, então, nada mais fazer, e deixar tudo à Providência; proibiu aos discípulos que admitissem queixosos ao seu recinto, pelo menos até que lhe fosse dado conhecer de maneira mais precisa a vontade de Deus. Vários foram, pois, obrigados a voltar tristemente.

Não tardou o nosso santo em ter uma visão, na qual foi severamente repreendido pela fraqueza, e ameaçado de ver passar a outro a vocação e autoridade; a fim de reparar o erro, foi-lhe ordenado fazer o possível para a defesa dos pobres e aflitos, e deixar o resultado a Deus.

Pouco depois, dois irmãos, ainda moços, chegaram de Antioquia para lhe rogar proteção contra o conde de Oriente, crudelíssimo varão, que os perseguia em virtude de uma velha inimizade como o pai deles que morrera.

Simeão, que fora amigo do pai, admoestou o conde nestes termos: “Não façais mal nenhum a estes rapazes, pois me pertencem.” Respondeu o conde que, longe de lhes querer mal, estava pronto a prestar a ele, com os dois rapazes, os mais humildes serviços. Era um gracejo.

Aproximava-se a quaresma, em que Simeão não admitia ninguém ao seu recinto. Tendo os jovens regressado à cidade, o conde mandou prendê-los, ameaçou-os de prisão se se não submetessem a todas as suas exigências, e de tudo informou zombeteiramente o santo, mediante uma carta.

Respondeu-lhe Simeão estas palavras: “Advirto-vos pela segunda vez; não façais o menor mal a estes rapazes, para que não suceda sejais vós próprio levado perante a justiça, sem terdes a quem recorrer”!

Replicou o conde: “Sei que, durante estes quarenta dias, fechais o vosso recinto, para passá-los no retiro. Far-me-eis, pois, o favor de empregar todo esse tempo em me desejar o mal, pois se me desejardes o bem, não quero me sobrevenha. Simeão disse: “Infeliz”! Desejou a maldição em vez da benção. Deus há de ouvi-lo antes que ele pensa.”

No terceiro dia da primeira semana do jejum, dois dias depois de se haver Simeão encerrado, atravessava o conde, num carro, a praça pública, quando subitamente o detiveram cinco oficiais do palácio.

Com uma corda ao pescoço foi levado ao tribunal, onde numerosos acusadores exigiam vingança pelas suas inúmeras iniquidades. O mestre da cavalaria, que recebera as ordens secretas do imperador, condenou-o a uma grande multa e mandou que o atirassem ao calabouço.

O homem, então, suplicou humildemente aos dois jovens que por ele intercedessem com Simeão, e obtivessem missivas ao imperador. Responderam-lhe os dois que era precisamente o tempo em que o santo não recebia ninguém; que, a não ser tal, trataria indubitavelmente da sua questão com o imperador e os prefeitos do pretório. Abandonado por todos, foi o infeliz ignominiosamente conduzido por todas as cidades até Constantinopla, onde o imperador o privou de todos os bens e o condenou ao exílio.

 Não chegou sequer ao lugar de exílio, uma vez que morreu miseramente em caminho .

Após semelhantes fatos, a acorrência de infelizes de toda espécie tornou-se prodigiosa.

Reclamava-se a intercessão do santo, não somente contra a injustiça dos homens, senão também contra toda espécie de calamidades. Assim, o território de Afsão foi devastado por uma multidão de ratos que atacavam os próprios animais, e os habitantes não tiveram dúvida em recorrer a Simeão.

 Mostrou-lhes ele, em primeiro lugar, que se tratava de um castigo pelos pecados cometidos; depois, ordenou-lhes que lhe levassem ao pé da coluna um pouco de pó, com ele fizessem três cruzes em cada casa, e uma nos quatro cantos da cidade, celebrassem as vigílias, com o santo sacrifício, durante três dias, e abrandassem a Deus mediante orações.

 Obedeceram-lhe e no terceiro dia não se viu mais um sequer dos inúmeros bichos .

No meio da multidão de homens que afluíam de toda parte, Simeão era sempre um apóstolo no trono, a pregar constantemente tanto para os cristãos como para os pagãos.

Aos primeiros, lembrava a perfeição do Evangelho, com os meios de correção dos defeitos. Assim, para desabituá-los de jurar pelo nome de Deus, pedia-lhes jurassem pelo seu.


 


Várias vezes, em seguida às suas exortações, uma paróquia, uma localidade inteira, empenhava-se por escrito em ser fiel ao trato. Vimos um exemplo na carta que lhe escreveu a localidade de Fanir.

Está em nome do sacerdote Cosme, dos diáconos, dos leitores e de todo o povo, com os seus magistrados; todos, unanimemente, subscrevem aos preceitos que ele lhes impôs: santificar o domingo e a sexta-feira, não ter duas medidas, mas apenas uma, justa, não deixar ultrapassar os limites do seu campo, não recusar o salário aos obreiros, reduzir à metade o juro do empréstimo, devolver os penhores aos que pagam, julgar, segundo a equidade, a causa dos pequenos e dos grandes, não ter nenhuma deferência com a justiça, e não receber presentes contra quem quer que seja, não caluniar ninguém, não manter relações com malfeitores e ladrões, reprimir os desdenhadores das leis, de frequentar assiduamente a igreja. Seja anatemizado quem violar essas regras, quem se apoderar do bem alheio, oprimir os inocentes, subornar os juízes, tirar qualquer coisa aos órfãos, às viúvas, aos pobres, ou raptar mulher. Pois tudo quanto nos prescrevestes, e que nós ratificamos, queremos seja observado no futuro. E o que prometemos, juramos cumprir, juramo-lo por Deus, por Cristo e pelo Espírito vivificante e santificante, e pela vitória dos nossos imperadores. Se alguém ousar desobedecer, seja anatemizado segundo a vossa palavra; nós o repreenderemos, não teremos ligação com ele, a igreja não lhe receberá a oferta, não assistiremos ao sepultamento dos seus .


Vê-se por esse exemplo a salutar influência de Simeão nos contemporâneos. O padre Cosme, que lhe dirigiu a carta assinada por todos é o mesmo que lhe escreveu a vida.



Pelas suas pregações e pelos seus milagres, convertia Simeão particularmente milhares e milhares de infiéis: iberos, armênios, persas, árabes, especialmente árabes ismaelitas.

Iam vê-lo em grandes grupos de duzentos ou trezentos, às vezes de mil, renunciavam em voz alta aos erros dos antepassados, particularmente ao culto de Vênus, e quebravam os ídolos na sua presença; recebiam o batismo, e aprendiam dos seus lábios as leis segundo as quais deviam viver.

O biso Teodoreto assistiu um dia à conversão de um grupo de ismaelitas. Quase foi sufocado até, pois tendo Simeão dito que fôssem pedir-lhe benção episcopal, acudiram os ismaelitas com selvagem afoitamento; uns o puxavam pela frente, outros por trás, outros pelos lados; os mais afastados, montando nos outros, alongavam os braços, pegavam-no pela barba ou pelas vestes; ia ser esmagado, quando Simeão gritando, os afastou .


Muitas vezes, ao pé da coluna, os credores perdoavam as dívidas aos devedores, os amos libertavam gratuitamente os escravos.

Quando, no fim da quaresma, se reabriram as portas do seu recinto, não somente a montanha de Telanissa, senão também as montanhas das cercanias fervilhavam de gente.

Vê-lo de longe bastava a grande número de pecadores e pecadoras para abraçarem a penitência e retirarem-se em mosteiros. Invocavam-no, tanto ausente como presente. Os marujos iam agradecer-lhe havê-los socorrido na tormenta e salvado do naufrágio .

Os cristãos da Pérsia lhe enviavam cartas e legados para agradecer-lhe haver libertado da prisão trezentos e cinquenta deles, e feito cessar a perseguição com o trágico fim do mago que a instigara .

O próprio rei da Pérsia concebeu pelo santo a mais elevada estima. A uns legados que lhe falavam do santo, perguntou como vivia este e quais eram seus milagres.

A rainha, sua esposa, pediu azeite abençoado por Simeão e o recebeu como grande presente. Todos os cortesãos, apesar das calúnias dos magos, cuidavam de se instruir com ele, e lhe chamavam varão divino.

No meio dessa glória, era ele tão humilde que se julgava o último dos homens.

De fácil acesso, doce e agradável, respondia a todos, fosse artesão, camponês, mendigo.

Dizia aos que libertara suas enfermidades: “Se alguém vos perguntar que vos curou, dizei que foi Deus; guardai-vos de falar de Simeão, pois recaireis no vosso mal”.

Teodoreto, que o vira e com ele conversara várias vezes, e que lhe escreveu o resumo da vida, bem via a dificuldade de acreditar em tais maravilhas.

É por isso que diz: “Ainda que eu disponha por testemunhas, se assim devo falar, de todos os homens vivos, temo que a minha narração pareça à posteridade uma fábula inteiramente destituída de verdade. O que aqui se passa está acima da humanidade; entretanto, costumam os homens medir o que lhes diz pelas forças da natureza, e quando alguma coisa lhe ultrapassa os limites, afigura-se mentira aos que desconhecem as coisas divinas” .

No ano de 459, sofreu a cidade de Antioquia espantoso desastre.

Foi, na narrativa de uma testemunha ocular, durante a noite de 7 para 8 de junho, durante a noite do domingo de Pentecostes para a segunda-feira .

O povo acabava de se entregar a tais desordens e brutalidades que superavam em muito a ferocidade das feras, segundo a expressão de Evagro.

De súbito, pelas quatro horas da noite, verificava-se um tremor de terra tão furioso que fez desabar quase toda a cidade, e sobretudo a parte mais rica e povoada.

Várias localidades dos arredores tiveram a mesma sorte.



O refúgio dos infelizes, na época, era o grande Simeão Estilita.

 Viu êste chegar ao pé da sua coluna uma multidão em pranto, sacerdotes e leigos, trazendo grandes cruzes, archotes e incensórios fumegantes.

A afluência durou cinquenta e um dias. Era tão grande o terror que ninguém ousava entrar nas casas nem trabalhar nos campos. Por toda parte se ouviam gritos e gemidos.

A única esperança da turba era Simeão. Estava pronta para tudo quanto ele ordenasse.

Após os cinquenta e um dias de luto, houve, no mês de julho, uma grande solenidade, a última do bem-aventurado Simeão. Não creio, diz o autor da sua vida, testemunha ocular, que jamais tenha havido reunião tão numerosa; era como se Deus tivesse arrancado dos seus países todos os povos do universo para os reunir num mesmo lugar, a fim de dizer o derradeiro adeus ao seu amado servidor.

Ele, como pai que dita as últimas vontades a filhos dóceis, tendo mandado chamar os sacerdotes e o povo, consolou-os a princípio, e em seguida os exortou muito a observar os mandamentos de Deus. Acrescentou, então:

 “Agora, voltai para vossos lares, e celebrai vigílias cristãs durante três dias; depois, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo, ide, sem temor, cuidar dos vossos afazeres, e retomem os artesãos o seu respectivo trabalho; tenho a certeza de que Deus se apiedará de vós no futuro.” Disse, e a todos despediu.

Trinta dias depois da partida deles, em 29 de agosto, um sábado, às onze horas, na presença de alguns dos seus discípulos, o servidor de Deus foi repentinamente atacado de um mal que, alastrando-se-lhe pelo corpo todo, em breve se fez mortal.

 Do domingo à terça-feira, o seu estado foi, pouco mais ou menos, o mesmo.

Entretanto, emanava-se-lhe do corpo uma suavidade e uma variedade de odores incomparáveis.

Finalmente, na quarta-feira, 2 de setembro, às nove horas, estando presentes todos os discípulos, prepôs dois deles aos demais, e recomendou todos ao Senhor.

Em seguida, ajoelhou-se três vezes e, depois de se levantar, olhou para o céu. Gritando-lhe de todos os lados a multidão: “Abençoai-nos, Senhor!”  Ele volveu o olhar para as quatro partes do mundo, e, erguendo a mão, o abençoou e o recomendou ao Senhor por três vezes; depois, erguendo de novo os olhos ao céu e batendo três vezes no peito, pousou a cabeça no ombro do primeiro discípulo e expirou.

A multidão continuava a lhe contemplar o rosto, sem saber se estava vivo ou morto.

 Um dos discípulos valeu-se do tempo e daquela incerteza, para mandar avisar às ocultas o bispo de Antioquia.

Temia-se que o povo lhe raptasse o corpo. Pelo mesmo motivo, os discípulos não o baixaram da coluna para colocá-lo no relicário; pelo contrário, mostraram o relicário sobre a própria coluna, aguardando o dia do funeral.

A nova da sua morte divulgou-se imediatamente por todo o mundo. Houve, ao mesmo tempo, luto e júbilo.

Os órfãos e as viúvas perguntavam, entre lágrimas e soluços:

Aonde iremos encontrar-vos agora, Simeão, vós que, após Deus, foste a nossa única esperança? Os que se viam oprimidos pelos poderosos e privados dos seus bens exclamavam com amargura: nós, os mais infelizes dentre os mortais, agora é que iremos temer a cólera e a cobiça dos lobos!

Como livrar-nos de tais angústias? Que auxílio invocaremos? Ah, quem despertará do sono êste leão cuja voz formidável fazia tremer todos os animais ferozes? Os enfermos diziam, chorando: aonde poderemos ir, encontrar um médico igual a vós, Simeão, vós que expulsáveis a enfermidade antes de ver o enfermo?

O clero o lamentava como firme sustentáculo da fé e da disciplina.

Ao mesmo tempo, todos se alegravam, refletindo que, após uma vida tão santa, fora coroado no céu.

No seu funeral, houve incontável multidão. O patriarca na Antioquia, Martírio, apareceu com vários bispos.

Ardaburo, que governava o Oriente com um poder quase soberano, também apareceu com vinte e um condes, um grande número de tribunos ou generais, seguidos das tropas romanas.

Os habitantes de Antioquia tinham lhe pedido a honra de conservar na cidade as relíquias do santo, para lhes substituírem as muralhas que haviam desabado.

Ruínas (o que restou) da coluna onde
viveu São Simão Estilita
Foi com tal pompa que o corpo foi transportado, a princípio pelos sacerdotes e bispos, desde o recinto da coluna até a primeira aldeia, pelo espaço de quatro milhas; em seguida, puseram-no num carro escoltado por guardas de honras, pelos príncipes, por todos os magistrados da cidade, pelas tropas romanas e por uma multidão sem fim de povo.

Ao canto dos hinos, ao esplendor dos archotes, misturava-se o perfume que ardia à passagem do cortejo. Homens e mulheres, anciãos e moços, plebeus e nobres, desertavam as cidades para venerar as relíquias do santo, e receber dele a sua derradeira bênção.

O cortejo durou cinco dias, sendo a distância de quinze léguas. Na segunda-feira, tiraram-no do recinto, na sexta-feira entrou em Antioquia, onde o corpo foi depositado na grande igreja.

Um energúmeno, que fora curado durante a passagem do corpo, o acompanhou até lá. O patriarca e o seu clero instituíram um ofício cotidiano em sua honra.

Verificaram-se ainda mais milagres no seu túmulo do que os realizados durante o tempo em que vivera.