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quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

SÃO JOÃO DA CRUZ, Presbítero e Doutor da Igreja.




São João da Cruz pertence à gloriosa plêiade de grandes luminares da Igreja e é, possivelmente, um dos maiores Santos de sua história. Foi o primeiro carmelita descalço, um grande místico, exímio mestre da vida espiritual, príncipe dos poetas espanhóis, doutor da Igreja (título de "o Doutor Místico"), o santo do despojamento e do desapego, "doutor do Tudo e Nada". 
Leitura obrigatória para todos aqueles que desejam aprofundar a oração contemplativa e a vida mística, São João da Cruz é lido não somente por estudiosos católicos, mas, até mesmo por pessoas de religiões, graças à maravilhosa literatura por ele deixada: Subida do Monte Carmelo, Cântico Espiritual, Chama de Amor Viva e A Noite Escura da Alma, que são suas principais obras, além de alguns outros escritos. 
Hoje, o Carmelo Descalço se alegra com a Solenidade deste Santo a quem frades, monjas e seculares chamam de "Santo Padre". 
Peçamos a ele que, do Céu, interceda por todos nós, tão imperfeitos, para que possamos à semelhança dele, amar a Deus sobre todas as coisas e desapegar de tudo aquilo que não seja Deus. E, como ele mesmo disse em uma de suas obras: "quem quiser ter o Tudo, tem que não desejar nada. Quem quiser chegar ao Tudo, tem que não querer nada de nada"...  
Pode-se com certeza afirmar que o que São Francisco de Assis foi em relação à virtude da pobreza, São João da Cruz foi em relação ao desapego total de si mesmo e de todas as criaturas. 



São João da Cruz nasceu em Fontíveros, Castela, em 24 de junho de 1542. Era o filho mais novo de Gonzalo de Yepes e Catalina Alvarez, pobres tecedores de seda de Toledo. Seu pai era de uma família rica, mas foi deserdado por causa de seu casamento com uma mulher mais pobre e morreu enquanto João era pequeno. Sua mãe, com a ajuda do filho mais velho, não conseguia prover o mínimo para a casa. João foi então mandado para a escola de pobres de Medina del Campo e era um estudante aplicado mas incapaz de aprender um ofício artesanal. O chefe do hospital de Medina o chamou para trabalhar e, por sete anos, ele se dividiu entre os cuidados com os mais pobres e os estudos em uma escola jesuíta. Já nesta idade tratava seu corpo com extremo rigor e por duas vezes foi salvo da morte pela intervenção de Nossa Senhora.

Ansioso sobre seu futuro, foi-lhe dito em oração que ele serviria a Deus em uma ordem de antiga perfeição que ele ajudaria a florescer novamente. Os Carmelitas tinham fundado uma casa em Medina, onde ele tomou o hábito em 24 de fevereiro de 1563 com o nome de João de São Matias. Depois de sua profissão de fé, ele recebeu autorização para seguir a regra Carmelita original. Ele foi enviado para Salamanca para continuar seus estudos e foi ordenado padre em 1567; em sua primeira missa ele teve confirmação de que deveria preservar sua inocência batismal. Mas, se afastando das responsabilidades, resolveu seguir os Cartuxos.

No entanto, antes de tomar qualquer decisão, ele conheceu Santa Teresa, que tinha vindo para Medina para fundar um convento de freiras e o persuadiu a permanecer na Ordem Carmelita para ajuda-la a fazer um mosteiro de frades seguidores da regra primitiva. Ele a acompanhou a Valladolid para ter experiência prática na maneira de viver das freiras reformadas. Tendo recebido uma pequena casa, São João resolve tentar a nova forma de vida, embora Santa Teresa não acreditasse que ninguém conseguiria enfrentar os desconfortos daquele lugar. Ele foi seguido por dois companheiros, um ex-prior e um irmão leigo, com quem inaugurou a reforma entre os frades em 28 de novembro de 1568. Santa Teresa deixou uma descrição do modo de vida desses primeiros Carmelitas Descalços em seu "Livro das Fundações".

João da Cruz, como ele mesmo se chamava, se tornou mestre dos noviços e fez a fundação do edifício espiritual que brevemente assumiria proporções majestosas. Ele teve várias funções até Santa Teresa o chamar para Ávila como diretor e confessor do convento da Encarnação, de onde ele era prioresa. Ele permaneceu em Ávila, com poucas interrupções, por cinco anos. Durante este tempo, a reforma se espalhava rapidamente e logo sua existência entrou em perigo. São João foi mandado de volta para Medina e, por causa de sua recusa em obedecer, foi preso em 03 de dezembro de 1577 e enviado para Toledo, onde sofreu por mais de nove meses aprisionado em uma pequena cela. Em seu sofrimento foi visitado por consolações celestes e algumas de suas melhores poesias datam deste período. Ele conseguiu fugir em agosto de 1578. Nos anos seguintes ele se ocupou da fundação e governo dos mosteiros de Baeza, Granada, Cordoba e Segóvia, mas não teve papel proeminente nas negociações que levaram ao estabelecimento de um governo separado para os Carmelitas Descalços.

 Após a morte de Santa Teresa em outubro de 1582, quando os partidos de Jerônimo Graciano e Nicolau Doria brigavam pelo poder, ele apoiou o primeiro e compartilhou seu destino. Durante algum tempo ele foi vigário provincial na Andaluzia, mas, quando Doria mudou o governo da ordem, concentrando todo o poder nas mãos de um comitê permanente, São João resistiu e, ajudando as freiras na tentativa de obter aprovação papal para suas constituições, chamou para si o descontentamento de seu superior, que o tirou de seus trabalhos e o mandou para um dos mosteiros mais pobres, onde ele ficou gravemente doente. Um de seus oponentes foi ao mosteiro para levantar acusações contra São João e tentar expulsá-lo da ordem.

Ele foi enviado para o mosteiro de Ubeda com o agravamento de sua doença e morreu em 14 de dezembro de 1591. Com sua morte até seus adversários reconheceram sua santidade e seu funeral foi ocasião de muito entusiasmo. Seu corpo, ainda incorrupto, foi transferido para Segóvia e apenas uma parte ficou em Ubeda.

Diálogo entre Cristo e o Santo: "João, que
recompensa quereis por teus trabalhos"?
"Senhor, sofrer ainda mais e ser
desprezado por Ti"... Imenso era o amor
do Santo pelo Cristo Sofredor na Cruz.
Desejava imensamente imitar a Jesus
Crucificado: abandonado até pelo
Pai.
Um estranho fenômeno, sem explicação satisfatória, foi observado em relação às relíquias de São João: Francisco de Yepes, seu irmão, e depois muitas outras pessoas viram a aparição nas suas relíquias de imagens de Cristo na Cruz, Nossa Senhora, Santo Elias, São Francisco Xavier e outros santos. Sua beatificação foi em 25 de janeiro de 1675, por Clemente X, a transladação de seu corpo foi em 21 de maio do mesmo ano e a canonização foi em 27 de dezembro de 1726, pelo Papa Benedito XIII. Pio XI proclamou-o Doutor Místico da Igreja em 24 de agosto de 1926 e em 21 de março de 1952 foi proclamado padroeiro dos poetas espanhóis.

São João da Cruz deixou os seguintes trabalhos, que apareceram pela primeira vez em Barcelona em 1619: Subida ao Monte Carmelo, uma explicação de alguns versos começando com: Em uma noite escura com amor ansioso inflamado; A Noite Escura da Alma, outra explicação dos mesmos versos. Ambos os livros foram escritos após sua fuga da prisão e são um complemento um do outro, formando um completo tratado de teologia mística; Chama de Amor Viva, um belíssimo poema que canta a união da alma amante com seu Deus amado; uma explicação do Cântico Espiritual (paráfrase do Cântico dos Cânticos), composto em parte durante sua prisão e completado e comentado anos depois a pedido da Venerável Ana de Jesus; instruções e precauções em assuntos espirituais;umas vinte cartas, principalmente para seus penitentes (infelizmente grande parte de sua correspondência, incluindo as cartas de e para Santa Teresa, foram destruídos, em parte pelo próprio São João, durante as perseguições que sofreu); seus poemas; e uma Coleção de Máximas Espirituais, retiradas de seus livros mas que, sozinha, já são um belo trabalho espiritual.




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Um resumo da doutrina de São João da Cruz:

São João da Cruz fala de quatro "Noites", duas passivas e duas ativas; duas dos sentidos e duas do espírito.
São elas:

- noite ativa dos sentidos;
- noite ativa do espírito;
- noite passiva dos sentidos;
- noite passiva do espírito.

As duas primeiras são tratadas no livro "Subida do Monte Carmelo", e as duas últimas no livro "Noite Escura". As "Noites" são o mesmo que purificações. Noites "ativas" são aquelas purificações que a alma opera pelo seu próprio esforço e luta; é a parte ascética. Noites "passivas" são aquelas em que é Deus mesmo quem age e purifica; é a mística.

A "noite ativa dos sentidos", consiste em toda sorte de penitências e mortificações dos sentidos, procurando não sentir gosto ou prazer em nada que venha dos sentidos. João da Cruz resume essa etapa de mortificações dizendo que a alma deve em tudo imitar Cristo, e deve em tudo tentar assemelhar-se a Ele, que não buscou o que lhe agradava, que não tinha onde reclinar a cabeça, e que não tinha melhor alimento que não fosse fazer a vontade do Pai.

A "noite ativa do espírito" consiste numa purificação das três potências da alma: inteligência, vontade e memória. Consiste numa espiritualização dessas três faculdades, purificando-as por meio das três virtudes teologais. Assim, a fé deve purificar e substituir a inteligência; a caridade deve purificar e santificar a vontade; e a esperança deve purificar e espiritualizar a memória. João da Cruz costuma de maneira especial usar o termo "Noite Escura", para as "purificações passivas".

A "noite passiva do sentido", consiste num estado místico, ou numa forma de oração em que a alma nada sente, nada experimenta, nada prova. É um período de deserto, trevas, aridez, desolação e noite. A alma sente-se abandonada por Deus. Deus retira aquelas "doçuras" e "suavidades" que a alma costumava encontrar na oração. No entanto a alma que está na "noite passiva do sentido", está muito adiantada, e ela sente, as vezes, que nunca esteve tão próxima de Deus e da verdade como agora que anda nas trevas, na aridez e na escuridão. A "noite passiva do sentido" é a preparação para a "vida mística". A "vida mística" ou "oração mística", se caracteriza de maneira especial pela passividade. É quando a alma não fala mais, não discursa mais, não tem mais palavras e permanece em silêncio amoroso diante de Deus. O início da "oração mística", consiste na "oração de simples olhar". É quando a alma apenas olha e cala, mas tem a vontade firmemente fixa e presa no objeto do seu olhar. A "noite passiva do sentido" é a entrada na "vida mística"; é quando a alma entra em si mesma e só encontra trevas e vazio. No entanto, estas trevas e vazio, são cheias de luz. Pois a alma compreende que está bastante adiantada na vida espiritual, e também porque recebe muitas luzes e compreensões a respeito de Deus. A noite passiva do sentido é a entrada na via mística, pois prepara a passagem da meditação discursiva para a oração contemplativa (mística).

São João da Cruz nos dá três sinais sobre quando se está pronto para passar da oração discursiva, para a oração contemplativa:

- O 1º sinal é não poder meditar nem discorrer com a imaginação, nem gostar disso como antes; ao contrário só acha secura no que até então o alimentava e lhe ocupava o sentido.

- O 2º sinal é não ter vontade alguma de pôr a imaginação nem o sentido em outras coisas particulares, quer exteriores, quer interiores.

- O 3º sinal, e o mais certo, é gostar a alma de estar a sós com atenção amorosa em Deus, sem discorrer com o intelecto, em paz interior, quietação e descanso, sem atos e exercícios intelectuais; mas apenas com a atenção e advertência geral e amorosa em Deus.

No princípio, entretanto, quando começa este estado, quase não se percebe essa notícia amorosa. Primeiro, porque no começo, costuma ser a contemplação muito sutil e delicada e quase insensível; segundo, porque tendo a alma se habituado à meditação (discursiva), cujo exercício é totalmente sensível, com dificuldade percebe esse novo alimento insensível e puramente espiritual. Em geral, a passagem da oração discursiva (meditação) para a oração contemplativa ou mística, se dá após um longo período da "noite passiva dos sentidos".

A "noite passiva do espírito" consiste num tipo de sede ardente, ou de forte saudades de Deus. A alma toma forte consciência de seus defeitos e imperfeições e sente-se abrasada em uma imensa sede amorosa por Deus.


Essa é a última das purificações, ou noites; após vêm um estágio denominado Desposório Espiritual, e por fim o Matrimônio Espiritual, que é o estado mais elevado que se pode atingir nesta terra, e que consiste numa plena união com Deus e numa total divinização da alma.


Em uma de suas visitas a Santa Teresa de Jesus, ambos entraram em profundo 
em êxtase e levitaram, ao falarem sobre o Amor de Deus... 
O fenômeno foi testemunhado por várias irmãs. 


Preciosa urna onde repousam os restos mortais do Santo. 


Restos mortais do Santo. Além de sua baixa estatura (realmente
era muito baixinho e franzino ao mesmo tempo), era comum
na época repartirem "pedaços" do corpo de santos para vários
conventos e capelas dos frades e monjas carmelitas. 

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