O Bem-Aventurado
padre Mariano não fez milagres quando era vivo, nem realizou ações
extraordinárias, mas levou uma vida aparentemente comum na enorme e dinâmica
cidade de São Paulo.
Outrora
residência real, a espanhola Palência é uma cidade tranquila. E densamente
histórica também, pois ali foi fundada a primeira universidade da Espanha, no
longínquo ano de 1208. Entre suas joias arquitetônicas está a catedral -
"A Bela Desconhecida" -, pouco visitada por turistas, já que sua
austera fachada não deixa transparecer nada de seu esplêndido interior.
Embora sejam
numerosos os detalhes encantadores, os monumentos históricos e as obras de
arte, a principal riqueza local não é, entretanto, material ou cultural, mas
humana: os seus santos - e estes são muitos. "A Igreja de Palência não
está edificada sobre arqueologia românica ou pré-românica, mas sobre pedras
vivas", disse seu jovem bispo, Dom José Ignacio Munilla Aguirre, referindo-
se a esses heróis da fé.
Um deles é o
Beato Mariano.
Um santo ao gosto do bondoso povo
brasileiro
Ele é uma
"pedra viva" também da Igreja de São Paulo, um santo "admirável
e imitável", ao gosto do bondoso povo brasileiro. Em sua vida podemos
apreciar uma autêntica heroicidade, aquela que tem o amor como motor, até nas
mínimas ações.
Mariano nasceu
no solar de la Mata, no último dia de 1905, no seio de uma família
verdadeiramente católica de quatro irmãos e quatro irmãs. Todos os varões se
tornaram agostinianos. Dos casamentos de suas quatro irmãs, nasceram 27
sobrinhos. Destes, três foram sacerdotes e três religiosas missionárias.
Em agosto de
1921, Marianito ingressou como noviço no Seminário Menor dos Padres
Agostinianos de Valladolid. Fez a profissão solene em 1927 e recebeu a
ordenação sacerdotal no dia 25 de julho de 1930. Partiu para o Brasil em 21 de
agosto de 1931.
De 1945 a 1948
foi Superior da Vice Província Agostiniana do Brasil. A partir de 1961, viveu
no Colégio-Paróquia Santo Agostinho, em São Paulo, como professor, diretor
espiritual das Oficinas de Santa Rita e vigário paroquial.
Impossível conhecer o Pe. Mariano e
não conhecer o amor de Deus
Debrucemo-nos
sobre o carisma deste genuíno filho de Santo Agostinho.
Algumas pessoas
que o conheceram dão testemunho de episódios de sua vida: uma de suas
sobrinhas, Irmã María Paz Martín de la Mata AM, o Pe. Pablo Tejedor Fernandez
OSA, atual pároco da Igreja de Santo Agostinho, na capital paulista, e muitos
outros familiares e irmãos de hábito. De modo especial, o Vice-Postulador da
causa de beatificação, o incansável Pe. Miguel Lucas OSA, que narrou sua vida e
a estampou em belas pinturas, expondo-o à veneração dos fiéis.
Todos os que
privaram com Pe. Mariano são unânimes em reconhecer o que disse lapidarmente
sua sobrinha agostiniana, Irmã María Paz: "Conhecer
o Pe. Mariano e não conhecer o amor de Deus era impossível. Qualquer pretexto
era bom para falar aos outros de Deus, que era o grande motivo e orientação de
sua vida. Sempre se esforçava por fazer a vontade de Deus. Todas as suas obras
tinham a clara intenção de estender o Reino de Cristo".
Escrever sobre o
Pe. Mariano é recordar o "mensageiro da caridade", que percorria as
ruas de São Paulo, quer a pé, quer em seu modesto carro azul, para visitar as
dezenas de casas das Associações e Oficinas da Caridade de Santa Rita de
Cássia, onde se confeccionavam roupas para os pobres. Foi diretor espiritual
dessa obra de assistência durante quase 31 anos.
Procurava os
recursos com que socorrer os necessitados. Visitava os enfermos. Nas horas de
angústia e dor, consolava as viúvas e filhos dos falecidos. Era o "anjo
dos enfermos" e um verdadeiro pai para todos.
Fator de harmonia no convívio
O Pe. José Luiz
Martínez conviveu com nosso Beato durante vários anos e testemunha que ele era
"um exemplo de sacerdote trabalhando com os leigos, com as associadas das
Oficinas de Santa Rita. Seu amor à Ordem Agostiniana era demonstrado em seu
costume de trajar sempre o hábito de religioso. Cultivava constantemente a
oração. Vivia em harmonia e concórdia com os demais companheiros, até nos
momentos mais difíceis. Sua presença era desejada, porque significava um elemento
de equilíbrio e de paz".
E continua:
"Quando em 1980 celebrou Missa de jubileu de ouro sacerdotal, disse: ‘Meus queridos paroquianos, quero dizer a
todos aqui presentes, e aos que não puderam vir, que se eu, nesses cinquenta
anos de sacerdote, ofendi a alguém, hoje lhes peço perdão’".
De caráter reto,
irrepreensível, conciliador, às vezes alguém o enganava, ou melhor, ele se
deixava enganar, desde que isso servisse para ganhar os outros para Deus. Nunca
falava mal do próximo, nem comentava os defeitos alheios. Relacionava-se tão
bem com os pobres quanto com os ricos ou as autoridades.
Pe. Mariano
tinha uma alma expansiva e jovial, e uma simplicidade contagiante e acolhedora.
Nunca se vangloriava de suas qualidades, mesmo quando exercia cargos
importantes. Como professor, era muito querido tanto por seus alunos quanto por
seus colegas, porque sabia fazer de cada pessoa um amigo. Estava sempre
disposto a sacrificar seus direitos, contanto que a unidade não se desfizesse.
Muito extrovertido, mostrava-se sempre pronto a festejar os sucessos dos outros.
Sacerdote exemplar, protetor da
inocência e educador de esportistas
Alma inocente,
por isso muito amigo das crianças, de quem se via sempre rodeado. No seu bolso
nunca faltavam caramelos que distribuía às mancheias. Suas conversas com elas
eram preciosos diálogos cheios de transparente ingenuidade; sabia captar-lhes a
atenção, adaptava-se aos seus interesses, misturava-se aos seus festejos,
deleitando-se como elas francamente.
Tinha verdadeira
paixão pelas plantas, especialmente pelas flores. Entre suas puras mãos, no
caixão, podia-se ver, além do santo Rosário, uma orquídea de cor lilás, símbolo
da América, mais precisamente do Brasil. Demonstrava afeição também por selos,
moedas e fotos. Ainda hoje se conserva sua coleção de 25 álbuns, com temáticas
especiais: Nossa Senhora, Vaticano, Espanha e Brasil.
Distribuía
santinhos e medalhas de Santo Agostinho e Santa Rita entre os operários de uma
grande construção próxima à sua igreja. Levava-lhes também alguma comida e,
sobretudo, muita fé e coragem.
Era um sacerdote
cumpridor ao máximo de suas obrigações religiosas e ministeriais. Madrugava
muito. Pouco depois das seis horas, já se podia vê-lo a preparar o altar para
as missas. Tinha uma devoção acrisolada à Eucaristia. Quando alguma pessoa
aflita lhe pedia orações, invariavelmente acrescentava: "Tenha fé, vai alcançar a graça".
Cecília Maria de
Queiroz, secretária da Igreja de Santo Agostinho, declara: "Pe. Mariano falava muito da devoção ao terço. Vi-o muitas vezes
caminhar de um lado para o outro, rezando seu breviário e seu terço. Era um
sacerdote piedoso. Recomendava- nos orar muito e sempre. Edificava vê-lo no
altar, ou participar de suas celebrações eucarísticas. Punha as coisas de Deus
sempre em primeiro lugar".
Nunca ia à
Espanha, de férias, sem visitar o Santuário do Pilar. A devoção a Maria era seu
ambiente ideal. Quando passava por uma capela ou ermida a Ela dedicada, sempre
entrava para rezar uma Salve Rainha ou cantar-lhe um hino próprio.
Pode ser
considerado um santo protetor dos esportistas, não só porque organizava,
orientava e motivava os jovens, mas, sobretudo, pelos sábios conselhos que
costumava dar antes da competições. Por exemplo, esta do dia 9 de novembro de
1960, num programa radiofônico em São José do Rio Preto: "Durante os jogos, uma coisa é obrigatória: o cavalheirismo. É
preciso aprender a ganhar ou a perder com fidalguia. Eis a lição primordial que
a todos obriga sobremaneira. Esquecê-la por uns instantes sequer é uma falta
que é preciso fazer desaparecer das competições esportivas. Os jogos, além de
enrijecer os músculos do corpo, fortalecem a vontade, fomentam o
companheirismo, reanimam o coração nas lutas que se apresentam e oferecem
descanso ao intelecto que reclama algumas horas de lazer".
No capítulo
epistolar, as numerosas cartas circulares, ofícios, atas ou simples missivas
refletem sua obediência imaculada aos superiores, sua caridade fraterna com os
irmãos de hábito, seu amor perfeito à Ordem Agostiniana e seu ardor infatigável
na conquista de novas vocações religiosas. As cartas dirigidas aos familiares
demonstram ternura de alma, uma fortaleza que não teme sacrifícios, pitadas de
saudável humor e muito amor fraternal.
Edificante morte
A manifestação
de santidade de uma pessoa cresce ao longo de sua vida e, por assim dizer,
atinge o auge nos momentos derradeiros. Aquele que com tanta dedicação se
entregara aos doentes, foi visitado pela doença. Numa tarde de 1983, Pe.
Mariano sentou-se numa escada do Colégio, fato absolutamente inusitado para
quem mantinha sempre uma postura composta, sem afetação.
Perguntado por
que ele se sentara ali, respondeu: "Estou
sentindo como se um gato me arranhasse o estômago..." Era o câncer.
Aceitou e
suportou a doença com grande resignação. Sofria grandes dores, mas esquecia-se
de si, para preocupar-se apenas com os outros doentes do Hospital do Câncer,
onde fora internado. Apesar dos atrozes sofrimentos, conservava uma constante
alegria. Seus gestos de amor para com os visitantes, o pessoal de serviço e os
demais enfermos, eram causa de admiração para todos eles.
Na Quinta-Feira
Santa, recebeu a visita dos confrades da Ordem, dos amigos e de Dom Paulo
Evaristo Arns, Cardeal-Arcebispo de São Paulo. A todos correspondia com
extenuadas forças e franca amabilidade. Insistiu muito com sua sobrinha, Ir.
María Paz, que acabara de chegar da Espanha, para ir visitar a unidade de
crianças com câncer. Como era "o dia do amor", pediu que todos fossem
celebrar juntos a Eucaristia.
Passou tranquilo
a noite. Na manhã seguinte teve muita dificuldade em falar. À tarde, já não
falava, e assim permaneceu no Sábado Santo e no Domingo de Páscoa. Na segunda-feira,
por volta das oito horas da manhã, partiu para celebrar no Céu a Páscoa eterna:
sem nenhum movimento, nem o mínimo gesto, simplesmente parou de respirar,
inclinando suavemente a cabeça para o lado direito...
Pe. Mariano
faleceu aos 78 anos de idade, no dia 5 de abril de 1983.
As exéquias
foram a mais clara manifestação de como era querido aquele homem de Deus. A
igreja estava coberta de flores. O desfile diante do féretro foi
impressionante. Uma mulher simples e decidida cortou um pedacinho de seu
hábito, para guardar como relíquia. "Um fato surpreendente - conta sua
sobrinha - revelou a admiração que a gente tinha pelo Pe. Mariano: em um abrir
e fechar de olhos, desapareceram de seu quarto todos os seus objetos de uso
pessoal. A enfermeira ainda teve tempo de ficar com o rosário, pois tudo o mais
já tinha sido levado".
O MILAGRE
No dia 26 de
abril de 1996, João Paulo Polotto, de seis anos de idade, aluno do colégio
agostiniano de São José do Rio Preto (SP), foi atropelado por um caminhão que o
projetou a vários metros de distância. Sofreu fratura no osso parietal direito
e lesão na base do osso temporal esquerdo. Seu estado era gravíssimo, com
sangramentos na região do ouvido esquerdo, nariz e boca. O médico, Dr. Odérzio
Marcato, constatou também um afundamento do crânio. João Paulo entrou no hospital de Jaú (SP) com
o diagnóstico de traumatismo crânio encefálico grave, paralisia esquerda,
batimentos cardíacos lentos, respiração vagarosa até parar, globo ocular
projetado para a frente.
Enfim, estava em
estado de coma. Alguns minutos após o acidente, os padres do colégio agostiniano
e vários familiares começaram a pedir a intercessão do Pe. Mariano, para obter
o estabelecimento do menino. E este se
recuperou tão rapidamente que, dez dias depois, o médico que o tinha atendido
no hospital foi visitá-lo e o encontrou perfeito, brincando com os colegas,
andando de patins, sem nenhuma sequela do trágico desastre, como se nada
tivesse acontecido. Está hoje com 24 anos.
BEATIFICAÇÃO
Durante a Missa
de 5 de novembro, na Catedral de São Paulo lotada de fiéis, realizou-se a
cerimônia de beatificação do Pe. Mariano de la Mata. Após o Kyrie, o Cardeal
Cláudio Hummes deu início ao solene ato:
"Com
alegria e simplicidade, eu, Cláudio Hummes, primeiro servidor na Arquidiocese
de São Paulo, pedi humildemente ao Sumo Pontífice Bento XVI que inscrevesse no
número dos beatos o venerável Servo de Deus Mariano de La Mata Aparício."
A estas
palavras, o Cardeal José Saraiva Martins, Prefeito da Congregação para as
Causas dos Santos, respondeu fazendo a leitura da Carta Apostólica do Papa
Bento XVI: "Nós, acolhendo o desejo do nosso irmão Cláudio Hummes,
Arcebispo de São Paulo, (...) com nossa Autoridade Apostólica concedemos que o
venerável Servo de Deus Mariano de la Mata Aparício, presbítero da Ordem de
Santo Agostinho, que consagrou sua existência no ministério pastoral a serviço
das crianças, dos pobres e enfermos, de agora em diante , seja chamado
Beato."
Um comentário:
saber se no dia 05 11 18 qual o horário da missa.
obrigado
Postar um comentário