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Encontre o (a) Santo (a), Beato (a), Venerável ou Servo (a) de Deus

sexta-feira, 31 de outubro de 2014

SANTO AFONSO RODRÍGUEZ, Irmão Leigo Jesuíta.



Afonso Rodriguez nasceu a 25 de julho de 1531, na cidade de Segóvia, Espanha, numa família de sete filhos e quatro filhas, sendo o segundo da numerosa prole. Como não era raro na época, seus pais, bastante virtuosos, criaram os filhos no amor e no temor de Deus e na devoção Àquela que é a Medianeira de todas as graças, Nossa Senhora.
Desde pequeno Afonso aprendeu a invocá-La e, em sua inocência, confiava-Lhe todos seus desejos e apreensões. Certo dia, estaria ele já entrando na adolescência, num transporte de amor, disse à soberana Senhora: “Ó Senhora, se Vós soubésseis quanto Vos amo! Eu Vos amo tanto, que Vós não podeis amar-me mais do que eu a Vós”. Ao que, aparecendo-lhe, disse-lhe a Rainha dos Céus: “Você se engana, meu filho, porque eu o amo muito mais do que você pode me amar”.

Foi na cidade de Segóvia, que fez os primeiros contatos com os religiosos jesuítas. Dois religiosos jesuítas, indo pregar missão em Segóvia, hospedaram-se em sua casa. Afonso e seu irmão foram designados para atendê-los, e receberam, em troca do esmero com que o fizeram, bons conselhos e orientação religiosa. Foi o primeiro contato que o futuro santo manteve com os jesuítas.

Com eles começariam, Afonso e seu irmão, seus estudos no colégio da Companhia em Alcalá. Dir-se-ia que o futuro de Afonso estava traçado: tornar-se-ia um sacerdote da Companhia de Jesus e brilharia por sua eloquência e santidade. Nada disso.

Os caminhos da Providência eram outros. Afonso teve que interromper os estudos, com a morte do pai, pois, como seu irmão estava mais adiantado neles, era preferível que se formasse. Assim, Afonso tomou um rumo oposto: tornou-se o encarregado da loja de tecidos do falecido progenitor, e casou-se. Nasceram os dois primeiros filhos, um casal. Estava ele assim encaminhado para uma vida virtuosa dentro dos laços conjugais e como honesto comerciante.


Um modelo como marido e pai, péssimo comerciante.

Mas se Afonso era muito bom marido e pai, revelou-se comerciante incompetente. Pois tinha tanto escrúpulo de obter algum lucro ilicitamente, que pouco ganhava em suas transações comerciais. A esposa alertou-o que, desse modo, iriam eles acabar na miséria. Mas de nada adiantou. E os negócios iam de mal a pior para a família.


Chegou então horas difíceis, horas de provações: a esposa bem-amada faleceu ao dar à luz a um menino. Pouco tempo depois, faleceu a filhinha, e não muito depois um dos meninos. Esses cruéis sofrimentos fizeram-lhe compreender que não há nada de duradouro nesta vida, e que tudo passa como o vento. Agora ficava ele só com o filhinho que custara a vida à mãe, e concentrou nele todo seu afeto.

Levando uma vida extremamente penitente, mais própria a religiosos que a comerciantes, Afonso continuou com sua loja, sendo visitado continuamente por visões e êxtases. Um dia em que ele chorava seus pecados, Nosso Senhor apareceu-lhe acompanhado de um brilhante cortejo de 12 santos, dos quais ele reconheceu apenas São Francisco de Assis.

Este lhe perguntou por que chorava. “Ó querido santo — respondeu-lhe Afonso — se um só pecado venial merece ser chorado durante toda uma vida, como vós quereis que eu não chore, sendo tão culpado”? A humilde resposta agradou a Nosso Senhor, que o olhou com muita complacência e desapareceu.

O amor de Afonso pelo filhinho era extremo, mas todo sobrenatural. De modo que ele, um dia, contemplando a inocência do menino de três anos, e pensando no horror que representa o pecado mortal, implorou a Deus que, se mais tarde aquela criatura fosse ofendê-Lo de maneira grave, que Ele a levasse em sua inocência batismal.

Parecia que Afonso adivinhava o destino de seu amado filhinho, dolorosamente teve que enterrar seu último filho, mas na alegria de sabê-lo salvo no Céu, seu amado filhinho era um anjo que não merecia sofrer as tentações do mundo.



Irmão leigo na companhia de Jesus

Aos 32 anos de idade, estava livre para tornar-se religioso na Companhia de Jesus. Mas não foi o que ocorreu, pois os caminhos da Providência são, muitas vezes, diferentes de nossos planos.

 Afonso vendeu todos os seus bens e dirigiu-se a Valença, pedindo admissão na Companhia de Jesus. O reitor, entretanto, aconselhou-o a aprender antes a língua latina, para poder seguir o sacerdócio. Ele entrou então como preceptor do filho da Duquesa de Terra-Nova. Decorreram outros seis anos até que Afonso fosse admitido na Companhia. Nela, o santo seguiu rigorosamente o programa de estudos para poder ordenar-se. Mas, já quase com 40 anos e com má saúde, piorada pelo excesso de austeridades, não conseguia aprender o suficiente para o sacerdócio. Ele o compreendeu, como logo também se deram conta disso seus superiores. Assim, ele foi admitido na Companhia de Jesus como simples irmão leigo.


O santo porteiro jesuíta

Nessa humilde condição, Afonso foi enviado ao colégio de Palma de Mallorca, para cuidar da portaria, humilde função que o santo religioso desempenhou até o fim de sua vida, durante numerosos anos. Soube levar ali uma vida de extraordinária riqueza espiritual. 

Durante mais de 30 anos como porteiro, fazendo com espírito sobrenatural suas mais simples ações, chegou a um alto grau de vida mística e se elevou à mais alta santidade, conservando a ideia de Deus continuamente presente no seu espírito, vivendo em permanente mortificação, obedecendo com humildade perfeita aos seus superiores, e dando provas de uma ilimitada caridade, de uma complacência e uma mansuetude inalteráveis, fosse em relação a seus irmãos, fosse em relação aos alunos e aos estrangeiros que frequentavam o colégio.

Logo de manhã, quando o sino tocava o despertar, ajoelhava-se perto da cama, agradecia à Santíssima Trindade por havê-lo preservado naquela noite de todo o mal e pecado, e dizia estas palavras do Te Deum: “Dignai-vos, Senhor, guardar-me, neste dia, sem pecado”. Renovava então o propósito de receber a todos, em seu ofício de porteiro, como se fossem o próprio Nosso Senhor.

A cada hora do dia ele recitava uma jaculatória especial, celebrando uma das invocações de Nossa Senhora; e à noite, antes de deitar-se, recomendava-Lhe todas as almas do Purgatório, suplicando que aceitasse seu repouso como uma oração em sufrágio delas.

Várias vezes, viram-no arrebatado em êxtase enquanto orava, mas os dons de Deus não lhe enchiam de vaidade o coração. Afonso Rodríguez considerava-se o maior dos pecadores e os favores que recebia do Senhor só serviam para incutir nele sentimentos da mais profunda humildade.

Seu comércio com o sobrenatural era contínuo, como ele mesmo revela em sua autobiografia, falando na terceira pessoa: “Essa pessoa chegou a viver tão familiarmente com Jesus e sua santa Mãe, que às vezes parecia-lhe caminhar entre ambos, e que os dois o abraçavam, e ele Lhes dizia amorosamente: Jesus, Maria, meus dulcíssimos amores, morra eu e padeça por Vosso amor”.


Perseguições do demônio e socorro

Se Afonso tinha visões celestes, não era privado das infernais. O demônio aparecia-lhe sob as mais horrendas formas e o tentava de todos os modos possíveis, principalmente contra a virtude da pureza. Para combatê-lo, o irmão leigo recorria à penitência e à oração, sobretudo à Rainha do Céu e da Terra. Duas vezes o espírito infernal lançou-o do alto da escada que unia dois pavimentos, e nas duas vezes foi ele amparado por Nossa Senhora.

Numa violenta tentação de desespero, chamou Maria em seu socorro. Nossa Senhora apareceu-lhe circundada de luz celeste, e os demônios fugiram espavoridos. “Meu filho Afonso, disse-lhe Ela, onde estou, você não tem nada a temer”.

A um religioso espanhol, que depois lhe escreveu a biografia, deu este conselho: “Quando desejar obter qualquer coisa de Deus, recorra a Maria, e esteja seguro de tudo obter”.



Obediência e apóstolo da devoção mariana

Sua obediência aos superiores era cega, e difícil de compreender em nossa época dominada pelo orgulho. Certo dia ele assistia uma conferência sentado perto da porta. Ao entrar um superior, ofereceu-lhe o lugar. “Permaneça onde está”, disse-lhe ele. Afonso ficou lá até bem depois de terminada a conferência, e só saiu quando alguém o foi chamar.

Para prová-lo outra vez, o superior mandou que embarcasse para a Índia. Sem mais pensar, nem pegar roupas e provisões, partiu ele. O superior mandou detê-lo, e perguntou-lhe:

“Como iria à Índia?”. “Eu iria até o porto e procuraria um navio; se não o encontrasse, entraria na água e iria o mais longe possível; depois retornaria, contente de ter feito tudo para obedecer”.

Em seu zelo apostólico, o fervoroso irmão procurava difundir entre os alunos do colégio grande devoção à Virgem, insistindo com que a Ela sempre recorressem e se inscrevessem na Congregação Mariana. Evangelizava os pobres e vagabundos que apareciam no colégio à procura de esmola, cativando-os por sua ardente caridade.


Diretor espiritual de Pedro Claver

Por volta de 1605, Afonso Rodríguez foi procurado por um jovem seminarista jesuíta catalão, Pedro Claver, que lhe pediu com insistência que o simples irmão leigo fosse seu diretor espiritual. Surgiu então entre os dois uma amizade sobrenatural que não cessou com a morte, pois Afonso Rodríguez teve a visão da entrada de seu discípulo na glória celeste. Foi por sua direção que Pedro Claver partiu para a América, onde dedicou todas suas forças, energias e imensa caridade ao apostolado com os negros. Afonso Rodríguez acompanhava de longe o labor apostólico de seu discípulo, oferecendo-lhe não só suas orações, mas o mérito de suas penitências. Dedicou a ele um livreto que escreveu, com o título “A Perfeição Religiosa”.

Santo Afonso Rodriguez faleceu no dia 31 de outubro de 1617, aos 86 anos de idade.



ORAÇÃO:

Ó Deus, concedei-nos, pelas preces de Santo Afonso Rodrigues, a quem destes perseverar na imitação de Cristo pobre e humilde, a benção de que como ele, eu trilhe os meus caminhos nesta vida praticando a todo o momento o amor ao próximo e que sempre eu exemplifique este amor, só assim serei digno de ser vosso servo e ser o menor dos discípulos de Jesus. Amém! 

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Beato Eustáquio Van Lieshout, Presbítero e Missionário no Brasil (muito querido e venerado pelo povo de Minas Gerais). São dois textos biográficos.


Beato Eustáquio Van Lieshout,
Presbítero e Missionário no
Brasil. 
Um taumaturgo do século XX. Dotado dos carismas do conselho e da cura, pastor de almas e modelo de pároco, Padre Eustáquio suportou com humildade e fortaleza as muitas incompreensões que sofreu.


"Jesus partiu dali numa barca para se retirar a um lugar deserto, mas o povo soube e a multidão das cidades o seguiu a pé. Quando desembarcou, vendo Jesus essa numerosa multidão, moveu-se de compaixão por ela e curou seus doentes" (Mt 14, 13-14).

Os últimos anos da vida do Beato Eustáquio van Lieshout no Brasil tiveram muita semelhança com essas cenas descritas no Evangelho: multidões que acorriam para lhe pedir ajuda espiritual ou cura de enfermidades, sendo todos atendidos com carinho de pai. E quando as autoridades eclesiásticas ou seus superiores, temerosos com as repercussões daquele movimento, mandavam-no para outros lugares, logo o povo descobria e acorria atrás de seu "santo".


Foto do Beato quando chegou ao
Brasil. 
Padre Eustáquio desembarca no Rio de Janeiro

Nascido na Holanda em 03 de novembro de 1890, foi ordenado sacerdote em 1919 na Congregação dos Sagrados Corações. Sua família, profundamente católica, ofereceu à Igreja mais duas vocações: de duas irmãs suas que se fizeram religiosas. Chamado pelo Senhor à missão, o Beato Eustáquio desembarcou no Rio de Janeiro em 12 de maio de 1925. Seu destino: o povoado de Água Suja, no Triângulo Mineiro.

Situado às margens do Rio Bagagem, aquele local sofria dos males comuns às regiões de mineração muito afastadas, sendo marcado por enormes necessidades espirituais e materiais. O farol que iluminava a vida dura dos mineiros era o antigo santuário de Nossa Senhora da Abadia, onde se fixou o padre vindo da Europa.

Nos seus dez anos em Água Suja - cujo nome foi mudado para Romaria - ele iniciou a edificação do Santuário de Nossa Senhora da Abadia, que se tornou um grande centro de peregrinação.



Pai dos pobres e dos enfermos

Em Romaria, como nas cidades onde atuou depois, dedicou-se com extremo desvelo aos pobres e aos enfermos. Nas suas visitas às casas de seus paroquianos, servia até mesmo de médico e enfermeiro dos doentes.

Certo dia, numa choupana de Romaria, encontrou um menino cujo corpo era todo uma só chaga. Nem a mãe da criança tinha coragem de cuidar do pobrezinho. O Padre Eustáquio assumiu pessoalmente essa incumbência: dava-lhe banho todos os dias, lavava suas roupas, tirava com uma pinça os vermes que lhe corroíam a carne, da qual se exalava um insuportável mau cheiro, e aplicava as pomadas que ele próprio havia preparado. Em pouco mais de um mês, o menino estava curado.

Noutra ocasião, quando o pároco almoçava em companhia de seus auxiliares no modesto refeitório da casa paroquial, a campainha tocou, e um deles foi atender. Voltou pouco depois e sentou-se sem nada dizer.

- O que houve? - pergunta o Beato Eustáquio.
- Nada... Nada de urgente. Estão querendo falar com o senhor... Mandei esperar na sala de visitas.
- Não! Mandar esperar, nunca! O pároco é o escravo de seus paroquianos.

Dizendo isto, deixou na mesa a refeição inacabada e foi atender os visitantes.

Assim comportou-se o Padre Eustáquio durante seus 24 anos de sacerdócio. Com uma diferença: ele era o escravo de todos os necessitados, e não apenas de seus paroquianos.


O carisma da cura: “Saúde e paz”.

Em Romaria, o Padre Eustáquio já fez algumas curas consideradas milagrosas. Mas foi em Poá (SP), para onde foi transferido, tomando posse como pároco em fevereiro de 1935, que esse dom começou a brilhar com maior intensidade, e sua fama de santidade começou a se espalhar irresistivelmente pelo Brasil inteiro. Tinha o costume de abençoar os fiéis com a seguinte saudação: “Saúde e paz”. Muitas vezes, com suas bênçãos, os enfermos saiam absolutamente curados, bem como os corações “sarados” e cheios de paz...

Um dos maiores benefícios que o Padre Eustáquio fez à população daquela região foi vencer o indiferentismo religioso e resgatar numerosas almas que estavam se emaranhando nas teias da seita espírita.

Multidões cada vez maiores procuravam assiduamente o homem de Deus para pedir o alívio de seus sofrimentos espirituais e físicos. A afluência de povo era tão grande que chegaram a passar por Poá cerca de dez mil pessoas por dia.

A autoridade civil e a religiosa se inquietaram com isso. Por intervenção do Arcebispo de São Paulo - arquidiocese à qual pertencia então Poá - os superiores do Padre Eustáquio se viram obrigados a transferi-lo.

Nosso beato ficou chocado com a notícia. Não conseguia entender como poderia ser impedido de exercer um carisma que claramente Deus lhe havia concedido para o bem do povo. Mas, como pessoa virtuosa que era, obedeceu sem pestanejar.


Sentindo-se um indesejado

Com ar de muito abatimento, deixou sua querida Poá no dia 13 de maio de 1941 sem nem sequer despedir- se das pessoas mais chegadas.

Teve de viver algum tempo oculto na cidade de São Paulo, numa situação humilhante, sob a vigilância de seus superiores, sendo até mesmo proibido de visitar seus amigos.

Desde a saída de Poá, a vida do Beato Eustáquio foi como a de um migrante. Onde quer que estivesse havia pessoas que o procuravam para lhe pedir ajuda, consolo e cura. Logo as multidões se lhe punham ao encalço, e isso causava desagrados e incompreensões. Quase invariavelmente, pouco depois era convidado a se retirar do local. É verdade que também recebeu mostras de carinho, como do Arcebispo de Campinas. Mas a par disso houve cenas constrangedoras, como quando foi obrigado a se retirar sem demora do Rio de Janeiro, ocasião em que nem lhe queriam dar tempo de rezar o breviário.


De volta a Minas Gerais

Em Belo Horizonte se conservam diversos pertences do Pe. Eustáquio, como a batina e o porta-hóstia usado nas visitas aos doentes. Chamado pelo jovem superior da comunidade da Congregação, em Patrocínio, Padre Eustáquio pôde finalmente encontrar sossego. Havendo chegado à cidade em outubro de 1941, ele sentiu-se de fato aliviado, pois seus companheiros de hábito, além de não lhe colocarem obstáculos, ainda o ajudaram nos seus labores apostólicos. Ali ele recebeu a comunicação de que o Arcebispo de Belo Horizonte queria sua presença em sua arquidiocese.

Na capital de Minas, aonde chegou em 03 de abril de 1942, Padre Eustáquio assumiu a paróquia dos Sagrados Corações, na qual permanecerá até 30 de agosto de 1943, dia de sua morte.
Após um início com algumas restrições, que fizeram temer a volta das sanções já aplicadas em outros lugares, o Beato pôde exercer com toda a liberdade os carismas da cura e do conselho, cumprindo a vocação para a qual o Senhor o destinara.

Zeloso pastor de almas, Padre Eustáquio ia ao encontro de
quem necessitasse de sua caridade pastoral, mesmo em
lugares longínquos e de difícil acesso. 



Acima de tudo, pastor de almas

Esse sacerdote exemplar, que sempre procurava remediar os males corporais, nunca se esquecia de que sua principal missão era salvar almas. E, nesse apostolado, "chegou a resultados que fazem lembrar os tempos da Igreja primitiva", escreve seu biógrafo, o Pe. Venâncio SSCC.

Repercutiram sensacionalmente na imprensa os milagres atribuídos ao Padre Eustáquio e há documentos de várias curas para as quais a ciência não tem explicação. Mas ele operou "milagres" muito mais importantes, e numa quantidade que de fato "fazem lembrar os tempos da Igreja primitiva": a conversão de milhares de pecadores.

Passava seis horas por dia atendendo confissões. Não tinha dotes oratórios, mas possuía em alto grau o dom da palavra ardente que move ao arrependimento e à mudança de vida. Na paróquia de Poá, muitas vezes três coadjutores eram insuficientes para atender os penitentes que faziam fila diante dos confessionários após ouvir uma recomendação desse homem de Deus.

Durante um tríduo de pregações na maior igreja de Belo Horizonte, nos três dias verificou-se um fato inédito: terminado o sermão, centenas de homens de todas as classes e idades corriam ao confessionário, disputando o privilégio de serem os primeiros a se reconciliarem com Deus. Movimentação ainda maior ocorreu na páscoa dos funcionários públicos: mais de cinco mil pessoas obrigaram doze sacerdotes a socorrerem-no no atendimento de confissões.

Donde lhe vinha esse poder de arrastar os pecadores à conversão? Do esplendor de sua santidade...



Vida interior exemplar

O Beato Eustáquio sabia que a alma de todo apostolado é a vida interior. Por isso, mesmo quando passava a noite em claro, começava o dia às cinco da manhã, para não se privar da hora de meditação quotidiana. Rezava o Rosário. Passava horas em adoração diante de Jesus Eucarístico. Nunca se dispensava de fazer seu exame de consciência nem de rezar o breviário.

Em certa ocasião, após um dia estafante, era noite alta e ele tinha de partir de viagem imediatamente. Vendo seu enorme cansaço, disse-lhe um bispo:

- Pe. Eustáquio, eu o dispenso de rezar o breviário hoje.

- Não posso, Excelência. O dia inteiro trabalhei para os outros, agora preciso pensar um pouco em mim mesmo.

Para esse religioso exemplar, a oração não era uma obrigação enfadonha, mas sim o alimento restaurador das energias. Fortalecido por ela, pôde ele realizar o empolgante lema de sua Congregação dos Sagrados Corações: "Para mim o trabalho, para o próximo a utilidade, para os Sagrados Corações a honra e a glória".


Morte serena em meio a lancinantes dores

No dia 20 de agosto de 1943, atendendo a um doente que sofria de tifo exantemático, o Pe. Eustáquio contraiu essa grave enfermidade, então incurável.

Em dez dias partiria para a eternidade. Prostrado no leito do hospital, caminhando para a morte – que, aliás, ele mesmo profetizara - permaneceu sempre sereno em meio a sofrimentos atrozes, de tal modo que seus últimos dias foram dos mais edificantes de sua vida.

Várias vezes foi visto rezando a oração que ele mesmo costumava ensinar aos outros:

"Ó meu Jesus, eu Vos amo. Eu Vos amo com a vossa Cruz, com o vosso sofrimento, com o vosso amor imenso. Ó Jesus, pelo sangue que derramastes e pelas lágrimas de vossa Mãe Santíssima, dai vista aos cegos, andar aos paralíticos, saúde aos enfermos, paz a todos os que sofrem e padecem. Meu Jesus, vossos passos quero seguir, vossas palavras falar, vossos pensamentos pensar, vossa cruz carregar, vosso Corpo comer, vosso Sangue beber, o pecado detestar e o Céu alcançar”.

Nos seus derradeiros momentos, renovou os votos religiosos, e só deu o último suspiro depois de ver entrar em seu quarto, chorando e cansado por uma longa e estafante viagem, seu superior provincial, com quem queria estar de qualquer modo antes de morrer. Era 30 de agosto de 1943.



E Deus o glorificou

Suas exéquias foram uma apoteose nunca antes vista na capital mineira. Todos os jornais e emissoras de rádio lhe dedicaram grande espaço, comentando seus dons e transcrevendo sua biografia. Pode-se dizer que a quase totalidade da população compareceu para prestar-lhe as últimas homenagens. Sua tumba tornou-se desde logo local de peregrinação. Em 1949, seus restos mortais foram transladados para o interior da igreja que começara a construir.

Infinitamente mais importante, porém, é a glória com que foi recebido no Céu, à qual a Santa Igreja acrescenta a glorificação dos altares, ao beatificá-lo. Assim, o apresenta como modelo para os fiéis do mundo inteiro, especialmente os párocos e os religiosos.

A cerimônia de beatificação foi presidida pelo Cardeal José Saraiva Martins, Presidente da Congregação para as Causas dos Santos, concelebrada por Dom Walmor Oliveira de Azevedo, Arcebispo de Belo Horizonte, Dom Luiz Mancilha Vilela, Arcebispo de Vitória, e numerosos outros bispos e sacerdotes, e contará certamente com a assistência de muitos milhares de fiéis.

(Revista Arautos do Evangelho, Julho/2006, n. 54, p. 31 à 33)


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Painel da Beatificação de Padre Eustáquio

Segundo texto biográfico:

 Humberto van Lieshout nasceu em Aarle Rixtel, Holanda, em 03 de novembro de 1890. Educado por pais dedicados e bons cristãos, e na convivência de seus oito irmãos, Humberto desenvolveu-se como rapaz generoso e piedoso.


O exemplo arrasta...

Um dia caiu-lhe nas mãos a biografia do famoso missionário Padre Damião de Veuster, o apóstolo da caridade cristã entre os asilados leprosos da Ilha de Molokai (já canonizado pelo Papa Bento XVI). Quis imitá-lo e por isso conseguiu matricular-se no Seminário dos Padres dos Sagrados Corações, mas encontrou bastante dificuldade em seus estudos. Seu abnegado esforço, firmeza de vontade e persistência venceram a fraqueza de seus talentos intelectuais.
No noviciado trocou o seu nome de batismo pelo de Eustáquio, e fez sua profissão religiosa em 27 de janeiro de 1915. Dedicando-se muito à oração e aos estudos, agora com menos dificuldade, no dia 10 de agosto de 1919 foi ordenado sacerdote. Em sua imensa felicidade, pedia à suas duas irmãs religiosas serem para ele no seu sacerdócio como Moisés na montanha, rezando pelo bom êxito do seu apostolado.
Por quatro anos exerceu diversos ministérios na Holanda, onde ganhou fama de caridoso e santo. Foi condecorado "Cavaleiro da Coroa" pelo Rei Alberto da Bélgica, pelo seu trabalho junto aos refugiados belgas.


Em terras brasileiras

Em 1925, finalmente, viu completar-se seu ideal vindo ao Brasil como missionário, com mais dois companheiros. O então bispo de Uberaba, Servo de Deus Dom Antônio de Almeida Lustosa, convidou sua congregação para vir a sua diocese. Foi assim fundada a primeira casa da Congregação dos Sagrados Corações no Brasil em Água Suja, MG, onde assumiram o Santuário de Nossa Senhora da Abadia.
Em 1926 tornou-se vigário de três paróquias, com muitas capelas anexas. Seus paroquianos eram pessoas simples, sem instrução religiosa. No começo, custou-lhe ganhar a simpatia daquele povo desconfiado. Visitava os doentes nas choupanas, distribuía roupas e alimentos aos necessitados, acudia aos problemas familiares. Era pai, amigo, advogado e piedoso pastor das almas.
Reabriu a escola rural, moralizou as festas da Padroeira, pregou missões populares em todas as três paróquias. Iniciou a construção do novo Santuário, tão conhecido hoje por todo o povo do Triângulo Mineiro. Conquistou assim toda a região, e ganhou fama de santo e milagreiro.
Quando foi transferido para Poá, SP, o povo não permitiu a sua saída. Somente dois meses depois, quando as coisas acalmaram, ele pode assumir essa nova paróquia recém-criada.


Poá fazia parte da zona suburbana da capital de São Paulo e a maioria da sua população trabalhava nas fábricas e indústrias de São Miguel e São Paulo. Sendo vigário da Paróquia Nossa Senhora de Lourdes, atendia várias outras paróquias vizinhas com seus dois padres coadjutores. Iniciou seu apostolado e as pregações em toda a região. Após uma viagem à Holanda e a Lourdes, na França, de onde trouxe não só muitos donativos, mas, também, muita água da fonte milagrosa, erigiu ao lado da igreja uma imitação da gruta de Lourdes.
Suas pregações e bênçãos logo criaram fama e projetaram o seu nome pelo estado e até Brasil afora...Passou a ser conhecido como o "Vigário de Poá". A notícia das curas do ‘santo’ Pe. Eustáquio fizeram afluir muita gente à sua procura. Milhares de pessoas se apinhavam nas ruas da pequena cidade de Poá, que não comportava tanto movimento de gente. A todos o bom padre procurava sempre atender ou dar sua bênção.
Em maio de 1941 a situação tornou-se insustentável e Pe. Eustáquio teve que ser transferido. Por onde passava as multidões acorriam e assim não conseguia mais descansar.

Após algumas transferências, foi empossado como vigário da Paróquia de São Domingos em Belo Horizonte, MG, em 07 de abril de 1942. Por ordem dos superiores, somente no confessionário podia atender os não paroquianos, em número reduzido, em horários fixos. Assim podia conduzir o seu apostolado na paróquia como um vigário normalmente faria.
A pedido do bispo realizou inúmeras atividades em outras paróquias da capital mineira, como retiros, conferências e confissões; o mesmo aconteceu em outras cidades do interior. Era incansável no trabalho pastoral, e assim consumiu sua robustez física.


Para a Casa do Pai...

De repente a notícia alarmante: Pe. Eustáquio adoecera gravemente, picado por um carrapato perigoso, em suas andanças pelas vilas abandonadas de sua paróquia. Contraíra tifo exantemático, mal para o qual não havia tratamento adequado naquele tempo. Diversas vezes havia predito sua morte próxima. Em julho de 1942, quando atendera uma senhora acamada havia anos e que pedia a Deus de ir para o céu, disse: "A senhora viverá, ainda, por muitos anos. Sou eu quem vou morrer no ano que vem".
Sofreu terrivelmente, mas aguardou a morte com calma e alegria. Dia 30 de agosto de 1943 sua bela alma descansou definitivamente na paz de Deus. Dia 31 foi decretado luto oficial no município de Belo Horizonte, e toda a cidade acorreu para o último adeus.

Durante cinco anos seu túmulo foi constantemente visitado por gente de todo o Brasil e em 1949 foi feita a exumação e trasladação para a sepultura definitiva na Igreja dos Sagrados Corações, cuja construção ele mesmo iniciara em 13 de maio de 1943.


Oração

SENHOR JESUS, nosso Bom Pastor, vós que um dia manifestastes imensa compaixão pelo povo, vendo-o como um rebanho sem pastor, nós vos agradecemos o bom pastor que nos destes na pessoa de vosso servo e amigo Pe. Eustáquio. Ele compreendeu vosso exemplo de total amor ao Pai e aos irmãos, ouviu vosso chamado e realizou-o com generosidade.
Senhor, vós o fizestes um sacerdote e missionário, filho dos Sagrados Corações, que se destacou pela dedicação em celebrar os sacramentos, pela paciência no aconselhamento espiritual, pelo zelo no anúncio do Evangelho e pela compaixão com os sofredores e aflitos. Assim, ele viveu sua especial consagração, tornando-se, por vossa graça e por seu esforço, um homem de Deus e do povo, honra para vós e exemplo para todos que continuais a chamar para vossa própria missão. Por isso, conforme vossa vontade, fazemos uma súplica pelos padres, religiosos, missionários e leigos atuantes em nossas comunidades. Que sejam santos, fiéis e numerosos.
Mais ainda, Senhor: nós vos pedimos com humildade e confiança, que glorifiqueis vosso servo Pe. Eustáquio, dando à vossa Igreja, e em especial à Igreja do Brasil, a alegria de invocá-lo oficialmente como santo. Para que a fama e a verdade de suas virtudes sempre mais se acentuem entre nós, rogamos através dele, a graça que tanto desejamos..........
Ó Bom Pastor, que a abundância da vossa misericórdia não se detenha aí, mas concedei também que nossas vidas sejam animadas por um grande amor para convosco e para com os nossos irmãos, assim como foi a vida do Pe. Eustáquio, que afirmou: "Ganhar almas, aliviar dores e sofrimentos: eis meu grande ideal inspirado por Deus". QUE ASSIM SEJA! AMÉM.

SÃO BERNARDO DE CORLEONE, Irmão Capuchinho, pecador convertido, grande penitente e taumaturgo.


A vida de São Bernardo comprova essa profunda transformação: dotado de temperamento violento, extraviou-se no caminho da turbulência; convertendo-se, com a mesma radicalidade seguiu o caminho da virtude de modo a alcançar a honra dos altares. 
Sim, a história da Igreja trás exemplos de santos e santas que não nasceram "santos"... Na verdade, até, foram grandes pecadores, porém, movidos pela graça, deixaram-se abraçar e abrasar pelo amor de Deus e, generosamente, permitiram que Deus mudasse radicalmente suas vidas. 


São Barnardo nasceu em Corleone (Palermo) no ano 1605. No Batismo deram-lhe um lindo nome: Filipe. Os biógrafos, ao evocar os seus primeiros anos, dizem-nos que era um jovem admirado, alto, forte, obstinado, mas dotado de um carácter decidido, leal e sincero. Igualmente nos asseguram que não era dissoluto, que frequentava os Sacramentos e era compassivo para com os pobres.

Seu pai era humilde artesão; e a família, tão piedosa que sua casa era conhecida como a “casa dos santos”. Embora não pudessem dar aos filhos uma educação esmerada, transmitiram-lhes a riqueza da prática e ensinamentos de nossa santa Religião

Com o pai aprendeu a profissão de sapateiro, mas, independente e ambicioso como era, logo começou a trabalhar por conta própria.
Dedicara-se, além disso, à arte da esgrima. Gabava-se diante de toda a gente de ser o melhor esgrimista da região. Não provocava ninguém, é certo, mas também não cedia a provocadores. Tinha um caráter fogoso e independente, dificilmente controlando seu espírito rebelde, insensível a ameaças e castigos.

Após o falecimento do pai, que tinha certa autoridade sobre ele, Felipe resolveu fazer-se soldado. Com seu espírito belicoso, logo começou a meter-se em encrencas, chegando mesmo a tornar-se, algumas vezes, feroz. A um comissário de guerra que se dirigiu a ele de modo altivo, cortou a cabeça com um golpe de sabre.

Também decepou o braço de um fidalgo que levantara a mão para esbofeteá-lo. Matou três bandidos que o assaltaram e ameaçavam tirar-lhe a vida. Travou vários duelos com companheiros de armas que dele discordavam em qualquer ponto ou que o desafiavam para saber quem era “melhor” no manejo da espada.

Em meio a esses desvarios, entretanto, Felipe tinha alguns bons movimentos. Certo dia, por exemplo, em que dois soldados roubaram de um compatriota seu o dinheiro do trigo que vendera a duras penas, ele os perseguiu e fê-los devolver o dinheiro.

Outra vez, passando com um amigo por um bosque, ouviu gritos de socorro. Acorrendo pressuroso, viu uma jovem que se debatia entre quatro facínoras que queriam roubar-lhe a pureza. Não teve dúvidas: descarregou a pistola sobre o mais afoito deles e fez os outros fugirem espavoridos.

Quando sentia remorsos por sua má vida, fazia alguma boa obra para aliviar a consciência. Mas, não ia além. Um dia em que ganhou uma soma considerável, pensou: “É justo que eu resgate alguns dos meus pecados”. E depositou a quantia no cofre de esmolas de um hospital.

Seu rancor era proverbial e não perdoava nem mesmo os mortos. Assim, certa vez, quando se realizavam os funerais de um senhor com quem havia tido um atrito, entrou na igreja no momento da encomendação do corpo e, diante da viúva e dos parentes do falecido em lágrimas, começou a gargalhar, para dar mostras de sua alegria por aquela morte.

Isso lhe valeu uma boa sova. Mais ainda: os parentes do falecido entraram em processo criminal contra o brigão, que foi perseguido pela polícia, tendo que se refugiar numa igreja para gozar do “direito de asilo”.


Hora da Providência: a conversão de São Bernardo de Corleone.

Chegara, finalmente, o momento para mudança de vida. Abandonado, perseguido pela justiça e pela própria consciência, Felipe foi aos poucos caindo em si. Não tendo outra coisa a fazer, começou a considerar a miserável vida que levava, e quão perto estava de sua eterna perdição.

A graça, penetrando em sua alma, fez o resto. Com um coração contrito e humilhado, pediu a Deus perdão por seus pecados e prometeu retirar-se do mundo para terminar seus dias em atos de penitência e de piedade. Depois de uma contrita confissão geral, dirigiu-se ao convento capuchinho de Palermo.

O superior, conhecendo sua reputação, tratou-o com rigor e mandou-o falar com o Padre Provincial, então de visita ao convento da cidade. Este também conhecia a má fama de Felipe e não o quis receber. Finalmente, tocado pelas insistências do infeliz, deu-lhe esperanças de o admitir na Ordem se ele fizesse, à família enlutada, reparação cabal pelo escândalo dado.

Felipe, apesar do obscuro nascimento, era dessas almas que se entregam com ardor ao bem, após ter-se entregue ao mal. Tinha horror à mediocridade e não gostava de meios termos. Assim, por mais dolorosa que fosse a prova, enfrentou-a com de forma altaneira e foi lançar-se aos pés das pessoas afetadas, pedindo-lhes humildemente o perdão.

Aqueles bons cristãos, vendo seu sincero arrependimento, o concederam de coração. Assim Felipe foi recebido no noviciado, mudando seu nome para Bernardo de Corleone, que o imortalizaria. Tinha então 27 anos de idade.


São Bernardo de Corleone aproveitando
um momento na cozinha para fazer
penitência...
Radicalidade santa na prática da virtude

Uma vez postas as mãos no arado, Frei Bernardo não olhou mais para trás, e caminhou a passos largos pela senda da humilhação e da penitência com o mesmo ardor com que se tinha entregue ao mal. De espírito independente antes, mostrou-se agora o mais obediente dos religiosos, procurando mesmo adivinhar o menor desejo dos superiores.

Como antes tinha sido ganancioso e desejoso dos bens terrenos, observou de tal maneira a santa pobreza, que muitos o comparavam ao Poverello de Assis. Nada possuía, a não ser um hábito gasto, um terço, uma cruz e uma disciplina (espécie de “chicote”) para domar os impulsos desregrados de seu temperamento. Passou a dormir no chão, e apenas três horas por noite.

Disciplinava-se (chicoteava-se) até o sangue e vivia a pão e água. As rudes provas a que o submetiam seus superiores, por mais humilhantes que fossem, apenas aumentavam-lhe o fervor. Sofreu inúmeros assaltos do demônio, os quais, em vez de abalar sua constância, o fortaleciam cada vez mais.

São Bernardo de Corleone sendo atacado visivelmente
por vários demônios. 
Frei Bernardo, embora simples e sem cultura, atingiu as mais sublimes alturas da oração e mereceu a honra de ser distinguido por graças especiais de Nosso Senhor e da Bem-aventurada Virgem Maria, chegando a conhecer os mais profundos mistérios de nossa Fé. Lia no interior das consciências, curou muitos doentes, distribuiu consolação e conselhos, intercedeu com orações que atraíram incontáveis graças.


São Bernardo gozava de aparições
de Nosso Senhor e de Nossa Senhora


Em Palermo todos comentavam tão profunda mudança. Um alto funcionário do rei foi um dia ao convento para comprovar o que diziam do antigo malfeitor.
Quando o viu junto a si, tratou-o com altivez e desdém. Mas as respostas de Frei Bernardo foram tão sobrenaturais, tão humildes e desapegadas, que o fidalgo acabou abraçando-o efusivamente, pedindo-lhe desculpas por sua altivez e recomendando-se às suas orações.
No dia da profissão religiosa de Frei Bernardo, o povo de Corleone acorreu em multidão para edificar-se com esse exemplo tão cabal de conversão religiosa.


São Bernardo Corleone: de grande pecador,
pela oração e penitência, dócil à graça de
Deus, tornou-se um grande santo. 
Caridade exímia para com os necessitados
Foi com verdadeira alegria que recebeu a função de enfermeiro numa época em que havia no convento vários frades com moléstia contagiosa.
Frei Bernardo prestava-lhes os auxílios mais humilhantes, tratando a cada um como se fosse o próprio Cristo Jesus. Foi também ajudante de cozinha e, para exercer melhor a humildade, lavava as roupas dos sacerdotes do convento.

Entretanto, queria mais. Por isso, implorou aos superiores licença para socorrer os habitantes de Scarlato, muitos dos quais morriam por causa de uma epidemia que assolara a cidade. Assim, os habitantes da região passaram a ver nele um anjo tutelar, a quem recorriam em todas as vicissitudes. E vários fatos provaram a caridade e bom senso desse irmão leigo.

Bernardo era muito solidário com seus companheiros frades e com toda a comunidade. Assim, quando ocorria uma catástrofe na cidade, como um terremoto ou furacão, típicos da região, Bernardo ajoelhava-se orando em penitência diante do Sacrário dizendo essas palavras: "Senhor, desejo essa graça!". O resultado sempre era favorável, pois as calamidades cessavam, poupando uma desgraça maior.


Um dos êxtases de São Bernardo
de Corleone
A sua simplicidade se assemelhava aos primeiros e genuínos capuchinhos, nostálgico das origens e fascinado pela experiência da vida de ermitão. Um grande júbilo acompanhava esta sua devoção mariana, cheia de calor, fantasia e festividade, de fato contagiante. O seu amor a Nossa Senhora era incontestável e sublime.

Bernardo, comovia não só por sua extraordinária penitência. Mas porque tinha grande delicadeza e doçura na atenção para com os outros, uma alegria e plenitude de vida que impressionava. Aos frades forasteiros fazia festa, para os pobres estava sempre disponível e para os doentes tinha um coração materno. Assistir-lhes e servir-lhes era a sua felicidade.


Preso e feito escravo por corsários muçulmanos
Deus queria que Bernardo, por novos sofrimentos, expiasse mais cabalmente as faltas da vida passada. Certo dia, os religiosos o mandaram fazer uma viagem por mar, de Palermo a Messina. O barco em que viajava foi atacado por corsários muçulmanos, e ele levado prisioneiro para o Magreb, onde foi vendido como escravo.
Já essa situação de escravidão entre infiéis é, de si, penosa. Mas a dele foi agravada pelas importunações impuras de uma jovem escrava. Evidentemente ele se opôs com toda tenacidade àquele pecado. O que levou a mulher, irritada, a obter do patrão comum que, depois de o ter espancado severamente, pusesse Frei Bernardo a ferros em imundo cubículo.

Finalmente, Deus quis recompensar seu servidor, e numa troca de prisioneiros ele voltou para a Itália.
Frei Bernardo de Corleone fazia-se notar por sua terna devoção à Paixão de Cristo, um profundo amor à Virgem Maria e à Santíssima Eucaristia — e, coisa rara para a época, tinha a dita de comungar diariamente. Quando se encontrava diante do Sacrário, concentrado em oração, o tempo, para ele, deixava de existir e não raro as pessoas se comoviam com a pureza de sua atitude. Além disso, ajudava o sacristão em suas tarefas diárias, para ficar ainda mais perto de Jesus Eucarístico.

Praticando o primeiro Mandamento em grau heróico, amava a Deus sobre todas as coisas; e também ao próximo como a si mesmo. Por isso, assolando a peste a cidade de Castelnuovo, obteve dos superiores licença para acompanhar cinco religiosos capuchinhos que lá iam socorrer os atingidos. Entregando-se de corpo e alma ao cuidado deles, sua natureza, antes tão robusta, mas gasta por penitências e privações voluntárias, sucumbiu. Atingido pela peste, Frei Bernardo faleceu no dia 12 de janeiro de 1667, na idade de 60 anos.

Seu funeral foi um acontecimento no reino da Sicília. Tal era a fama de sua santidade, que os grandes do reino quiseram ter a honra de carregar sobre os ombros seu caixão.

Muitos milagres ocorreram junto a seu túmulo, o que levou o arcebispo de Palermo a trabalhar pelo seu processo de canonização. Seu corpo foi exumado sete meses depois de sua morte e encontrado incorrupto. O Papa Clemente XIII beatificou-o em maio de 1768 e São João Paulo II canonizou-o em 2001.

Oração

Senhor, que em São Bernardo de Corleone nos destes um modelo extraordinário de penitência evangélica, concedei-nos, por sua intercessão, a graça de relativizar tudo o que é temporal e transitório, para sermos dignos da recompensa eterna. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.



São Bernardo de Corleone, rogai por nós!