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domingo, 3 de janeiro de 2016

SANTA GENOVEVA, Virgem e Padroeira de Paris (03 de janeiro).



No ano de 420, São Germano, bispo de Auxerre, legado do Papa São Celestino, e São Lobo, Bispo de Troyes, rumavam para a Grã-Bretanha a fim de combater a heresia dos pelágios, os quais pretendiam poder o homem, sozinho, e sem a graça divina, merecer o céu e ver Deus na sua essência. Pelo caminho, os dois pontífices chegaram ao burfo de Nanterre, perto de Paris. Os habitantes, sabedores da reputação de ambos, apresentaram-se em multidão. São Germano fez-lhe uma exortação, e, olhando o povo que o circundava, viu de longe uma jovem em quem notou algo de celestial. Pediu-lhe que se aproximasse e, com grande assombro de todos, beijou-lhe respeitosamente a testa. Perguntou-lhe o nome, e quem eram seus pais. Responderam-lhe que se chamava Genoveva. Seu pai Severo e sua mãe Gerôncia apresentaram-se ao mesmo tempo.

São Germano congratulou-se com eles por terem tal filha, e predisse-lhes que, um dia, seria exemplo para todas as criaturas humanas. Exortou-a a lhe descobrir os segredos do coração, e perguntou-lhe se queria consagrar-se a Jesus Cristo, como esposa. Genoveva declarou que era esse o seu propósito, e rogou ao santo bispo lhe desse a benção solene das Virgens. Entraram na igreja para a prece da nona; em seguida, entoaram-se vários salmos, e fizeram-se longas preces durante as quais o santo bispo manteve a mão direita sobre a cabeça da jovem. Depois, almoçou com ela e seus pais, e recomendou a estes que lhe levassem no dia seguinte. Não faltaram ao compromisso e, São Germano perguntou a Genoveva se se lembrava do que tinha prometido. "Sim, santo padre, disse ela, e espero observá-lo com o auxílio de Deus e por meio de vossas orações." Olhando para o chão, viu ele uma moeda de cobre com o sinal da cruz; pegou-se, e, dando-a a Genoveva, disse-lhe: - "Guardai-a por amor a mim, levai-a sempre pendente do pescoço e como único ornamento, e deixai o ouro e as pedras preciosas às que servem o mundo." Recomendou-a aos pais, e continuo

Desde a idade de quinze anos até os cinquenta, santa Genoveva não comeu senão duas vezes por semana, no domingo e na quinta-feira; e assim mesmo, tratava-se apenas de pão de cevada e favas; nunca bebeu vinho nem coisa nenhuma que pudesse entontecê-la. Alguns dias depois da partida de São Germano, a mãe pretendeu impedi-la de ir à igreja num dia de festa, e, não logrando retê-la, a bateu na face. Imediatamente, ela cegou e cega ficou durante dois anos. Finalmente, lembrando-se da profecia de São Germano, disse à filha que lhe trouxesse um pouco de água do poço e que sobre ela fizesse o sinal da cruz. Santa Genoveva lavou-lhe os olhos, e ela começou a ver um pouco; quando a filha repetiu o ato duas ou três vezes, a mãe recobrou inteiramente a vista.

Após a morte dos pais, Genoveva foi viver em Paris, em casa de sua mãe espiritual, ou madrinha. Lá recebeu solenemente, com outras duas virgens, o véu das mãos do bispo. Deus provou-a pelos sofrimentos; todo o corpo foi atacado de paralisia, e, durante três dias, ela pareceu morta. Quando recobrou a saúde, contou que um anjo a tinha conduzido à morada dos justos, para receber o prêmio que Deus reserva aos que o amam. Recebeu também o dom de ler no âmago dos corações.

Entretanto, São Germano de Auxerre, em 447, foi chamado pela segunda vez à Grã-Bretanha, e para lá rumou com São Severo, bispo de Tréves. Os dois prelados tomaram o caminho por Paris. Os habitantes dessa cidade, sabedores que eles chegavam, foram encontrá-los e rogaram a São Germano que lhes desse a benção. Ele pediu-lhes notícias de Genoveva. Compreendeu pelas respostas que a sua reputação era violentamente atacada por calúnias. Conhecendo-a perfeitamente, rumou para ela, e saudou-a tão humildemente que todos se encheram de assombro. Falou ao povo, para justificá-la e, a fim de provar a sua virtude, mostrou no lugar em que repousava o chão encharcado de lágrimas. Tendo persuadido todos da inocência de Genoveva, continuou a jornada.


Aos quinze anos Genoveva consagrava-se definitivamente a Deus. Passou a fazer parte de um grupo de jovens consagradas a Deus. Vestiam um hábito que as distinguia das outras mulheres, mas não viviam em convento. Moravam em suas próprias casas dedicando-se às obras de caridade e de penitência. Genoveva levava tudo muito a sério: jejuava frequentemente e, quando podia, retirava-se procurando renovar sua vida espiritual.

Um dia, espalhou-se a notícia de que Átila, rei dos hunos, iria devastar a Gália. Os cidadãos de Paris tomados de pânico resolveram emigrar e transportar os seus haveres a cidades mais fortificadas. Genoveva, reunindo as companheiras, aconselhou-lhes dedicar-se aos jejuns, às preces e às vigílias, a fim de lograrem, como Judite e Ester, escapar à calamidade que as ameaçava. Reuniram-se com Genoveva no batistério, e destinaram vários dias a tais obras de penitência. A santa, por outro lado, dizia aos homens que não abandonassem Paris, visto que as cidades para as quais pretendiam retirar-se seriam devastadas pelos bárbaros, ao passo que, com a proteção de Cristo, Paris ficaria salvo.

Mas os habitantes de Paris sublevaram-se contra ela, chamando-lhe falsa profetisa. Falavam até em assassiná-la a pedradas, ou afogá-la num sorvedouro. Apareceu então de Auxerre o arquidiácono de São Germano, que encontrou nos parisienses amontoados nos cantos das ruas, bradando que matariam Genoveva. Disse-lhes “Não cometais tamanho crime. A que pretendeis matar, soubemo-lo do nosso bispo São Germano, foi escolhida por Deus desde o seio materno; e eis aqui elogios ou bênçãos que lhe trago da parte do sumo pontífice”. Os habitantes de Paris, considerando o testemunho de Germano, temeram a Deus e deixaram de molestar-lhe a fiel servidora. Chegaram até a conceber por ela uma veneração religiosa, quando viram, de acordo com a profecia, que os hunos se afastavam da sua província.

Segundo duas Vidas antiquíssimas de Santa Genoveva, mais antigas até que Gregório de Tours, os francos assediaram durante muitos anos, ou melhor, dez anos, a cidade de Paris, o que provocou uma fome extrema, estando todas as cercanias devastadas. A cidade abriu as portas, e o rei dos francos, Childerico ou Hilderico como o chamam essas Vidas, lá, pelo menos durante algum tempo, fixou moradia. A protetora dos parisienses durante tais calamidades foi Santa Genoveva.

 Na fome, arranjou-lhes mantimentos que foi procurar pessoalmente com barcos no Sena, até Arcis-sur-Aube e em Troyes. Em seguida, várias vezes obteve de Hilderico o perdão dos que ele havia condenado à morte. O rei, apesar de bárbaro e pagão, não pode deixar de respeitá-la. De resto, era tão grande a fama de Genoveva, que do fundo da Síria São Simeão Estilita pedia notícias dela e se recomendava às suas preces.
O que excitava a admiração e o afeto de todos era apenas a sua terna piedade, que a fazia verter lágrimas cada vez que erguia os olhos ao céu, não era somente a sua viva caridade para com os pobres, mas o grande número de milagres que Deus lhe permitia realizar. Viram-na, com o sinal da cruz, curar enfermos, devolver a vista aos cegos, o ouvido aos surdos, expulsar demônios, ressuscitar mortos. Viram-na realizar milagres desse gênero em vários lugares, principalmente em Paris, Meaux, Laon, Troyes, Orleans e Tours. Várias vezes foi em romaria a esta última cidade, a fim de honrar as relíquias de São Martinho. 

Tinha também particular devoção por São Dionísio de Paris, e mandou erguer-lhe, bem como os companheiros de martírio, uma igreja no lugar em que tinham vertido o sangue pela fé de Jesus Cristo. Foi ainda ela que formou o projeto da basílica dos apóstolos São Pedro e São Paulo, começada por Clóvis e terminada por Santa Clotilde. Finalmente após uma vida de 80 anos, passada na prática de toda a espécie de obras, Genoveva morreu em 3 de Janeiro de 512, cinco semanas depois que Clóvis, o primeiro rei cristão dos francos.

O seu corpo foi sepultada perto do príncipe, no recinto da nova igreja dos apóstolos, que ainda não estava concluída, e que, com o tempo tomou o nome de Santa Genoveva, trazido até o nosso século.

(Vida dos Santos, Padre Rohrbacher, Volume I, p. 122 a 128

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