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Encontre o (a) Santo (a), Beato (a), Venerável ou Servo (a) de Deus

segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Beata Vilburga (ou Wliburgis), Virgem Reclusa de São Floriano.



Por causa de sua vida de oração e de penitência, a Beata Vilburga atraiu
o ódio e a perseguição do inferno, que tudo fez, com visões pavorosas,
 para demover-lhe a fé e tirar sua persevera na oração.

     A figura desta Beata, uma vida de reclusa em extrema penitência, é difícil de ser compreendida pela mentalidade moderna voltada para uma liberdade e um prazer desenfreados. Vilburga (também conhecida como Wilburgis, Wilberg), que nasceu no território da Áustria atual, viveu durante quarenta anos em uma cela.


     Vilburga nasceu nas proximidades da Abadia de São Floriano. O pai, Henrique, morreu durante uma peregrinação a Jerusalém; ela foi educada sob os cuidados da mãe e da governanta. Aos 16 anos, com a amiga Matilde, fez uma peregrinação, longa e corajosa para aqueles tempos, sobretudo por uma jovem sozinha, a São Tiago de Compostela, na Espanha, uma das grandes metas de peregrinação na Idade Média.
     De volta a sua terra natal, a amiga Matilde desejava fazer com ela uma outra peregrinação, desta vez a Roma. Mas Vilburga já fizera uma escolha mais definitiva e completa de sua vida. Renunciando ao mundo, no dia da Ascenção de 1248, se fechou solenemente em uma cela junto à igreja dos Cônegos Regulares de Santo Agostinho de São Floriano. A Abadia de São Floriano era já renomada e ainda hoje sua fama persiste.
     Os eremitas daquele século escolhiam esta forma de isolamento, isolavam-se em pequenas construções erigidas no exterior dos conventos, mas bastante próximas para que eles usufruíssem da direção espiritual dos monges. Às vezes até monges do mesmo convento escolhiam esta forma de penitência para um período de maior mortificação e dedicação à ascese.
     Através de uma janela que defrontava na igreja conventual, Vilburga participava da liturgia dos monges. Sua amiga Matilde também tomou uma cela vizinha, num regime de semi-liberdade, podendo providenciar mantimentos e fornecendo-os também a Vilburga.
     Esta vida de reclusa durou 40 anos, até sua morte. Ela só deixou sua cela uma vez, e por pouco tempo, quando em 1275, para fugir dos soldados de Rodolfo de Asburgo (1218-1291), imperador do Sacro Império Romano desde 1273, acompanhou os monges agostinianos na fuga para dentro dos muros da cidade de Enns, que tem o mesmo nome do rio que a atravessa, afluente do Danúbio. 
     Pelos méritos de sua união com Deus, teve dons sobrenaturais, como a visão dos acontecimentos contemporâneos. Era tal sua fama de espiritualidade e vida interior, que leigos e religiosos, pecadores e pessoas piedosas, gente de todas as classes sociais, postavam-se diante da janela de sua cela para pedir conselhos e orações àquela mulher que era um exemplo de penitência.
     A fama de Vilburga ultrapassou os limites da Áustria, tendo sido convidada pela Beata Inês de Praga († 1282 ca.), depois por Catarina, sobrinha do Beato Gregório X, que a convidou a fundar um convento na Itália, mas em ambos os casos a Beata não quis abandonar sua cela, o silêncio e o recolhimento.
     Manteve uma correspondência epistolar com o célebre monge cisterciense Gustolfo de Viena.
     Com 56 anos morreu em sua cela, no dia 11 de dezembro de 1289. Foi sepultada na igreja do vizinho convento de São Floriano, onde ainda repousa em um sarcófago da cripta.
     O seu culto continuou ininterruptamente nestes séculos; peregrinos da Áustria e da Alemanha continuam a fluir para venerá-la. Já em vida foi considerada uma santa e no aniversário de sua morte uma Missa solene é celebrada, embora não tenha sido oficialmente beatificada pela Igreja.

     Sua vida foi inspiração literária de alguns escritores alemães.

(Fonte:  blog Heroínas da Cristandade, com permissão)

domingo, 28 de fevereiro de 2016

Beatos Francisco, Abdel-Mooti e Rafael Massabki, Leigos Maronitas e Mártires.



Os três irmãos Massabki, leigos maronitas,
trucidados por muçulmanos em Damasco. 
Beatos Francisco, Abdel-Mooti e Rafael Massabki, leigos católicos maronitas. Martirizados em Damasco, Síria, em 10 de julho de 1860 e beatificados pelo Papa Pio XI em 07 de outubro de 1926. Sua memória é celebrada em 10 de julho.

Os três irmãos: Francisco, Abdel-Mooti e Rafael Massabki, leigos católicos maronitas, foram vítimas de uma sangrenta perseguição desencadeada no século XIX pelos turcos contra a Igreja Patriarcal Maronita.
Eles morreram em Damasco, na Síria, em 10 de julho de 1860 e, em tal data, são comemorados pelo Martyrologium Romanum, tendo sido beatificados em 1926 pelo Sumo Pontífice Pio XI. A iconografia trata de representa-los juntos, ajoelhados diante do altar, outras vezes com a espada, objeto de seu martírio.
É necessário dizer que os três irmãos Massabki estão já citados juntos com os Beatos Mártires Franciscanos de Damasco, com os quais sofreram o martírio e foram beatificados em 10 de outubro de 1926 pelo Papa Pio XI.
Eles pereceram na trágica noite de 09-10 de julho de 1860, que reduziu o bairro cristão de Damasco, na Síria, em um monte de escombros fumegantes. Os oito missionários franciscanos (sete espanhóis e um austríaco) desenvolviam sua vida comunitária no convento de Damasco, estendendo o apostolado entre a população local.
Os oito frades franciscanos mortos
em Damasco pelos muçulmanos. 
Em determinado momento, os “drusos”, seita religiosa de origem muçulmana shiita, dando largas a seu fanatismo de intolerância religiosa, desencadearam nos anos 1845-1846 e, depois, especialmente em 1860, sua cólera contra os cristãos, atacando com fúria homicida a cidade, fazendo suas vítimas.
Os franciscanos Emanuel Ruiz, Carmelo Volta, Engelberto Kolland, Ascânio Nicanor, Pedro Soler, Nicolás Alberga, Francisco Pinzo e Juan Santiago Fernández refugiaram-se entre os sólidos muros do convento e, com eles também os três fiéis cristãos maronitas, seus colaboradores.



Por desgraça, talvez entre os serventes locais, havia um traidor que assinalou uma pequena porta secundária, que ninguém havia pensado em bloquear, permitindo aos fanáticos fundamentalistas islâmicos massacrar a todos com golpes de cimitarra.
Damos agora alguma notícia sobre os três irmãos de sangue de Damasco. Eles gozavam na comunidade maronita de grande estima, como observantes e zelosos cristãos. 
Francisco, o irmão mais velho, era um negociante de seda muito rico. Não obstante, observava os preceitos religiosos com exatidão, fazendo-os também observar pelos familiares. Um dia foi muito duro com uma filha que havia violado o jejum quaresmal. Iniciava sua jornada diária assistindo à celebração da Missa e a terminava com a função litúrgica vespertina e, em vista disso, antecipava o fim do dia de negócios.
Abdel-Mooti, por sua vez, havia se retirado dos trabalhos de comerciante, temendo não poder ter sempre a consciência tranquila, e dedicou-se ao ensino na escola dos Franciscanos.
Também, em cada manhã, assistia à Missa com a filha, fosse qual fosse o tempo, mesmo com neve. Prevendo seu fim, naquele dia despediu-se de seus alunos, exortando-os a não temer o martírio, considerando-o uma graça divina.
Rafael era celibatário e amava a solidão contemplativa, entre sua casa e a igreja vizinha. Transcorria muitas horas, todos os dias, em oração e em meditação. Ajudava a seu irmão Francisco nos negócios e era o sacristão da vizinha igreja dos franciscanos.
Quando já fazia uma hora após a meia noite, os drusos penetraram no convento, onde se haviam refugiados com os oito franciscanos. Eles foram chamados pelo nome e obrigados pelos fundamentalistas a abjurar a fé cristã e aderir à fé islâmica. Se assim fizessem, haveriam de salvar a vida. Porém, eles, singularmente, como os cristãos dos primeiros tempos, rechaçaram com palavras de fé genuína e convicta, sendo massacrados a golpes de cimitarra, sabres e maças de ferro. A Rafael lhe foi sacada a cabeça e seu corpo foi pisoteado. Quando, em 17 de dezembro de 1885 foi iniciado o processo para a beatificação dos mártires franciscanos de Damasco, os três irmãos Massabki, se bem que pereceram no mesmo dia, lugar, motivo e circunstâncias, foram esquecidos.
Porém, quando na primavera de 1926 a causa estando já concluída, fixando-se a data da solene beatificação para o dia 10 de outubro, o episcopado maronita, que, como é conhecido, está unido à Igreja de Roma, com o arcebispo de Damasco à frente, apresentou ao Papa Pio XI uma urgente instância, a fim de que os três irmãos Massabki, maronitas, mortos também eles no assassinato perpetrado pelos drusos muçulmanos, fossem agregados à glória dos padres franciscanos, como o foram na vida e no martírio.
O Papa Pio XI com um gesto que permanece único na história da Congregação dos Ritos, reconhecendo legítima a apresentação e a investigação, dispôs um processo sumário sobre a vida e sobre a morte de Francisco, Abdel-Mooti e de Rafael Massabki. Encarregou, para isto, o Mons. C. Salotti, promotor da Fé, e Frei Santarelli, Postulador dos Frades Menores, que viajaram à Síria e ao Líbano para as indagações, recolhendo os devidos e genuínos testemunhos, compreendido entre esses aquele do pároco maronita, Moussa Karam, seu contemporâneo que escapou milagrosamente da matança.
Em 07 de outubro, o Papa Pio XI, tendo em vista as provas recolhidas e concedendo a dispensa dos milagres prescritos, firmou o decreto para sua beatificação, que como já se havia dito, teve lugar em 10 de outubro sucessivo, junto com os oito frades franciscanos.


sábado, 27 de fevereiro de 2016

Venerável Serva de Deus Teresa de Santo Agostinho, Princesa e Carmelita Descalça.


     A princesa Louise Marie de France, filha do rei Luís XV e da rainha Maria Leszczynska, princesa da Polônia, nasceu no Palácio de Versalhes a 15 de julho de 1737. Foi educada na Abadia de Fontevrault.
     Ainda muito criança sofreu um acidente que quase a fez perder a vida. Impaciente por sua criada de quarto não vir logo atendê-la, subiu na grade de seu leito, daí caindo. Embora logo tratada, essa queda legou-lhe uma deformidade física, e levou-a às portas da morte. Nessa ocasião, as religiosas do mosteiro fizeram um voto à Virgem pela saúde da princesa e ela foi curada miraculosamente. Nunca mais esqueceu ao que devia sua vida, o que a marcou de um modo profundo.
     Desde a infância mostrou inclinação para a vida de piedade, nunca se cansando da extensão do Oficio Divino. Um dia chorou amargamente porque uma dama que a servia falou-lhe de um príncipe estrangeiro que seria seu esposo. Entretanto, era orgulhosa de sua posição. Certa ocasião, julgando-se ofendida por uma de suas damas, disse-lhe com azedume: "Não sou eu a filha de vosso rei?" "E eu, Madame", respondeu a senhora, "não sou a filha de vosso Deus?" "Tendes razão", respondeu a princesa tocada pela resposta, "eu estava errada e peço perdão".

Retrato pintado da Venerável, quando ainda
vivia na corte do rei Luís XV, seu pai. 
     Extremamente generosa com os pobres, dava-lhes o dinheiro que recebia para seus gastos, nada reservando para si. A dama de honra encarregada de suas despesas acostumou-se a entregar aos pobres o que recebia para Louise Marie, sem mesmo consultá-la.
     Dotada de um caráter vivaz, gostava dos exercícios violentos. Um dia, caçando em Compiègne, seu cavalo assustou-se e lançou-a a razoável distância. Ela caiu quase sob as rodas de uma carruagem que vinha em disparada. Salva como por milagre, fizeram com que regressasse de carro. Rindo-se dos temores gerais, ordenou ao seu escudeiro que lhe trouxesse o cavalo, montou, dominou o animal nervoso e continuou o passeio. De volta ao castelo, foi agradecer a Virgem o que chamou a segunda salvação de sua vida.
     Madame Louise viveu até os 33 anos na Corte mais faustosa do mundo, nela haurindo tudo quanto havia de bom e dando ali exemplo de virtude, sem se deixar contaminar pelos aspectos mundanos e frívolos que, infelizmente, vinham se introduzindo em tais ambientes a partir do fim da Idade Média. Seu pai tinha concubinas e ela e a irmã, Clotilde (já beatificada), serviram de esteio para uma reação dentro da corte, que conduzia consigo os destinos da moralidade da corte, e consequentemente os destinos da moralidade do reino.
     Desejando ingressar no convento, ao assistir a tomada de hábito no Carmelo de uma condessa, quis ingressar nessa Ordem. Começou a preparar-se para isso estudando a regra de Santa Teresa, e abstendo-se lentamente do conforto que a cercava. Afastava-se do aquecimento do castelo durante períodos de frio horroroso. Ela não suportava o cheiro de velas e venceu essa repugnância após anos de esforços.

A filha do rei da França renunciou
a tudo para ser esposa de Cristo. Na
pintura, recebendo a visita de seu pai.
     Tendo falecido sua mãe, a piedosa rainha Maria Leszczynska, conseguiu o consentimento do rei e a 20 de fevereiro de 1770, entrou para as carmelitas de Saint-Denis, considerado o mais pobre da França e o de regime mais severo. A França admirou-se desse exemplo e o papa Clemente XIV escreveu à princesa, para lhe exprimir a felicidade que sentia em ver seu pontificado assinalado por um acontecimento tão consolador para a religião.
     No convento, lutou arduamente para que suas companheiras deixassem de distingui-la das outras. Trabalhou também para vencer sua dificuldade em ficar longo tempo de joelhos, tendo conseguido essa graça após uma novena feita a São Luís Gonzaga. Recebeu o hábito a 10 de setembro de 1770, revestida do manto de Santa Teresa que as carmelitas de Paris possuíam e tomou o nome de Irmã Teresa de Santo Agostinho.
     Nomeada mais tarde mestra de noviças, destacou-se sobremodo nesse trabalho tão difícil, manifestando constante alegria em meio às dificuldades com que se deparava. Foi eleita depois, unanimemente, superiora. Quando o visitador geral das carmelitas levou a notícia ao rei, avisou-lhe que somente um voto fora contra a Irmã Teresa. "Então", respondeu Luís XV, "entretanto, houve um voto contra ela?" "Sim, Senhor", respondeu o prelado, "mas foi o voto dela mesma".
     Como superiora, foi cheia de caridade para com suas irmãs e extremamente severa consigo própria, procurando seguir com o máximo de fidelidade o espírito de sua regra. Preocupava-se, também, em conseguir junto a seu pai e, mais tarde, junto a Luís XVI, todos os benefícios que pudesse para a religião. Foi a ela que as carmelitas dos Países Baixos austríacos deveram ser acolhidas em França, quando expulsas de sua terra por José II.
     Irmã Teresa também contribuiu para a fundação de um mosteiro de estrita observância para os carmelitas descalços, cuja regra relaxara durante algum tempo. Severamente interdita de usar de sua influência para tudo aquilo que se referisse a assuntos mundanos, usou-a, entretanto, o quanto pode, para a salvação das almas.
     Afastada dos problemas do Estado, interessava-se profundamente por suas necessidades e na oração procurava solvê-los. Suas orações e penitências pela conversão do pai foram atendidas: em 1774, o rei Luís XV morreu reconciliado com Deus e com a Igreja, depois de 30 anos afastado dos Sacramentos. Rezava pela conservação da fé no reino, a restauração dos costumes, a salvação dos povos, a paz e a tranquilidade pública. Deixou duas obras espirituais, publicadas postumamente: Meditações Eucarísticas e Coletânea dos testamentos espirituais a suas filhas religiosas carmelitas.
     Devotadíssima ao Papa, tornou-se defensora dos direitos da Santa Sé face aos ataques dos galicanos e jansenistas, que exerciam grande influência na Corte. Nessa luta, procurou ajudar os Jesuítas, então especialmente perseguidos.
     Tinha pelos franceses o mesmo amor que seu antepassado São Luís. Tudo que interessava à sua pátria interessava à sua piedade. Luís XVI a reverenciava como o anjo tutelar da França. Indiscutivelmente, foi para afastar a influência que ela exercia sobre Luís XVI que os ímpios decidiram exterminá-la definitivamente. É quase certo que Marie Louise morreu envenenada.
     Em novembro de 1787, seu mal de estômago agravou-se violentamente com dores agudas (dois anos antes da Revolução Francesa...). Daí em diante piorando gradativamente, preparou-se para morrer. Sua morte foi magnífica pela coragem com que a enfrentou. Suas últimas palavras foram: "Ao Paraiso! Depressa! Já é tempo!". Era o dia 23 de dezembro de 1787, às quatro e meia da manhã.
     Em 1793, por ordem dos revolucionários, lançou-se ácido contra os restos da venerável princesa e acreditaram tê-los destruído. Mas um grande número de milagres conduziu a introdução de sua causa, declarando-a Pio IX venerável no dia 1º de junho de 1873.
     O decreto reconhecendo as virtudes heroicas da Venerável Madre Teresa de Santo Agostinho foi publicado em 18 de dezembro de 1997. Basta apenas um milagre oficialmente reconhecido e atribuído a ela para que a Igreja a declare Beata. Madame Louise de France deixou por Deus os degraus do trono. Esperemos que em troca Ele um dia a faça gozar a honra dos nossos altares.


Fontes: Daras, “La Vie des Saints”; www.catolicismo.com.br

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Serva de Deus Chiara Corbella Petrillo, Esposa e Mãe de Família (a "nova Santa Gianna").



Chiara Corbella Petrillo, jovem esposa e mãe de família, morreu em odor de santidade. Essa jovem pôde declarar com a vida, e também com morte, o Amor a Deus e a sua família! Vale à pena conhecê-la!
Numa época em que se defende a ideia de que liberdade é poder fazer o que se quer, em uma sociedade cada vez mais individualista e confusa diante dos reais valores da vida, em um mundo onde os vegetarianos que defendem árvores e leões com a vida são os mesmos que defendem abertamente o aborto surge um grande desafio aos cristãos: ser sinal de contradição para a sociedade. A Jovem Chiara é esse sinal para nós.

Chiara Corbella Petrillo era uma jovem romana nascida em 1984, esposa de Enrico Petrillo. Chiara é, como se costuma dizer, da “geração João Paulo II”, uma mulher cheia de vida, alegre e jovem. Conheceu o seu marido, Enrico, em Medjugorje e, antes de se casarem, em 2008, fizeram um caminho de namoro acompanhados por frades da cidade de Assis.


Chiara e Enrico no dia de seu matrimônio.


A jovem, que sempre sonhou em ser mãe, logo após o casamento engravidou, mas soube, ao fazer a ultrassonografia, que sua filha Maria tinha anencefalia. Ao contrário de todas as recomendações médicas que enfatizavam o aborto como a “melhor” opção, o casal decidiu manter a gravidez até o fim, o que foi uma surpresa para muitos. Trinta minutos depois de nascer, a pequena Maria faleceu. Nesses poucos minutos de vida, contudo, a menina foi batizada, e o casal pôde abraçar e segurar o bebê. Chiara declarava que não é a duração de tempo que se tem um filho vivo que determina quão mãe se é. Nesses poucos instantes, Chiara e Enrico viveram a maternidade/paternidade com o amor de uma vida inteira e, em seguida, viram Maria nascer para o Céu.

Já o segundo filho do casal, Davide, ainda no início da gestação, foi diagnosticado com uma deficiência: ele não possuía as pernas e tinha má-formação visceral. Como anteriormente, ao contrário da expectativa de muitos, os pais decidiram prosseguir. Ambos os filhos, Maria e Davide, chegaram a nascer e, mesmo vivendo poucos minutos, foram acompanhados pelos pais até o último momento. Davide faleceu 37 minutos após o parto e também recebeu o sacramento do batismo. Mais uma vez, o casal viveu a graça de ter um filho. Muitos amigos relatam que não sabiam explicar racionalmente o que havia nesses acontecimentos que, ao mesmo tempo que causavam um sofrimento intenso, eram repletos de um profundo Amor, que trazia Paz a todos os presentes, inclusive nos funerais dos bebês. Mais uma vez, os pais também testemunharam o nascimento de um filho para o Céu.
O casal recebeu alguns conselhos "desinteressados" para não arriscarem nova gravidez, mas, não se deixaram abater e confiaram totalmente em Deus.
Algum tempo depois Chiara engravidou do terceiro filho. Desta vez, a criança era totalmente saudável. Mas o Senhor pediu outro sacrifício à família: antes mesmo da gravidez, Chiara teve o que parecia ser uma afta na língua, para a qual não deu muita atenção. Como a ferida piorou, a jovem grávida procurou assistência médica enquanto o pequeno Francesco se desenvolvia em seu ventre.

A família Petrillo sendo recebida e abençoada pelo Papa Bento XVI

As biopsias revelaram, contudo, um triste diagnóstico: um carcinoma. A primeira intervenção com anestesia local, para não criar dificuldades ao menino, correu bem. Mas Chiara deveria fazer, o mais rapidamente possível, novos tratamentos como quimioterapia ou radioterapia. Haveria, assim, grandes chances de colocar a gestação de Francesco em risco. Mas também, aqui, a opção do casal foi dar todas as garantias humanamente possíveis para que o filho pudesse nascer sem correr riscos.

Infelizmente, já era tarde: o "dragão", como Chiara chamava o câncer, espalhou-se muito rapidamente. Perceberam, por fim, que os tratamentos não adiantariam, e o casal decidiu que o importante era viver o tempo que restava com alegria, com intensidade, com fé. Nessas tribulações, o testemunho de Chiara e Enrico exalava tanta confiança que atraíram muitas pessoas para rezarem com eles.
Diante de cada uma das suas lutas, Chiara sempre reagiu aceitando-as como provações que Deus lhe concedera. Morreu, por fim, em 13 de junho de 2012, aos 28 anos de idade, com um testemunho de luz e de fé, de vida e de intensidade, de entrega a Deus, de testemunho. Deu tudo o que tinha por amor, a Deus, ao marido, aos filhos. O funeral da jovem foi um profundo louvor a Deus pelo dom da vida e quem estava presente testemunha a fé e a alegria que imperava no ambiente. Mais de mil pessoas estavam presentes, sem contar as dezenas de sacerdotes que celebraram a missa de corpo presente de Chiara.


Missa de Corpo Presente

Aqui seus restos mortais aguardam a ressurreição.


O pequeno Francesco brincando próximo ao túmulo de sua mãe.

A história de Chiara demonstra que é possível se opor à massiva ideologia que despreza vidas indefesas em ventres maternos por tantos motivos. A capacidade e coragem de dizer “sim” à vida, mesmo em momentos de tribulação, são intrínsecas aos cristãos e àqueles que se encontraram com o Verdadeiro Amor. “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida por seus amigos”. (Jo 15,13)
Chiara deixou uma carta escrita para o seu filho, antes de morrer:



“Vou ao céu para cuidar de Maria e Davide; você fica aqui com o papai. De lá, eu rezarei por vocês. Meu filho, você é especial e tem uma grande missão. O Senhor o escolheu, e eu lhe mostrarei o caminho a seguir, se você abrir seu coração. Confie em mim, vale a pena. Mamãe”.

domingo, 21 de fevereiro de 2016

Venerável Serva de Deus Jeanne Chezard de Matel, Virgem, Mística e Fundadora.



Resumo biográfico
Nasceu em Roanne (França) em 06 de novembro de 1596. Dotada de dons extraordinários, sua espiritualidade foi influenciada pelas correntes espirituais francesas do século XVI, sobretudo, pela escola do cardeal Bérrulle, que contempla as “marcas” do mistério trinitário na criação e na história da salvação, sobretudo na encarnação do Verbo.
Em 02 de julho de 1625 se reuniu Jeanne com duas companheiras para viverem em comunidade. São as origens da congregação religiosa do Verbo Encarnado, cujo primeiro mosteiro foi erigido canonicamente em Avignion, no ano de 1639. A finalidade da nova família religiosa é “viver e proclamar o mistério da encarnação” e dar testemunho do mesmo por meio da educação.
Jeanne teve numerosas experiências místicas que narra em uma série de escritos cheio de citações bíblicas. Como muitos outros fundadores, também a Madre Jeanne se viu submetida a grandes provas que sobrelevou com fortaleza de espírito. Morreu santamente em 11 de setembro de 1670.


Biografia
Jeanne Chezard de Matel nasce em Roanne, França, em 06 de novembro de 1596. Seu pai, Jean Chezard, homem honrado e valente, gentil homem da Câmera e capitão de uma companhia de cavalaria ligeira; sua mãe foi Jeanne Chaurier, à qual pertencia a uma família rica e virtuosa; mulher virtuosa e de grande coração, caridade e muita paciência. Tiveram onze filhos, dos quais sobreviveram somente cinco, sendo Jeanne a mais velha desses.
Jeanne foi de um caráter bondoso, doce, paciente e alegre; aprendeu a ler aos seis anos; aos sete anos pediu permissão para jejuar às vigílias das festas solenes; aos nove e dez anos quis fazê-lo na Quaresma. Aos dez anos resolve permanecer virgem para seguir ao Cordeiro “pelas campinas”. Tem uma grande devoção à Virgem Maria. Aos doze anos foi admitida à Primeira Comunhão e se lhe permite mais tarde comungar a cada mês. Depois, um pouco mais amiúde e, desde 1610, a cada oito dias.
Gostava muito de ler as vidas dos santos e tinha desejo de imitá-los. Admira sobretudo às virgens e aos mártires. Quando tinha 17 ou 18 anos, passou por uma “crise de sua vocação”, já que havia manifestado o desejo de ser religiosa, porém, acabou aceitando, por obediência a sua mãe e a seu confessor, passar uns dias na casa de uma tia. Lá, não faltaram os bailes e conversações um tanto frívolas, cheias de vaidades, que a levaram a esfriar em sua decisão. Porém, finalmente, após algum tempo de confusão, regressa à casa de sua mãe e continua com sua firme resolução.
Em 1615, já com quase 19 anos, se sentiu, de repente, totalmente convertida e reconfortada pela Graça. Nesse mesmo dia, Deus lhe concedeu entender perfeitamente as leituras da Missa, mesmo as que estavam em latim. Este favor nunca lhe foi retirado pelo Senhor. A Escritura é o meio pelo qual Jesus lhe fala e lhe dá a conhecer sua vontade. Tem uma profunda oração mental, aplicando-se, especialmente, aos mistérios da Paixão do Salvador.

Em pouco tempo, sentiu-se elevada aos mais altos graus de oração. A partir de 1619, passa a ter uma forte experiência interior: sente que seu espírito e seu corpo lutam um contra o outro e lhe foi concedido o viver na constante presença de Deus, mesmo em meio aos afazeres mais ordinários.
Sentia-se acompanhada pela presença da Santíssima Trindade. Além do grande amor pela Escritura, a espiritualidade que viveu é teológica, visto que se enraízam em seu coração os grandes dogmas da teologia cristã.
Jeanne buscava assiduamente a direção espiritual. Entre seus diretores figuram, em sua maioria, sacerdotes jesuítas, que atestaram que as revelações que tinha não podiam ter outra origem senão a divina.
Desde 1619 aparece o pensamento de fundar uma Ordem. Em 02 de julho de 1625, deixa a casa paterna para começar a fundação em companhia de mais duas jovens. Chegou a fundar quatro mosteiros. Em 10 de setembro de 1670 toma o hábito da Ordem do Verbo Encarnado e faz sua profissão. Morre no dia seguinte, em 11 de setembro de 1670.
O processo da Causa de Beatificação e Canonização da Serva de Deus sucedeu da seguinte maneira: em 1966 inicia-se o processo diocesano, apesar de sua fama de santidade houvesse estado muito vivo entre as irmãs, os sacerdotes e seculares durante séculos. A causa retomou em 1970. Em 1984 reconheceu-se a validade do processo diocesano a cerca das virtudes e da fama de santidade bem como do processo dos escritos.
A “positio” foi publicada em janeiro de 1987. Em 19 de maio de 1987 ocorreu a assembleia de consultores historiadores e em 18 de outubro de 1991 o congresso particular dos consultores teólogos. A conclusão foi positiva em ambos os casos. Em 21 de janeiro de 1992 os cardeais e os bispos confirmaram na Congregação a prática heroica das virtudes teologais, cardeais e suas anexas.

O decreto de venerabilidade foi dado em 07 de março de 1992. 

sábado, 20 de fevereiro de 2016

SÃO FRANCISCO MARTO: modelo de paciência em meio aos sofrimentos.


O pequeno pastorinho: um gigante na
fé. 
Nas primeiras duas semanas da doença, Francisco estava extremamente mal. Com o passar dos dias, porém, teve uma ligeira melhora, o que levou as pessoas a dizer-lhe que depressa ficaria bom. Mas ele apenas balançava a cabeça e respondia:

- Eu nunca voltarei a ficar bom. Vou morrer.

Sua madrinha, que muito o queria, procurava desviá-lo desse pensamento:

- Tolice! Fiz uma promessa à Santíssima Virgem de que, se você ficar bom novamente, venderei o teu peso em trigo e darei o dinheiro para a capela da Cova da Iria.

Ao que o pastorinho logo replicava:

- A senhora não terá que cumprir essa promessa, madrinha. Eu bem o sei.

Por aqueles dias, enquanto conversava com a irmã sobre como oferecer seu sacrifício pelos pecadores, apareceu-lhes a Senhora do Rosário. Olhava-os com grande bondade e doçura, fazendo com que os corações das duas crianças se enchessem de celeste alegria. Francisco estava certo de que Ela viera para buscá-lo. Entretanto, Nossa Senhora lhe disse, carinhosamente:

- Ainda não, Francisco. Mas em breve virei buscar-te para o Céu, como prometi.

Ficava-lhe ainda, portanto, um pouco de tempo para consolar com seu sofrimento Nosso Senhor e o Imaculado Coração de Maria. E para dar bom exemplo a todos quantos o visitavam. "Ficar no seu quarto era como se estivesse dentro de uma igreja", comentou uma vizinha, depois de se encontrar com o pequeno.

Apesar das muitas dores que sentia, Francisco sempre se mostrava alegre e contente, suportando tudo com uma paciência heróica, sem nunca deixar escapar um gemido, nem a mais leve queixa. Em diversas ocasiões, Lúcia perguntou-lhe se sofria muito, ao que ele respondia, invariavelmente:

- Sim, mas não importa. Sofro para consolar a Nosso Senhor, por amor d'Ele e de Nossa Senhora. E depois, daqui a pouco vou para o Céu!

Sua única lamentação era por não ser mais capaz de rezar e consolar o Santíssimo Sacramento, na igreja paroquial. Às vezes, quando Lúcia o visitava antes de ir para a escola, Francisco lhe dizia:

- Olhe! Vá à igreja, e dê muitas saudades minhas a Jesus escondido. O que me dá mais pena é não poder mais ficar algum tempo com Ele.

Se percebia que a prima estava passeando com certos colegas, ainda acrescentava:

- Não ande com eles, porque você pode aprender a cometer pecados. Quando sair da escola, vá ficar um pouco junto de Jesus escondido, e, depois, venha sozinha.

À medida que a doença progredia, e as forças lhe iam faltando, o pastorinho se via obrigado a abandonar não só seus hábitos piedosos, como também, e sobretudo, suas antigas penitências. Assim, um dia chamou a prima e, sem que ninguém os visse, entregou-lhe a corda que usava para fazer sacrifício, dizendo-lhe:

- Tome. Leve-a, antes que minha mãe veja. Já não consigo mais tê-la na cintura...


(Livro Jacinta e Francisco Prediletos de Maria - Monsenhor João Clá)

terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

SÃO CLÁUDIO DE LA COLOMBIÈRE, Presbítero Jesuíta e Apóstolo do Coração de Jesus.



Confessor e confidente de Santa Margarida Maria Alacoque, São Cláudio de La Colombière foi escolhido por Deus para propagar o amor e a confiança, por meio da devoção ao Sagrado Coração de Jesus.

No ano de 1675, um novo superior foi designado para a casa dos jesuítas em Paray-le-Monial. Sendo ele confessor extraordinário das vizinhas freiras da Visitação, foi estar com a superiora, Madre de Saumaise, a fim de se pôr à disposição do mosteiro. Esta lhe apresentou toda a comunidade e, enquanto o sacerdote dirigia às religiosas breves palavras de incentivo à prática da virtude heroica, uma delas, Irmã Margarida Maria Alacoque, ouviu uma voz interior lhe dizendo:

- “Eis aí quem te envio”! Fazia poucos anos que pertencia a freira à Congregação e já havia sido beneficiada pelo Sagrado Coração de Jesus com numerosas visões e revelações. Naquele momento, porém, passava ela pelo drama da dúvida. Seus superiores e algumas autoridades eclesiásticas a consideravam "uma visionária", levando-a a se perguntar se não estaria sendo vítima da ilusão ou enganada pelo demônio.

O Divino Mestre fizera-lhe, então, uma promessa: "Eu te mandarei meu fiel servo e amigo perfeito".1 Tratava-se do padre Cláudio de La Colombière, que Jesus enviava naquele momento à Irmã Margarida, para confirmar-lhe "em seus caminhos e para torná-lo participante de grandes graças do seu Sagrado Coração".


Formação em colégios da Companhia

Da infância do padre de La Colombière, pouco se conhece. Nasceu a 02 de fevereiro de 1641, na aldeia de Saint-Symphorien, mas aos nove anos mudou-se com a família para Vienne, onde os beneditinos de Saint Andrés-le-Bas lançaram em sua alma as primeiras sementes de sua ardorosa devoção à Sagrada Eucaristia e lhe ministraram a Primeira Comunhão.

Pouco depois de ter chegado à cidade, começou a estudar gramática com os padres jesuítas e, três anos depois, mudou-se para Lyon, a fim de cursar Humanidades, no colégio da Companhia. Foi também nessa cidade, na qual morou por cinco anos, que começou a tomar contato com a obra do grande Francisco de Sales, através das Irmãs da Visitação de Bellecour, em cujo convento falecera o santo fundador.

Cumpridos já dezessete anos, enquanto passava alguns dias de férias na casa dos pais, Cláudio decidiu tornar-se jesuíta. De temperamento reservado, um pouco tímido e muito afetuoso, custou-lhe separar-se da família. Mas o fez de bom grado e por completo, compreendendo consistir a verdadeira felicidade na entrega a Deus por um amor exclusivo.

Mais tarde afirmaria: "Jesus Cristo prometeu cem por um, e posso dizer que nunca fiz nada sem ter recebido, não cem por um, mas mil vezes mais do que havia abandonado".



Do noviciado ao sacerdócio

Corria o ano de 1658, quando Cláudio ingressou no Noviciado de Avignon. Ali se alternaram provas e alegrias, períodos de aridez com outros marcados por uma luz transbordante. Dois anos depois, proferiu os primeiros votos e, havendo concluído o curso de Filosofia, dedicou-se ao magistério no colégio da Companhia, conforme determinavam as regras, antes de prosseguir os estudos para o sacerdócio.

Por sua grande capacidade intelectual, estro literário e modo de fazer os sermões, o Superior Geral decidiu enviá-lo, em 1666, para estudar Teologia no Colégio de Clermont, em Paris. Ali se revelou exímio orador e excelente professor de retórica. Seu valor acadêmico e o exemplo ilibado de vida religiosa valeram-lhe o cargo de preceptor dos filhos de Colbert, o célebre Ministro do Tesouro de Luís XIV. Teve, assim, de frequentar os ambientes da corte, fazendo neles muitos amigos e dando mostras de grande talento, fino trato e elevada educação, além de se destacar pela firmeza de princípios e exímia virtude.



A Terceira Provação

Em 06 de abril de 1669, Cláudio recebeu as sagradas ordens e cinco anos depois chegou para ele o tempo chamado por Santo Inácio de "Escola do Afeto".

A sabedoria do fundador bem via quanto os largos anos de estudo, magistério e apostolado podiam ser para seus filhos espirituais motivo de diminuição do fervor inicial, contaminado por aspirações mundanas, quando não por sentimentos de vanglória pelos êxitos obtidos. Por isso, estabeleceu que cada jesuíta passasse por este novo período de noviciado, também chamado de Terceira Provação, antes de fazer a profissão solene. Nesse tempo, sob a orientação paternal de um instrutor, o religioso fazia um balanço de sua vida, visando desapegar-se de toda preocupação humana para deixar-se levar inteiramente pela luz divina.

A Casa São José, em Lyon, foi o lugar onde o padre Cláudio atravessou esse período, durante o qual fez um voto particular de cumprimento exímio das regras do Instituto, "sem reservas", dispondo-se a aceitar com alegria as determinações da Santa Obediência e romper de uma vez por todas as cadeias do amor-próprio. Ao mesmo tempo consolidou-se em sua alma a confiança - também sem reservas - na misericórdia divina, sem a qual ser-lhe-ia impossível manter-se fiel aos propósitos feitos em prol da própria santificação e a dos outros.

Esse tempo de solidão e recolhimento fê-lo também desapegar-se de todos os relacionamentos humanos, aos quais era extremamente sensível, para ter Nosso Senhor como único e verdadeiro amigo: "Meu Jesus [...] tenho certeza de ser amado, se vos amo. [...] Por mais miserável que eu seja, não me tirará vossa amizade nenhum indivíduo mais nobre que eu, nem mais culto ou mais santo".

Antes mesmo de concluir o tempo regulamentar, foi admitido aos votos solenes, feitos quando completava 34 anos, em 02 de fevereiro de 1675. Logo em seguida, recebeu o encargo de superior da casa dos jesuítas em Paray-le-Monial. Sua alma estava com a têmpera ideal para empreender a grande missão que o aguardava.


Três corações unidos para sempre

O padre de La Colombière não sabia o que encontraria nessa pequena cidade, mas seus superiores, inteirando-se das visões de Santa Margarida Maria Alacoque e das polêmicas que haviam gerado, o escolheram exatamente por causa do seu equilíbrio de alma. Padre Cláudio era perfeitamente capaz de sustentar os bons critérios frente às controvérsias criadas, dentro e fora do convento.

De fato, sem se importar com as críticas e juízos desfavoráveis, logo viu a mão de Deus nas visões de Irmã Margarida Maria e a tranquilizou e apoiou, recebendo, como recompensa, recados e favores do Divino Mestre.

Um deles ocorreu, certa vez, durante a Missa celebrada para a comunidade, quando a religiosa viu, na hora da Comunhão, o Sagrado Coração de Jesus como uma fornalha ardente e dois outros corações abismando-se n'Ele: o do padre de La Colombière e o seu próprio, enquanto ouvia estas palavras: "É assim que meu puro amor une esses três corações para sempre. Esta união destina-se à glória de meu Sagrado Coração. Quero que descubras seus tesouros, ele fará conhecer seu preço e utilidade. Para tanto, sejais como irmão e irmã, partilhando igualmente os bens espirituais".

Apressou-se ela em transmitir o fato ao sacerdote e depois relatou sua reação. "As mostras de humildade e as ações de graças com que ele recebeu essa comunicação e várias outras coisas que lhe transmiti da parte de meu soberano Senhor e que lhe diziam respeito, comoveram-me e foram-me mais proveitosas que todos os sermões que eu poderia ouvir".



Apostolado da confiança e do reafervoramento

No curto período de dezoito meses de sua permanência em Paray-le-Monial, quiçá tenha feito o padre de La Colombière mais pelas almas que em todos os anos anteriores de sua vida. O jansenismo, então em pleno auge na França, minava nos corações a confiança na bondade de Nosso Senhor e de sua Mãe Santíssima, e afastava os fiéis dos Sacramentos, sobretudo da Sagrada Comunhão.

O apostolado feito por São Cláudio em suas cartas, pregações e direções espirituais, ia, justamente, no sentido contrário: promovia a confiança em Maria e a devoção ao Santíssimo Sacramento. Atraiu assim muitas ovelhas desgarradas, trazendo-as de volta ao redil do Salvador.

Fundou uma Congregação Mariana para nobres e burgueses, na qual agrupou os cavalheiros católicos da cidade, bem como reorganizou a dos alunos do colégio da Companhia. Reestruturou o hospital dos peregrinos e indigentes, e pregou missões nos povoados vizinhos, com grandíssimos frutos de reafervoramento.



"Eis o Coração que tanto amou os homens"

Mas, sua máxima missão foi participar, por desígnio do próprio Jesus, na chamada "Grande Revelação" feita a Santa Margarida Maria, em um dia da Oitava de Corpus Christi de 1675, quando rezava diante do Santíssimo Sacramento: a difusão da devoção ao Sagrado Coração de Jesus, bem como a instituição de sua festa e da consagração reparadora.

Assim transcreveu a santa as célebres palavras proferidas por Nosso Senhor, enquanto lhe mostrava seu Divino Coração: "Eis o Coração que tanto amou os homens, que não poupou nada até esgotar-Se e consumir- -Se, para manifestar-lhes seu amor. E, como reconhecimento, não recebo da maior parte deles senão ingratidões, desprezos, irreverências, sacrilégios, friezas que têm para comigo neste Sacramento de amor. E é ainda mais repugnante, porque são corações a Mim consagrados".

Em seguida, pediu-lhe o Senhor que a primeira sexta-feira após a Oitava de Corpus Christi fosse consagrada como festa especial para honrar seu Coração, com um ato público de desagravo e comunhões reparadoras. Acrescentou a promessa formal de conceder copiosos favores espirituais para quem praticasse tal devoção.

A religiosa alegou sua indignidade e incapacidade de realizar a missão, e recebeu esta resposta: "Dirige-te a meu servo Cláudio e dize-lhe, de minha parte, que faça todo o possível para estabelecer esta devoção e dar esse gosto a meu Divino Coração; que não desanime diante das dificuldades que encontrará, pois estas não faltarão, mas ele deve saber que é todo poderoso quem desconfia de si mesmo para confiar unicamente em Mim".

Assim, na sexta-feira seguinte, São Cláudio, Santa Margarida e a comunidade da Visitação de Paray-le-Monial celebraram, pela primeira vez, a Festa do Sagrado Coração de Jesus, consagrando-se inteiramente a Ele.



Missão junto à Duquesa de York

Quando estava no auge de suas atividades em Paray-le-Monial, o padre de La Colombière recebeu ordem de partir para Londres, como capelão da Duquesa de York, Maria de Módena, que era católica fervorosa e só consentira em se casar com o Duque, irmão de Carlos II, após ser autorizada pelo governo inglês a ter sempre um sacerdote junto a ela.

Por meio da santa vidente, o Coração de Jesus recomendou a São Cláudio algumas atitudes a serem observadas em sua nova missão: não se assustar com a investida dos infernos contra seu carisma para atrair as almas, mas confiar inteiramente na bondade de Deus, pois seria Ele seu sustentáculo; usar de doçura e compaixão para com os pecadores; ter o cuidado de nunca separar o bem de sua fonte. Sua partida foi muito dolorosa para Santa Margarida, valendo-lhe uma censura de Nosso Senhor: "Não te basto Eu, que sou teu princípio e teu fim?".

De sua parte, São Cláudio permaneceu fiel ao voto e aos propósitos feitos no período da Terceira Provação, mantendo-se, "sem reservas", afastado da vida da Corte. Sendo capelão da Duquesa de York, vivia no palácio Saint James, mas fazia-o num regime de profundo recolhimento e grandes mortificações. Preocupava-se apenas em propagar a devoção à Sagrada Eucaristia e ao Sagrado Coração de Jesus, apesar das dificuldades criadas pela hostilidade contra a Igreja.

Acabou, entretanto, por converter famílias inteiras e atrair para a vida consagrada muitos membros da aristocracia londrina. Alguns destes os encaminhou para instituições religiosas na França; outros, os reuniu na própria Londres, num mosteiro clandestino, por ele fundado, próximo da Catedral de São Paulo.

Foi por essa época que Titus Oates acusou injustamente os jesuítas e outros membros da Igreja de estarem tramando o assassinato de Carlos II, a fim de substituí-lo por seu irmão, o Duque de York, convertido ao catolicismo. Embora o próprio rei considerasse absurda essa denúncia, ela deu origem a violentas perseguições contra os católicos, injustamente acusados de terem participado no chamado "complô papista".

A pretexto de tais acontecimentos, São Cláudio foi denunciado e encarcerado pelo crime de proselitismo religioso. Cumpria-se, assim, a premonição que tivera quatro anos antes, quando se havia visto "coberto de ferros e correntes, e arrastado a uma prisão, acusado, condenado por ter pregado Cristo crucificado".

As péssimas condições da enxovia onde foi lançado terminaram de minar sua saúde, já debilitada por uma tuberculose incipiente. Ali teria morrido em pouco tempo, se não tivesse sido libertado por força de uma intervenção de Luís XIV.


Consumação do holocausto

Chegou de volta à França em meados de 1679, quase sem forças. Depois de recuperar um pouco a saúde, dirigiu-se para o Colégio da Santíssima Trindade, em Lyon, onde outrora fizera seus primeiros estudos, para assumir o cargo de diretor espiritual dos alunos de Filosofia. Ali, embora fisicamente muito desgastado, não deixava de propagar a devoção ao Divino Coração, defendendo-a contra os inúmeros ataques e incompreensões de que era objeto.

No inverno de 1681, retornou a Paray-le-Monial, cujo clima parecia resultar- lhe um pouco mais benéfico. À vista, porém, do intenso frio daquela rigorosa estação, pensou-se em trasladá-lo para Vienne, onde ficaria aos cuidados de seu irmão, arcediago daquela Diocese. Mas o superior da casa mandou-lhe permanecer, após ter recebido São Cláudio um bilhete de Santa Margarida, com este recado do seu Divino Amigo: "Ele me disse que quer o sacrifício de sua vida aqui".

O holocausto não tardaria muito em ser consumado. Em 15 de fevereiro de 1682, com apenas 41 anos de idade, Cláudio de La Colombière foi encontrar-se com Aquele de quem fora servo fiel e amigo perfeito nesta Terra. Algumas horas depois dos funerais, Irmã Margarida, cujo coração permanecia unido ao seu, no Sagrado Coração de Jesus, pôde fazer esta recomendação: "Deixem já de afligir-se; invoquem-no com toda confiança porque ele pode socorrer-nos".

Contudo, a grande missão de São Cláudio só se realizaria plenamente muitos anos depois, em 08 de maio de 1928, quando Pio XI elevou à suprema categoria litúrgica a Solenidade do Sagrado Coração de Jesus, por meio da Encíclica Miserentissimus Redemptor.

Um ano mais tarde, Cláudio de La Colombière seria beatificado pelo mesmo Papa. E coube a São João Paulo II, em 31 de maio de 1992, a honra de incluir no catálogo dos santos o nome deste sacerdote jesuíta, tão amado pelo Divino Coração de Jesus.


(Fonte: Revista Arautos do Evangelho, Fev/2011, n. 110, p. 48 à 51)