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Encontre o (a) Santo (a), Beato (a), Venerável ou Servo (a) de Deus

terça-feira, 31 de dezembro de 2013

São João Francisco de Régis, Presbítero e Missionário Jesuíta (grande pregador contra as heresias e defensor da Igreja)


      São João Francisco de Régis, missionário excepcional e baluarte antiprotestante. O exemplo desse notável jesuíta é especialmente oportuno para nossa época, em que a falta de autêntico zelo apostólico e espírito sobrenatural está na raiz  da decadência religiosa e da proliferação de falsas religiões.  
    Um pobre peregrino, faminto, maltrapilho e exausto, chega ao santuário de La Louvesc, a 1.100 metros de altitude, nas montanhas do Haut-Vivarais francês. Prostra-se em profunda oração diante da urna de carvalho na qual estão os restos mortais do apóstolo da região. Estávamos no início do século XIX.O que foi pedir esse rapaz, aparentemente tão desprovido de aptidões naturais? É um João, ainda não canonizado, que pede a outro, já elevado à honra dos altares, que lhe obtenha a graça de conseguir reter em sua memória, rebelde, os rudimentos de latim necessários para chegar ao sacerdócio. E o João canonizado - Francisco de Régis - obtém  para o João que virá a sê-lo - Maria Vianney, futuro Cura d'Ars -, embora muito parcimoniosamente, o que ele pede. É um santo ajudando a outro, para a maior glória de Deus. Do segundo João, o Cura d’Ars, muito já se sabe, pois é um santo relativamente famoso. É sobre o primeiro, falecido prematuramente aos 44 anos de idade, no exercício de seu zelo apostólico, que falaremos no presente artigo.
       De São João Francisco de Régis dizem os Bolandistas: “Um desejo imenso de procurar a glória de Deus; coragem a que nenhum obstáculo, nenhum perigo podem causar temor; aplicação infatigável na conversão dos pecadores; doçura inalterável que o torna mestre dos corações mais rebeldes; inesgotável caridade pelos pobres; paciência à prova de todas as contradições e de todos os maus tratos;  firmeza que as ameaças e mesmo a vista da morte não puderam jamais abalar; a humildade mais profunda, abnegação mais completa, despojamento mais absoluto, obediência mais exata, pureza de anjo, soberano desprezo do mundo, amor insaciável pelos sofrimentos, em uma palavra, todas as virtudes pelas quais uma pessoa santifica a si própria e santifica as outras, tal é o resumo desta admirável vida” . 

      No lar, pureza da fé; no colégio, exímia piedade. João Francisco nasceu no início de 1597 de uma abastada família que se distinguiu pela pureza da fé numa época e região em que dominavam os hereges huguenotes (protestantes calvinistas). Um de seus irmãos dará a vida pela causa católica contra esses pérfidos inimigos da Religião alguns anos mais tarde.  
    Aluno do colégio dos jesuítas de Béziers, mostrou-se um apóstolo nato. Sua devoção a Nossa Senhora levou-o a ingressar na Congregação Mariana do colégio, tornando-se apóstolo de seus colegas, cinco dos quais, para levar uma vida mais perfeita, mudaram-se para a mesma casa que Régis. Então, com pouco mais de 14 anos, compôs uma regra para eles, na qual fixava as horas para o estudo, proibia toda conversação inútil, dispunha a leitura espiritual durante as refeições, exame de consciência à noite, e comunhão aos domingos.
       Aos 19 anos, querendo dedicar-se de modo mais especial a Deus, entrou no Noviciado dos Jesuítas, onde foi exemplo de obediência, humildade e devotamento. Certo dia em que ele se levantou furtivamente durante a noite para ir rezar na capela da casa, foi visto por um colega que o denunciou ao superior. “Não turbeis as comunicações que esse anjo mantém com Deus, respondeu-lhe o sacerdote,  pois, ou muito me engano, um dia celebrar-se-á na Igreja a festa de vosso companheiro”. Um conhecido autor de vidas de santos comenta a propósito de seu noviciado: “O sagrado caráter do sacerdócio encheu seu coração com tal abundância de espírito de humildade, que resolveu viver daí para a frente morto a si mesmo e totalmente entregue a promover a glória de Deus e a salvação das almas”. 

      Exemplo de vida, carisma da pregação
   Após sua ordenação sacerdotal em 1630, os empestados de Toulouse receberam as primícias do ministério apostólico do neo-sacerdote.  “Sua linguagem era simples e popular, mas o fogo da caridade, do qual ele estava inflamado, dava a seus discursos um poder tal que toda a cidade vinha escutá-lo e ninguém podia ouvi-lo sem derramar lágrimas ... Um pregador eloqüente e renomado, tendo-o ouvido, disse: ‘É em vão que trabalhamos para ornar nossos discursos. Enquanto os catecismos deste santo missionário convertem, nossa bela linguagem não faz senão entreter sem produzir nenhum fruto”. E outro hagiógrafo, o Pe. José Leite, descreve com vivacidade seu entranhado zelo apostólico: “Com o bordão de peregrino e envolvido num pobre casaco, percorria montes e campos, no inverno sobre a neve, e no verão sob os raios abrasadores do sol. Onde havia uma casa para visitar, uma miséria para socorrer, ou um coração para consolar e abrir para Deus, aí chegava sempre o missionário por caminhos inverossímeis”. 


       Seus sermões ardentes derrotam a heresia a calvinista e corrupção moral. Em 1633, o Bispo de Viviers pediu ao Superior dos Jesuítas um missionário para acompanhá-lo em sua Visita Pastoral à diocese, onde não só havia decadência religiosa, mas também os erros protestantes de Calvino haviam feito muito estrago entre o povo. São João Francisco de Régis foi o escolhido. Seus sermões inflamados e suas proféticas exortações atingiam diretamente o coração de seus ouvintes, produzindo muitas conversões. Causou sensação a de uma notável senhora protestante, que abjurando sua heresia, foi recebida solenemente no seio da Igreja. Esse fato ocasionou novas conversões. 
         Em Sommières, cidade conhecida  pela irreligião e corrupção de costumes, os resultados foram tão notáveis que surpreendeu o próprio missionário. Escreveu a seu superior dizendo que os frutos haviam sobrepujado de tal modo sua expectativa, que ele não tinha palavras para explicá-los. Dir-se-ia que os habitantes da cidade haviam nascido de novo. Para consolidar esses frutos, o missionário instituiu a Confraria do Santíssimo Sacramento, restabeleceu o costume das orações da manhã e da noite nos lares, e um modo de socorrer os pobres da paróquia.  


         Santificação do próximo baseada na santificação pessoal
      Esses resultados provinham da vida interior do apóstolo, que nada negligenciava para aniquilar-se a si mesmo, com vistas a obter graças em suas pregações. Além de macerar seu corpo com disciplinas e cilícios, alimentava-se apenas de pão e água, dormindo apenas quatro horas diárias, e ainda sentado num rude banco.Hoje em dia, católicos espantam-se da irreligião e do progresso de seitas protestantes em certas regiões. Em última análise, isso não ocorreria se houvesse na atualidade muitos católicos, especialmente sacerdotes, imbuídos desse espírito.  


       Não era com concessões doutrinárias que São João Francisco de Régis obtinha seus triunfos. Mas, por exemplo, avançando com o Crucifixo na mão contra soldados protestantes que se preparavam para pilhar uma igreja e cometer toda sorte de sacrilégios, increpava-os com tanta força e convicção, que os mesmos abandonavam seu intento. Sua energia contra as blasfêmias só igualava sua paternalidade no confessionário. Certa vez, tendo um homem ousado blasfemar em sua presença, deu-lhe sonora bofetada. A uma mulher que fizera o mesmo, cobriu-lhe a boca com barro. O mais surpreendente é que, em ambos os casos, vendo que o sacerdote fora movido por seu amor inflamado pela glória de Deus, o primeiro ajoelhou-se imediatamente a seus pés pedindo perdão, e a segunda afastou-se compungida. 

     Para o zelo do missionário, não havia limites. Dava aulas de catecismo às crianças, evangelizava os adultos, visitava os prisioneiros e os doentes e conduzia à emenda mulheres de má vida. Assistia os moribundos e tinha um dom especial para dispô-los a morrer santamente. Fundava, com as senhoras da cidade, associações de caridade para amparar as famílias pobres, e, quando necessário, ia ele mesmo mendigar para socorrê-las. Narram-se várias profecias e muitos milagres do Santo. Um de seus contemporâneos depôs sob juramento no processo de canonização: “Tudo nele inspirava santidade. Não se o podia ver nem ouvir sem se sentir abrasado de amor divino. Ele celebrava os santos mistérios com uma devoção tão terna e tão ardente, que se acreditava ver no altar não um homem, mas um anjo. Eu o vi algumas vezes nas conversas familiares, calar-se repentinamente, recolher-se e inflamar-se, após o que ele falava das coisas divinas com tanto fogo e uma veemência que demonstravam que seu coração estava transportado por um impulso celeste. Ele passava uma parte considerável da noite ouvindo confissões, era necessário uma espécie de violência para obrigá-lo a tomar um pouco de alimento”. 


        Em seu túmulo se repetiram as palavras do Evangelho...

        Enfim, embora tivesse tido comunicação do dia de sua morte, São Francisco de Régis quis morrer no campo de batalha, com as armas na mão. Ardendo de febre, dirigiu-se para Louvesc, a fim de pregar uma missão nas festas natalinas de 1640. Passou o tempo pregando e ouvindo confissões sem se poupar um minuto, até cair no confessionário. Pediu então para ser levado a um estábulo, a fim de ter a consolação de expirar num estado semelhante ao do nascimento de Cristo.
       Tantos foram os milagres ocorridos em seguida junto à sua sepultura, que os Arcebispos e Bispos do Languedoc francês escreveram uma carta ao Papa dizendo: “Somos testemunhas de que diante do túmulo do Pe. João Francisco de Régis os cegos vêem, os coxos andam, os surdos ouvem, os mudos falam, e o ruído dessas assombrosas maravilhas  espalhou-se por todas as nações”.(9) O Sumo Pontífice Clemente XI beatificou então o grande jesuíta em 1716 e seu sucessor canonizou-o em 1737.

São João Francisco de Régis, rogai por nós!




















segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Venerável Edel Quinn, Virgem Legionária de Maria e missionária na África.


Edel Mary Quinn foi uma irlandesa missionária católica da Legião de Maria, associação de leigos católicos, que trabalhou no continente africano. Morreu no Quênia vítima de tuberculose.
Nascimento: 14 de setembro de 1907, Kanturk, República da Irlanda.
Falecimento: 12 de maio de 1944, Nairóbi, Quénia.


"Edel Quinn é uma jovem irlandesa em vias de se tornar uma glória de seu país, uma figura legendária na terra africana".  É assim que o Cardeal Suenens inicia a biografia da “heroína” de nosso apostolado. Mas era uma simples moça irlandesa, encantadora, alegre e atraente, como tantas outras que, "pelo extraordinário exemplo de sua vida, viria a alterar o curso da história".

Nasceu no dia 14/09/1907, em Greenane, perto de Kanturk, no Condado de Cork (Irlanda). Conheceu a Legião através de uma amiga, que recusou um convite de Edel para ir até sua casa, porque tinha de ir a uma reunião da Legião de Maria. Edel interessou-se pelo movimento, quis participar da reunião, se apaixonou e nunca mais o largou. Após passar dois anos como membro ativo foi nomeada presidente de um praesidium que trabalhava com a recuperação de mulheres decaídas. Em 30/10/1936, partiu para a África Oriental, como Enviada da Legião, dedicando-se a um apostolado heroico até a morte, por sete anos e meio, sem nunca voltar à pátria e rever a família.
Apesar das inúmeras dificuldades, como o de sua saúde frágil, fundou a Legião de Maria em todo o território do Vicariato de Zanzibar e os imensos territórios de Quênia, Tanganica, Uganda, Niassalândia e Ilhas do Maurício.
Por causa de sua fragilidade, foi forçada a repousos em hospitais, mas, ainda assim, prosseguia em seu apostolado, através da oração e da correspondência. Todos os que a conheceram de perto observaram que, sob a intensa atividade exterior, escondia-se uma profunda vida de união com Deus. A Missa, desde a juventude até o final, foi o centro de sua vida, viajava horas e horas em jejum, chegando a ficar até 17 horas sem comer, só para poder receber a Santa Comunhão. Atribuía ela ao Santíssimo Sacramento a graça de poder prosseguir na luta: "Como a vida seria solitária sem Ele", escreveu certa vez.
Seu imenso amor pela Virgem Mãe de Deus, sua confiança e total dependência de Maria, estava presente em todos os aspectos de sua vida, tendo alcançado um grau pouco comum de união com Nossa Senhora. Sempre se questionava o que faria a Virgem Santíssima, antes de tomar qualquer decisão. Quando lhe perguntaram se alguma vez lhe tinha recusado alguma coisa, respondeu: "Não, nunca lhe neguei nada, em tudo quanto me pareceu ser a sua vontade".
Conservou-se sempre alegre até o fim. Fim este que foi repentino, de surpresa, apenas perguntou: "O que está acontecendo comigo? Será que Jesus veio me buscar?" Foi no dia 12/05/1944. O seu falecimento foi comunicado a Dublin, centro da Legião de Maria, por telegrama expedido pelo Exmo. Sr. Cardeal Secretário de Estado de Sua Santidade, quando, estando ainda a Europa em guerra, a notícia chegou ao conhecimento do Vaticano. Em Nairóbi, onde estabelecera a sua primeira Curia anos atrás, foi sepultada em cemitério reservado aos missionários.
Em 15 de dezembro de 1994 o Papa João Paulo II declarou Edel Quinn "venerável", sendo assim oficialmente reconhecidas pela Igreja suas virtudes heroicas.


Oração para pedir a beatificação de Edel Quinn

Eterno Pai, eu vos agradeço a graça que concedeste a vossa Venerável Edel Quinn, de se esforçar por viver sempre na alegria da Vossa presença; eu Vos agradeço a sua irradiante caridade infundida no seu coração pelo Vosso Espírito Santíssimo e a força que ela hauriu no Pão da Vida, para trabalhar até a morte pela glória do Vosso Nome, em amorosa dependência de Maria, a Mãe da Igreja.

Confiado, ó Pai Misericordioso, em que sua vida Vos tenha agradado, peço-Vos me concedais, por sua intercessão o favor especial que agora eu Vos imploro..., e torneis conhecida por meio de milagres a glória que ela goza no céu, par que possa ser glorificada pela Vossa Igreja na terra, por Cristo Nosso Senhor, Amém.



Edel Quinn (ao centro, de chapéu), ladeada por uma religiosa e um grupo
de enfermeiras e cuidadoras locais.

Edel Quinn já bastante debilitada pela enfermidade que
a levaria à morte (tuberculose). 

Corpo da legionária de Maria e missionária, Venerável
Serva de Deus Edel Quinn, em seu velório. 

Túmulo onde repousam os restos mortais da
          Venerável Serva de Deus Edel Quinn. 

Túmulo de Edel Quinn sendo venerado por membros da
Legião de Maria

Capa do livro biográfico de Edel Quinn escrito pelo
grande Cardeal Suenens 

Venerável Edel Quinn, glória e honra da Legião de Maria


Beata Maria Rafols Bruna, Virgem e Fundadora do Instituto das Irmãs da Caridade de Santa Ana (Heroína do Sítio de Zaragoza)


Beata Maria Rafols Bruna, Virgem e Fundadora
Maria Rafols é conhecida, com razão, como a “heroína da caridade”. Ela recebeu este título por sua heróica atuação durante os anos de sítio em Zaragoza (Espanha). A Igreja a reconhece pelo carisma de doação que em toda sua vida viveu. São Paulo na Segunda carta aos Coríntios, capítulo doze, versículo quinze, bem nos explica esta doação de vida: “De muita boa vontade, darei o que é meu e me darei a mim mesmo pelas vossas almas, ainda que vos amando mais, seja menos amado por vós”.
Maria nasceu em 1781, em Villafranca Del Penedés (Espanha), em uma humilde família de dez filhos. Em Barcelona, conhece a D. Juan Bonal, vigário do Hospital da Santa Cruz, que está reunindo vocações para um ambicioso projeto de caridade: consagrar a vida ao serviço dos enfermos, portadores de deficiências mentais e crianças doentes desse Hospital, e agrupa-las em uma irmandade. 
Em 1804, este sacerdote mudou-se para Zaragoza e conseguiu com a junta do Hospital de Nossa Senhora das Graças, o envio dos grupos: de homens e mulheres procedentes da irmandade de Barcelona. A frente do grupo de mulheres irá Maria Rafols.
Santinho da beata com uma relíquia. 
Quando chegaram a Zaragoza, Maria Rafols e as jovens que a acompanharam dirigiram-se a Virgem do Pilar, para pedir sua proteção e amparo para desempenhar com caridade e fervor a missão a que se propuseram trabalhar, que não é outra senão servir com amor a Jesus Cristo, vivo em cada doente; tarefa nada fácil para qual necessitam o alento da Virgem Maria. É a primeira semente da Congregação das Irmãs da Caridade de Santa Ana.
Maria inicia seu trabalho assistencial e espiritual. A situação dos Hospitais era lamentável: desordem, abuso e toda espécie de revelias.  Logo se percebem muitas melhoras, pelo trabalho daquelas mulheres silenciosas e esforçadas sob o governo prudente e discreto de Maria Rafols. O Bispo de Huesca pede irmãs para que atendam outro hospital. Por diversas complicações entre a direção de ambos os hospitais, estas duas comunidades só em 1868 podem unir-se em uma única família religiosa.

       Mulher admirável 

Coube-lhe viver em um momento de profundas mudanças políticas, tempos difíceis. Durante a guerra da independência, as irmãs dão testemunho do seu heroísmo, especialmente quando o hospital é bombardeado e incendiado. Entre balas, ruínas e escassez total de alimentos, a Madre se arrisca até a sair na cidade sitiada para pedir a Mariscal Lannez esmola para os enfermos e feridos, e o duro comandante se comove. Nada pede para si, só arrisca sua vida pelos demais.




Madre Rafols socorrendo crianças abandonadas.
Maria Rafols vê ser necessário dar às irmãs a estabilidade de instituto religioso. Vendo nisso um modo de viverem a paz e a união fraterna entre elas, porém durante vários anos encontra dificuldades para fundá-lo. Em 1813, Maria se encarrega inclusive, do departamento dos meninos abandonados, que é um dos mais complicados e difíceis e onde as irmãs vão viver com maior abnegação.  Enquanto isso vão amadurecendo as constituições da Congregação, até que em 15 de julho de 1824, são aprovadas.


Madre Rafols: vida unida à de Cristo: na oração,
na caridade, no heroísmo e na cruz. 

 Madre Rafols, que sempre tinha por objetivo ajudar a todos não levando em conta diferenças políticas, recebe como prêmio uma denúncia e o encarceramento por dois meses e o desterro de seis anos em Huesca. 
Tudo isto sofrido com paz e sem nenhuma queixa, o que a fez participar de um grupo, a quem Jesus chama bem-aventurados: mansos, perseguidos por causa da justiça, misericordiosos... No fim de 1841, pode regressar.

Em 1853, entrega sua alma a Deus. Sua morte é reflexo de sua vida: serenidade, paz, carinho e agradecimento às irmãs, entrega definitiva ao amor, por quem viveu e consumiu a si mesmo sem reservas.





Beato Januário Sarnelli, Presbítero (grande amigo de santo Afonso de Ligório)


Januário Maria Sarnelli, filho do Barão de Ciorani, nasceu em Nápoles no dia 12 de setembro de 1702.
Quando tinha 14 anos, acompanhou a beatificação de Francisco Régis e decidiu tornar-se um jesuíta. Foi logo desencorajado por seu pai, devido a sua pouca idade. Começou então os estudos de jurisprudência e se doutorou em leis eclesiásticas e civis em 1722. Logo se destacou na Associação dos Advogados e se inscreveu na Ordem dos Cavaleiros das Profissões Médico-Legais, dirigida pelos Pios Operários em São Nicolau de Toledo. Entre as normas desta associação, havia a obrigação de visitar os doentes no Hospital dos Incuráveis. E foi neste ambiente que ele se sentiu chamado ao sacerdócio.
Em setembro de 1728, tornou-se seminarista e foi incardinado pelo Cardeal Pignatelli, como clérigo na paróquia de Santana di Palazzo. No dia 4 de junho de 1729, com o objetivo de estudar em condições mais favoráveis, tornou-se interno no Colégio da Sagrada Família, conhecido como o Colégio Chinês, fundado por Mateus Ripa. No dia 8 de abril do ano seguinte, deixou o colégio e no dia 5 começou o noviciado na Congregação das Missões Apostólicas.
No dia 28 de maio de 1731, concluiu seu noviciado e a 8 de julho do ano seguinte, foi ordenado sacerdote. Durante esses anos, além de visitar o hospital, ele se empenhou em ensinar catecismo às crianças que já eram obrigadas a trabalhar. Visitava também os velhinhos no Asilo de São Januário e os condenados perpétuos e que se encontravam internados por doenças. Nesses anos, ele desenvolveu uma amizade com santo Afonso de Ligório e entrou em contato com seu apostolado. Juntos eles se dedicaram a ensinar catecismo aos leigos adultos, organizando reuniões à noite.
Após sua ordenação, foi designado pelo Cardeal Pignatelli, Diretor de Instrução Religiosa na paróquia de São Francisco e São Mateus, no Bairro Espanhol. Tornando-se consciente e preocupado com a realidade gritante da corrupção de meninas, decidiu canalizar suas energias contra a prostituição. Neste mesmo período (1733), ele corajosamente defendeu seu amigo, Afonso de Ligório, contra críticas infundadas e injustas, após a fundação da Congregação Missionária do Santíssimo Redentor, em Scala, no dia 9 de novembro de 1732. Em junho do mesmo ano, tendo ido a Scala para ajudar os Redentoristas na missão de Ravello, decidiu tornar-se também Redentorista, continuando ao mesmo tempo a ser membro das Missões Apostólicas. Após sua entrada para a Congregação, em abril de 1736, ele se dedicou sem restrições às missões paroquiais e a escrever.
Escreveu principalmente em defesa das "meninas em perigo". Também escreveu sobre a vida espiritual. Trabalhava a tal ponto que chegou à beira da morte. Com o consentimento de santo Afonso, voltou a Nápoles para tratamento da saúde e lá retomou seu apostolado de recuperação das prostitutas.
Fazendo um apostolado redentorista juntamente com as Missões Apostólicas, ele incentivou a meditação em comum junto aos leigos, ao publicar "O Mundo Santificado". Fez também campanhas contra a blasfêmia, em outro livro que escreveu. Em 1741 participou com santo Afonso na grande missão pregada nos arredores de Nápoles, em preparação à visita canônica do Cardeal Spinelli. Apesar da precariedade de sua saúde, continuou a pregar até o fim de abril de 1744, quando sua saúde decaiu e ele muito doente voltou a Nápoles, onde morreu no dia 30 de junho com a idade de apenas 42 anos. Seu corpo jaz na igreja de Ciorani, a primeira igreja redentorista.
Januário Maria Sarnelli nos deixou 30 escritos, entre meditações, teologia mística, direção espiritual, leis, pedagogia, temas morais e pastorais. Devido a seus trabalhos sociais em defesa da mulher, é considerado um dos mais importantes autores que tratou deste assunto na Europa, na primeira metade do século dezoito.

No dia 12 de maio de 1996, o Papa João Paulo II, o beatificou na Praça de São Pedro, Cidade do Vaticano.






domingo, 29 de dezembro de 2013

São José e o Mistério da Encarnação do Verbo.



São José! Glorioso e venturoso São José! Como poderia esquecer-me de vós? O evangelista São Mateus chama-vos "varão justo" (Mateus 1, 19). Alguém inadvertidamente poderia dizer: só isso? Diria: como "só isso"? Para um judeu, a palavra "justo" soa mais solene, respeitoso e venerável do que a palavra "santo" hoje em dia, muitas vezes usada com conotação dúbia ou até mesmo em sentido pejorativo.
Chamar a José de Nazaré de varão justo era o maior elogio que São Mateus poderia dirigir àquele que foi escolhido e preparado por Deus Pai para ser o tutor, o cuidador e pai putativo do Verbo de Deus Humanado. Poderíamos até dizer que São José era o "representante de Deus Pai na terra".
Todo o projeto da Encarnação iria "por água abaixo" sem a presença e participação ativas de nosso amado pai São José. Quem protegeria a Sagrada Família? Quem representaria a pessoa de um pai para Jesus, visto que naquele tempo não se tolerava a figura da "mãe solteira"? Maria seria sumariamente morta por apedrejamento caso aparecesse grávida sem um marido para assumir a divina Criança. Quem se apresentaria perante a sociedade judaica como chefe da Sagrada Família para a boa fama daquele Ser Santíssimo, gerado no ventre puríssimo da Virgem Maria por obra do Espírito Santo? Quem seria o guarda fidelíssimo da castidade consagrada da Virgem Maria, a bendita Mãe de Jesus? Quem sustentaria a Virgem Maria e daria de comer ao Menino Jesus? Naquele tempo uma mulher não trabalhava fora de casa para ganhar dinheiro... Quem ensinaria o Menino Jesus a Lei e tradições judaicas? Quem acompanharia o Menino em seu Bah-Mitzvah (ritual no qual o menino judeu prova sua maturidade e conhecimento da Lei judaica, dando início à "vida adulta" na religião judaica), evento por demais importante para os judeus? Em resumo: sem a pessoa de São José tudo seria simplesmente impossível de ser realizado na prática.
Deus Pai precisava de um varão justo e santo, da Casa de Davi, para ser o Guardião do Mistério da Encarnação. Vejam como os evangelistas narram a genealogia de Jesus (Mateus 1, 1-16; Lucas 3, 23ss). Tanto a "vertente sangüínea", como a "vertente real" de Cristo terminam em São José. 
Segundo os ditames da época, a figura da mulher era muito desconsiderada. A sociedade era extremamente machista e repressora da mulher. Por causa disso é que a linhagem de Maria não é citada. O homem sempre representava a chefia da família naqueles tempos.
Coube também a São José a missão de dar ao Menino o Nome Santíssimo de JESUS (YEHSUAH), revelado pelo Arcanjo São Gabriel à Virgem Maria. Naquele tempo, os nomes dos bebês masculinos eram dados na hora da circuncisão (momento solene onde os bebês judeus eram "marcados" como pertencentes ao povo hebreu, portanto, como filhos de Abraão). Naquele sagrado momento, nosso querido santo proferiu o Nome mais santo do universo, aquele Nome augustíssimo que é a delícia dos bem-aventurados do paraíso!


São José, Guardião da Encarnação do Verbo! Creio ser esse o maior título de São José, que supera até mesmo os títulos de Esposo Virginal de Maria, Pai Nutrício do Menino Jesus ou Guarda Providente da Sagrada Família!
Creio que a Santíssima Trindade, ainda hoje, lá no Céu, não cessa de tecer elogios e honras à alma puríssima e bem-aventurada de nosso pai São José.

 Que possamos, sempre mais, como católicos que somos, honrar e venerar esse nosso santo pai, todo consagrado à causa de Deus e ao Mistério da Encarnação.









São Tomás Becket, Arcebispo primaz da Inglaterra e mártir.



Glorioso mártir, paladino dos direitos da Igreja contra o poder real quando este quis ultrapassar seus limites, selou com seu sangue esses direitos.

Tomás Becket nasceu em Londres no dia 21 de dezembro de 1117, dia de São Tomé, do qual recebeu o nome. De acordo com seus contemporâneos, era de elevada estatura, tez pálida, cabelos negros, nariz aquilino, olhos claros e firmes, que no primeiro olhar davam-se conta de tudo. Jovial, de agradável e cativante conversação, franco no falar, embora gaguejando ligeiramente. Tinha tão grande discernimento e saber, que tornava fáceis e inteligíveis os temas mais difíceis. Seus biógrafos ressaltam que, já de pequeno, era muito inclinado à piedade, tinha terna devoção a Nossa Senhora e particular amor pelos pobres.
Tendo feito seus estudos em sua terra natal e em Paris, de volta à Inglaterra entrou no serviço do arcebispo Teobaldo de Cantuária, Primaz da Inglaterra. O prelado logo descobriu nele sentido prático dos negócios e prudência, convertendo-o no mais confiável de seus auxiliares.
“Era tão casto que, apesar de mil armadilhas que armaram contra sua pureza, não puderam jamais levá-lo a nenhuma ação desonesta. Tinha tanto candor e sinceridade, que jamais foi ouvido pronunciar uma só mentira, mesmo por mera diversão ou lisonja”.
O arcebispo Teobaldo enviou-o para estudar direito civil e canônico em Bolonha e Auxerre. À sua volta, conferiu-lhe o diaconato e elevou-o a arcediago (dignidade eclesiástica de uma diocese, que confere certos poderes junto aos párocos, curas, abades, etc.) com magnífica prebenda, a qual ele transformava em abundantes esmolas, valendo-lhe o epíteto de pai dos pobres.
Nessa época governava a Inglaterra o jovem rei Henrique II, da família dos Plantagenetas. Esse monarca unia rara inteligência prática a uma grande ambição, forte constituição física e muita força de vontade. Quando o arcebispo louvou diante dele as belas qualidades de seu arcediago, Henrique quis conhecê-lo. Como verdadeiro político, o rei compreendeu logo que havia encontrado um grande estadista em quem o talento aliava-se à fidelidade. Escolheu-o então para seu chanceler, e desse modo Tomás Becket tornou-se, aos 36 anos de idade, a segunda autoridade do reino.
De tal modo o soberano e o chanceler uniram-se, que o povo comentava possuírem um só coração e uma só mente. Ambos tinham em vista a prosperidade do reino, caçavam juntos e juntos iam à guerra, apresentavam-se com fausto e esplendor. Na vida privada Becket era muito ascético, mas publicamente cercava-se de pompa devido à honra de seu cargo. Em 1158, quando viajou à França para negociar um casamento, o fez com grande pompa, e o povo maravilhado dizia: “Se esse é apenas o chanceler, qual não será a glória do rei?”.
Garnier, cronista francês da época, descreveu as virtudes de São Tomás e seu martírio, e declara que na guerra o viu derrubar vários guerreiros adversários, como o mais valoroso cavaleiro.
Ele se destacava ainda em outros campos: “Jurisconsulto consumado e hábil financista, tão capaz de uma decisão enérgica que requeresse a força armada como de um expediente jurídico, reprimiu a bandidagem, aterrorizou os usurários, favoreceu a agricultura, manteve o padrão da nobreza, reorganizou a justiça, aumentou o prestígio exterior e assegurou a prosperidade e a paz do reino”.

Arcebispo de Cantuária, Primaz da Inglaterra.
Em 1161, a morte do arcebispo Teobaldo deixou vacante a sé de Cantuária. O rei, que confiava muito na fidelidade de Tomás Becket, julgou que ele seria a pessoa mais segura para zelar pelos seus interesses naquele cargo tão importante. O chanceler foi franco: “Senhor, quero que saibais que o favor com que agora me honrais logo se trocará em ódio implacável; porque, tratando-se de coisas eclesiásticas, tendes exigências que eu não poderia tolerar”. O rei não o levou a sério e confirmou a eleição, sendo então ordenado sacerdote e sagrado bispo. Renunciou à chancelaria, como incompatível com o múnus episcopal.
“A partir de sua elevação ao episcopado, Tomás Becket entregou-se por completo à vida apostólica. Expiou com a penitência e o silício a moleza de sua anterior conduta. Se bem que se apresentasse com a dignidade e magnificência próprias ao seu elevado cargo, levava em privado a vida e o hábito dos monges beneditinos, conforme às tradições de austeridade que lhe legara o insigne Santo Anselmo, um de seus predecessores na sé primacial de Cantuária”.
Não demorou muito para que começasse a luta entre altar e trono. As causas da frieza que aos poucos se estabeleceu entre rei e arcebispo eram muito profundas. Basta dizer que São Tomás Becket, em encontros com o monarca, defendeu sempre os direitos e os privilégios da Igreja, mesmo com o risco de desagradá-lo. A situação foi se deteriorando entre os dois, chegando ao ponto em que o rei pensou em encarcerá-lo. Disfarçado, ele conseguiu fugir para a França, onde foi bem recebido pelo rei Luís VII e pelo Papa, que se encontrava nesse país.
Henrique II reclamou com o rei francês pela boa acolhida dada ao “ex-arcebispo”. O monarca francês respondeu: “Ex-arcebispo? Quem o depôs? Eu também sou rei, mas não posso depor nem o menor clérigo de meu reino”. E continuou a proteger São Tomás Becket, que se retirou para a abadia de Pontigny, da Ordem de Cister, onde se entregou à oração e à penitência.
Henrique II ameaçou expulsar da Inglaterra todos os cistercienses, caso a abadia de Pontigny continuasse a dar guarida ao santo. Ameaçou também o Papa Alexandre III de colocar-se sob a obediência de um antipapa que o imperador alemão Frederico Barbaroxa acabava de criar, se continuasse a apoiar Tomás Becket. A conselho do Sumo Pontífice, Tomás transferiu-se para o mosteiro beneditino de Santa Columba, onde permaneceu por quatro anos.
Em 1170, pela mediação do Papa e de Luís VII, Henrique II aceitou recebê-lo de volta sem impor nenhuma condição. Mas a situação nunca mais se recompôs. Certo dia o rei, rodeado de cortesãos, exclamou num acesso de cólera: “Malditos sejam aqueles que eu alimento de minha mesa, honro com minha familiaridade e enriqueço com meus benefícios, se não me vingam desse padre que não faz senão perturbar meu coração e despojar meus melhores servidores de suas dignidades"! Essa insinuação ao assassinato foi ouvida por quatro deles, que se comprometeram sob juramento a assassinar o arcebispo.
“Sou o arcebispo, mas não traidor”.
Na noite de 29 de dezembro de 1170, São Tomás Becket dirigiu-se como de costume à igreja, para as Vésperas. Os assassinos forçaram a porta do claustro e entraram no recinto sagrado, gritando: “Onde está o arcebispo? Onde está o traidor?”. O santo estava apoiado a uma coluna, e respondeu: “Aqui me tendes. Sou o arcebispo, mas não traidor”. Um dos quatro facínoras, para fazê-lo sair do templo, gritou-lhe: “Salva-te!”. Agarrando-se mais fortemente à coluna, ele respondeu: “Consuma aqui mesmo teu crime. Mas eu te proíbo, da parte do Todo Poderoso, de maltratar quem quer que seja dos meus”.
O primeiro golpe o atingiu ligeiramente na cabeça, mas quase cortou o braço de um de seus clérigos, que portava a cruz arquiepiscopal. Outro golpe abriu-lhe uma brecha na cabeça, e ele caiu de joelhos banhado em seu sangue, exclamando: “Morro voluntariamente pelo nome de Jesus e pela defesa de sua Igreja”. Outros golpes se seguiram, e o Santo entregou sua alma a Deus aos 53 anos de idade e nove de episcopado, dos quais dois terços foram passados no desterro.



Penitência, canonização, devoção ao mártir.
O hediondo crime horrorizou não só a Inglaterra, mas toda a Europa. Cheio de espanto, o rei encerrou-se em seu palácio, permanecendo sem falar com ninguém durante vários dias. Depois compareceu como peregrino e penitente ante o túmulo do santo, onde se submeteu a severa flagelação diante dos bispos, abades e monges. Passou depois em oração o resto desse dia e a noite seguinte. A conversão de Henrique II foi vista como o primeiro milagre de São Tomás Becket.
A canonização se deu dois anos depois de sua morte. Os milagres operados diante do túmulo foram se multiplicando: doentes, cegos, surdos, mudos, paralíticos, encontravam remédio junto ao corpo do mártir. Num espaço de tempo extraordinariamente breve, a devoção ao arcebispo-mártir difundiu-se por toda a Europa, de maneira a tornar o santuário de São Tomás Becket um dos mais famosos de toda a Idade Média, junto com o de Santiago de Compostela.


































sábado, 28 de dezembro de 2013

São Gaspar de Búfalo, Presbítero e Fundador dos Missionários do Preciosíssimo Sangue- Apóstolo da Devoção ao Preciosíssimo Sangue de Jesus


São Gaspar de Búfalo, presbítero e fundador. 
Gaspar de Búfalo nasceu em Roma no dia 6 de janeiro de 1786. Seus pais — Antonio, chefe de cozinha da família Altiere, e Anunciata Quartieroni — eram excelentes católicos. Como nasceu com a saúde muito delicada, sua mãe obteve que fosse crismado com um ano e meio de idade. O menino esteve várias vezes a ponto de morrer. Anunciata recorreu então a São Francisco Xavier, pedindo-lhe a cura do filho. Tendo sido milagrosamente curado, Gaspar teve até o fim da vida profunda devoção ao Apóstolo da Índia e do Japão, que se tornou o patrono da congregação religiosa que ele fundaria mais tarde.



“Candor de alma, vivacidade de espírito”.
Gaspar demonstrou desde cedo inclinação à virtude e horror ao pecado. “Admirava-se nele o candor de sua alma, a vivacidade de seu espírito, sua amável timidez, seu caráter franco e aberto, sua modéstia, sua amabilidade e sua perfeita obediência a seus pais”. (1) Tinha horror ao pecado, mesmo ao venial, pois julgava acertadamente que, sendo uma ofensa a Deus, mesmo em matéria de menor gravidade não deixava por isso de ser ofensa.
A mãe incutiu-lhe ardente devoção à Santíssima Virgem e a São Luís Gonzaga. O menino costumava reunir a seus amiguinhos em torno de uma imagem da Mãe de Deus, para louvá-la com orações e cânticos. A Ela recorria frequentemente para suplicar que lhe desse controle sobre suas más inclinações, principalmente sua tendência à cólera. Gaspar teve também, desde pequeno, um amor heroico aos pobres e miseráveis.

Mereceu o epíteto de “Pequeno Apóstolo de Roma”
Aos 12 anos Gaspar foi matriculado no Colégio Romano, recebendo a primeira tonsura. Alguns anos depois, também precocemente, receberam as quatro ordens menores.
Foi então encarregado da instrução catequética na igreja de São Marcos. A dedicação e eficiência com que se desempenhou do cargo foi tal, que lhe mereceu o epíteto de o “Pequeno Apóstolo de Roma”. Por isso, ao completar 19 anos, foi nomeado presidente da recém-instituída Escola Catequética de Santa Maria Del Pianto.
Gaspar costumava reunir certo número de jovens para dedicar-se com eles à vida de piedade. Exortava-os sempre a progredir na vida espiritual e no amor à Igreja.
         Em 1807 foi-lhe concedido um canonicato em São Marcos. E no ano seguinte – com dispensa, pois tinha apenas 22 anos de idade – recebeu a ordenação sacerdotal.

Arquiconfraria do Precioso Sangue

         Às noites, por meio de reuniões, Gaspar começou a ocupar-se em São Marcos com os homens da vizinhança, após ter-se dedicado durante o dia às crianças que se preparavam para fazer a Primeira Comunhão. Obtinha esmolas para vestir nesse dia solene as que eram pobres. O tempo que lhe restava empregava-o em pregar nos subúrbios pobres de Roma, incitando todos a uma reforma de vida.

Divulgador da Devoção ao Sangue de Jesus (estátua)

Foi companheiro de Vicente Strambi nas missões, o qual o definia como “terremoto espiritual”. O povo o chamava de “anjo da paz”, devido suas pregações serem pacíficas e caridosas. 
O Papa João XXIII definiu-lhe como: “Glória toda resplandecente do clero romano, verdadeiro e maior apóstolo da devoção ao Preciosíssimo Sangue de Jesus no mundo”. Em 1810 uma piedosa religiosa dizia que surgiria um zeloso sacerdote que sacudiria o povo da sua indiferença, mediante a propagação de devoção ao Precioso Sangue.
         Tomou então como diretor espiritual ao Padre Francisco Albertini, pároco de São Nicolau in Cárcere, também na Cidade Eterna, e depois bispo. Profundamente entristecido pelas misérias espirituais e temporais causadas pela nefanda Revolução Francesa, o Padre Albertini reuniu em sociedade todos os que estavam dispostos a meditar frequentemente na Paixão de Cristo oferecendo ao Eterno Padre o Sangue de seu Filho em expiação dos próprios pecados, pela conversão dos pecadores, pelas necessidades da Igreja e pelas almas do Purgatório. São Gaspar assistiu-o nessa iniciativa, nascendo assim a Arquiconfraria do Preciosíssimo Sangue.

“Non posso, non debbo, non voglio”
 No auge de sua ambição, Napoleão Bonaparte fez-se coroar imperador dos franceses em 1804. Muito favorecido pelas armas, tornou-se senhor da Europa, julgando-se acima de tudo e de todos, tanto na ordem temporal quanto na espiritual. Já havia obrigado o Papa Pio VII a estar presente em sua coroação. Mas não o considerava senão um joguete em suas mãos. Por isso, em carta ao Príncipe Eugênio, que como vice-rei governava Milão em seu nome, “o Corso” escreveu em 22 de julho de 1807: “Qualquer Papa que me denunciasse à Cristandade, cessaria de ser Papa aos meus olhos. Eu o olharia como o Anticristo”.
Ele chegou mesmo a escrever ao Papa: “Vossa Santidade é o soberano de Roma, mas eu sou seu Imperador. Portanto, todos os meus inimigos têm que ser os vossos”.
O relacionamento entre o Papa e Napoleão só piorou quando este quis anular seu casamento com Josefina para casar-se com a arquiduquesa Maria Luísa d’Áustria.
Depois de muitos agravos recebidos do tirano – a invasão de Roma, inclusive – Pio VII acabou por excomungá-lo. Na noite de 05 para 06 de julho de 1809, “o Corso”, furioso, mandou aprisionar o Papa e alguns cardeais.
Tendo já anexado ao Império os Estados Pontifícios, Napoleão exigiu do clero desses Estados um juramento de fidelidade. Assim, em 1810, São Gaspar de Búfalo foi intimado a comparecer diante do general Miollis, representante de Napoleão em Roma, para jurar fidelidade ao imperador. O santo respondeu com as palavras que se tornaram célebres: “Non posso, non debbo, non voglio”. O general o ameaçou então com o exílio. Como pai verdadeiramente cristão, Antonio de Búfalo, que estava junto ao filho, respondeu que preferia ver seu filho cortado em pedaços que faltar a seu dever.
Depois de uma segunda recusa, São Gaspar foi encarcerado e levado de prisão em prisão, até a queda de Napoleão em 1814.


Fundação da Congregação do Preciosíssimo Sangue
 Ao retornar a Roma, Gaspar pensou em ingressar na Companhia de Jesus, então restabelecida. Entretanto, Pio VII – que também retornava do exílio –, angustiado pelo calamitoso estado espiritual existente, sobretudo de Roma e dos Estados Pontifícios depois dos anos das guerras e desordens napoleônicas, desejava que neles se realizassem missões. Escolheu então São Gaspar de Búfalo e outros zelosos sacerdotes para essa obra, cedendo-lhes para se reunirem o convento de São Felix, em Giano.
São Gaspar fundou então, no dia 15 de agosto de 1815, uma congregação de sacerdotes seculares para pregar as missões e difundir a devoção ao Preciosíssimo Sangue. Seus membros não fariam os três votos religiosos, mas uma promessa de “não deixar a comunidade sem permissão do superior legal”.
Apóstolo da Devoção ao Sangue de Cristo

Sua fama como pregador difundiu-se por toda a Itália, porque ele tinha um talento prodigioso para expor a palavra divina. O povo o chamava de “o Santo”, “Apóstolo de Roma” e de “Martelo dos carbonários” (a franco-maçonaria italiana). Poucos podiam resistir à força e unção de suas palavras. Só na cidade de Sanseverino, por exemplo, 50 sacerdotes não foram suficientes para ouvirem confissões depois de sua missão.
São Gaspar pregava para todos, não escolhendo lugar nem pessoas. Por exemplo, ele foi até os antros dos famosos “briganti”, escondidos nas montanhas, pregar-lhes a doutrina da salvação. E o que se viu foi uma multidão deles depor suas armas aos pés do santo depois de o ouvirem.
O Papa Leão XII recorreu a Gaspar de Búfalo devido à proliferação do banditismo, o qual, conseguiu amansar os mais temíveis bandidos. Com estas armas da paz e da caridade conseguiu conter os bandidos que proliferavam nas periferias de Roma
Entretanto, esse ato heroico de caridade excitou a ira de alguns oficiais, que lucravam com o banditismo por meio de propinas e conluios. Estes “sem Deus” ousaram denunciá-lo ao Papa Leão XII, que se impressionou com as denúncias. Tanto mais quanto o Pontífice já tinha objeções ao nome da congregação – “Preciosíssimo Sangue” – que julgava uma novidade. São Gaspar de Búfalo foi então intimado a explicar-se em sua presença, enquanto o Padre Betti justificava o nome da congregação com argumentos das Sagradas Escrituras e dos Padres da Igreja. Após ouvi-los, Leão XII exclamou: “De Búfalo é um anjo”. E a Congregação encontrou livre trânsito na Igreja.

Cavaleiros do Preciosíssimo Sangue

É interessante notar que a devoção ao Preciosíssimo Sangue não era inteiramente nova. Havia várias arquiconfrarias a ele dedicadas na Espanha no século XVI; e em 1608 o duque de Mântua, Vicente de Gonzaga, já fundara em seus domínios uma ordem militar do Preciosíssimo Sangue, cujo objetivo era proteger uma sagrada relíquia do Preciosíssimo Sangue.
A aprovação de Leão XII não acalmou os inimigos do santo. A pretexto de promoção, quiseram afastá-lo, enviando-o como internúncio ao Brasil. Mas ele se recusou. Outra tentativa foi feita junto ao Papa Pio VIII em 1830. Este chegou a suspender o santo de suas funções e ameaçou extinguir sua congregação. Mas sua heroica humildade prevaleceu de novo e a suspensão foi levantada.

A congregação começou a florescer com casas em Giano, Albano e, apesar de muitas dificuldades, no Reino de Nápoles; depois, na Alsácia, na Baviera, chegando até a Índia.
Em 1834, junto com a venerável Maria de Mattia, São Gaspar fundou o ramo feminino de sua congregação, as Irmãs da Adoração do Preciosíssimo Sangue.
Finalmente, em 1836, sua saúde sempre frágil começou a declinar a olhos vistos. Mesmo assim ele continuou seu apostolado. Indo a Roma atender às necessidades dos empestados durante a terrível peste que se abateu sobre a Cidade Eterna, foi atacado pela moléstia, falecendo no dia 28 de dezembro de 1837.
Faleceu em Roma a 28 de dezembro de 1837, em um quarto em cima do Teatro Marcelo, São Vicente Palloti, seu contemporâneo, teve a visão de sua alma que subia ao encontro de Cristo, como uma estrela luminosa. A fama de sua santidade não demorou a atingir o mundo todo.
São Gaspar de Búfalo foi beatificado pelo glorioso São Pio X em 1904, e canonizado por Pio XII em 1954. Sua festa é celebrada em 02 de janeiro.



São Gaspar em êxtase: dom da levitação


São Gaspar: grande apóstolo da devoção ao Preciosíssimo Sangue de Cristo.